Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roni...

Roniquito

rio roniquito boemia lapa scarlet moon
Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roniquito, fã de música clássica e de William Faulkner, falava fluentemente inglês e francês. Sóbrio ele era um gentleman. Mas quando bêbado (e isso acontecia quase diariamente) tornava-se bélico.

Roniquito (Ronald Russel Wallace de Chevalier) ▪ Fonte: FqP
Quando morei no Rio de Janeiro no começo dos anos 70, era o único pirralho (18 anos de idade) que frequentava os locais da boemia carioca sem tomar uma gota sequer de álcool, somente para ouvir da mesa vizinha as histórias dos meus ídolos do Pasquim. Muitas vezes fui ao "Degrau", ao "Antônio's" e a outros bares e restaurantes cariocas que sabia serem frequentados por Jaguar e sua turma. Foi ali que descobri Roniquito. O timbre da sua voz era inigualável. E que situações ele criava. Depois de insultar a mais não poder o cartunista Otélio Caçador, o pau cantou. Roniquito era magro, pequeno, frágil. Mas a bebida tornava-o gigante. O cartunista começou a dar-lhe uma surra e quando já estava com o pé no pescoço do derrubado Roniquito, parou e perguntou se bastava ou queria mais. Roniquito, quase morto de apanhar gritou do chão: “Cansou, seu filho da ****?”.

Foi ele o protagonista da mais célebre cena no restaurante Antônio's. Segundo sua irmã Scarlet Moon, no livro “Dr. Roni & Mr. Quito”, uns ladrões invadiram o local e trancaram clientes e garçons no banheiro. Quando saqueavam a caixa registradora ouviu-se lá do banheiro a inconfundível voz de Roniquito: “Rasguem os vales, rasguem os vales”.

rio roniquito boemia lapa scarlet moon
Scarlet Moon de Chevalier ▪ 1952—2013
Uma vez, cruzou com Fernando Sabino num bar e perguntou-lhe quem escrevia melhor, se era ele, Sabino, ou Nelson Rodrigues. Fernando Sabino gentilmente disse que era Nelson Rodrigues. Roniquito emendou agressivamente; “E quem é você para julgar Nelson Rodrigues?”. Com Antônio Callado fez pior. “Ô Callado, você já leu Faulkner?”. Ante a resposta afirmativa do suave intelectual, sapecou: “Bem, se já leu Faulkner você sabe que é um b****, né?”. Era assim, beligerante.

rio roniquito boemia lapa scarlet moon
No Antônio's Bar, Rio de Janeiro (1960s) ▪ DIR ⇀ ESQ: Marcos Vasconcellos, Nelson Motta, Roniquito, Chico Buarque e Lúcio Rangel ▪ Fonte: Jobim
Morreu um colega de boemia e ele foi ao velório. Sóbrio. Ao chegar lá notou que só duas mulheres estavam velando o morto. Deveriam ser esposa e filha. Achou aquilo terrível e decidiu telefonar para os amigos. Saiu do cemitério e entrou no bar da esquina para fazer os telefonemas. Só que, antes, decidiu tomar uns gorós. Morto de bêbado voltou ao velório sem ter telefonado para ninguém. E aí notou que anteriormente havia entrado no velório errado, porque na capela seguinte estavam todos os amigos bebendo o morto ao som do violão tocado pelo Delegado Melo Morais, tio de Vinicius. Cumprimentou todos, voltou ao local originalmente visitado por engano onde continuavam somente as duas mulheres. Da porta, gritou: “Defuntinho de m**** esse de vocês, né?”.

Quando chegava no “Degrau” ou no “Antônio's” e não encontrava nenhum conhecido, gritava: “Lugarzinho cheio de ninguém, né?”.

Nesse mesmo, digamos, estilo, aqui na Paraíba tivemos M.R., mas essa já é outra história.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também