O poeta Augusto dos Anjos imortalizou o tamarindo do Engenho Pau D’árco com versos primorosos. O professor Milton Marques Júnior trouxe para o ambiente da imortalidade das Letras o símbolo desse poeta, plantando uma muda dessa árvore no Jardim dos Acadêmicos, para que o poeta, o professor e o tamarindo estejam juntos, eternizados no recanto mais sublime de nossas letras e artes, que é a Academia Paraibana de Letras.
Deslumbrado pelas poesias universais, quando chegou à casa da imortalidade das letras da Paraíba, o professor Milton manifestou o desejo de homenagear o autor do Eu, plantando a muda de tamarindo, com isso assinalando seu entusiasmo pela paisagem poética de Augusto dos Anjos, que constrói quietude e transforma a alma.
Quando pela primeira vez estive perto dessa centenária árvore, no antigo Engenho Pau d’Arco, há mais de trinta anos, recordei como seriam as tardes do poeta à sua sombra. Se, à época, nem todos compreendiam o gesto do poeta, recostado ao tronco do tamarindo, certamente, muitas vezes esparramou seu olhar ao mundo das metáforas para edificar majestosos poemas que integram a literatura universal.
Estando eu ainda no frescor das inquietações da juventude, a poesia de Augusto, pouco a pouco, comoveu-me e maravilhava-me mesmo não entendendo sua força e profundidade ao falar dos fantasmas da alma e da condição humana. Tantas vezes sem entender suas ideias, como a maioria dos leitores iletrados, conservava seu livro às mãos como algo prazeroso.
Poeta desprezado pela crítica da época, a poesia e seus devaneios não sucumbiram porque foram abarcados pelo povo, como eu, leitor que frequenta os aceiros das leituras.
Nossos olhos se umedeceram e o coração ficou confrangido de desgosto ao tomar conhecimento de que o centenário tamarindo definhava, mas felizmente a árvore matriz continua acenando para toda a várzea e agora tem um pouco de sua sombra no jardim dos imortais escritores.
O professor-poeta presenteou-nos com pedaço da intimidade de Augusto, resgatando das ruínas do tempo guardadas nos versos, para lembrar que Augusto, sentado à sombra, espalhava seu olhar ao universo da poesia, revelando a dor que era de todos. Essa tamarineira, símbolo da poesia paraibana, que encantou ao poeta e enche nossa imaginação, agora está ainda mais perto de nós, crescendo sob o olhar de guardiões das letras e das artes.
Estaremos recordando o poeta ao contemplar o tamarindo que cresce lentamente no jardim da Academia, abrindo suas folhas como versos que irrigam nosso viver.