Ela se encantava com o rosto de uma atriz que aparecia na telinha
da tevê. Deixava tudo que tinha a fazer e se postava na poltrona, a olhar a jovem que estava representando por trás do vídeo.
O marido chegava cansado, entrava no banho, cantava seu bolero, vinha à mesa, punha o café e ela entretida com as cenas nem o percebia. Os olhinhos cravados na imagem, procurava imitar o sorriso, os gestos, uma moganga em repuxar os lábios. Um treino diário de que não abria mão, jamais, cada santo dia.
O marido chegava cansado, entrava no banho, cantava seu bolero, vinha à mesa, punha o café e ela entretida com as cenas nem o percebia. Os olhinhos cravados na imagem, procurava imitar o sorriso, os gestos, uma moganga em repuxar os lábios. Um treino diário de que não abria mão, jamais, cada santo dia.
Logotype
Quase sempre era Otílio, a segurar o pacote de pão fresquinho. Genival falava aos berros para que sua voz chegasse aos tímpanos do amigo. Este era surdo. Quem não estivesse acostumado pensaria numa discussão acalorada.
“Cidinha sempre na mania dessas babaquices. Nem notou minha chegada”. O outro, cofiando a barbicha, dava um sorrisinho mofado, inconformado com a paciência do pobre amigo capaz de suportar a mania da mulher. Calava um segredo.
No último capítulo, Cidinha se assoava com saudade da atriz. “Por que chorar, mulher? ”Você é uma pedra, não tem emoção” - respondeu, o rosto afogueado, as lágrimas fartas.
No dia seguinte, ao chegar, cansado do trabalho, Genival teve uma desagradável surpresa: a mulher, diante do espelho do guarda-roupa, tentava imitar a atriz. Virou-se para o marido:
Yunusova Nastasya
Emudecido pelo inusitado quadro, o homem deu um muxoxo, chutou a cadeira, foi cantar o bolero sob o chuveiro.
Não durou muito, Cidinha deixou um bilhete para Genival, dizendo que iria a São Paulo. Encontrara sua vocação de estrela.