Não tanto por sua amplidão, mas sobretudo pela diversidade das temáticas e densidade impressa em trabalhos muitas vezes intrigantes ou incompreensíveis, estudar a obra de Alberto Lacet não é uma tarefa fácil. Ainda mais na instância em que Topos e Ethos parecem trilhar caminhos inseparáveis, e a compreensão demanda a criação/incorporação de novos conceitos e/ou tomada de novas perspectivas da parte de quem observa sua obra.
Simon Schama Rex
Assim, na formatação do objeto de Arte, o dado espacial identifica quais estímulos visuais foram transmissores da plenitude que, por sua beleza, motivou a satisfação do artista em seu olhar para o mundo. E aqui, miramos justamente neste sentido, em que a perspectiva de um montanhês em muito difere da do povo da planície, pelo diferencial básico residente nos ângulos e enfoques da perspectiva. Fatores, a nosso ver, determinantes para uma observação mais certeira da obra de Alberto Lacet.
Fig. 51Alberto Lacet
Esta perspectiva vai conformar a percepção do montanhês e como ele absorve a experiência mundana. Segundo o sociólogo Georg Simmel, esta condição topográfica determina a ‘Forma’ como ele consegue introjectar noções estéticas emanantes do seu mundo natural. Foi justamente baseado na estética que Simmel fundamentou a sua teoria da forma, num conceito a priori ordenador de situações e particularidades observáveis.
Desta maneira formam-se traços comuns entre montanheses, como a combinação singular de conservadorismo e gosto pela liberdade, da rudeza de comportamentos quando estão entre eles, a ligação apaixonada com o solo, que ajuda a criar entre eles uma ligação de força extraordinária. E a intensidade dessa ligação traz características que se exprimem, ao mesmo tempo que criam relações estabelecedoras de fronteiras. Nessas fronteiras residem os traços do estranhamento do ‘outro’. Para a obra de Lacet, o palpite é que nasce daí a sua formação estética e singularidade, bem como o sentido de estranhamento que a sua Arte, junto com uma inerente beleza, produz.
Mesmo nos casos em que uma determinada figura está de frente, como na Fig. 73, em que uma menina se mantém com um olhar perscrutador, interrogativo, temos alguém que se coloca na fronteira, do outro lado.
A Fronteira, ou limes é uma manifestação psico-social decorrente da sensibilidade tempo\espacial. Entre os aldeões montanheses há uma percepção profunda, intuitiva, da
Alberto Lacet Acervo da autora
No trabalho de Lacet, porém, o sentido poético da cor através de transparências e linhas de intersecção, pretende a tudo relativizar, interiorizar, sintetizar e trazer refinamento para o Logus da linguagem.