Prefiro fazer um jardim para todos do que somente para uns poucos! (Burle Marx)
Os mais antigos, não dispondo dos modernos meios de comunicação, como telefone, e-mails, zap, utilizavam-se sempre do gênero epistolar para se comunicar com os parentes, amigos. Se esse hábito anda esquecido, os escritores ainda se utilizam desse recurso literariamente. “O afetuoso livro das cartas” (Ideia, 2015), de Dôra Limeira, é um bom exemplo da presença desse gênero na literatura.
Rosa Freire d'Aguiar reuniu em livro a correspondência intelectual de Celso Furtado dos anos 1949 a 2004 e publicou em 2021 mais de 300 cartas escritas pelo economista para
Ler cartas de escritores para outros escritores é uma maneira de se adentrar no pensamento do missivista e conhecer um pouco da sua história. Essas cartas podem ser reais ou fictícias. As de Dôra Limeira para o primo Nomar e as de Celso Furtado para intelectuais, professores, pesquisadores, são cartas reais, mas nem sempre isso ocorre, há cartas endereçadas a pessoas que já não estão entre nós, cartas para um amigo ou amiga inexistente. O mundo epistolar é diversificado.
Ao ler o livro Querido Burle Marx, de Renata Bueno (Edições Barbatana, 2024) me lembrei de inúmeros livros que li de correspondência, como as de Graciliano Ramos para a mulher Heloísa, as de Mário de Andrade para Henriqueta Lisboa, as cartas de Saint- Exupéry para sua mãe e as de Celso Furtado, lidas mais recentemente. No Museu José Lins do Rego, no Espaço Cultural, é possível pesquisar a correspondência ativa e passiva de José Lins do Rego para Gilberto Freyre, Thiago de Mello, Graciliano Ramos.
Renata Bueno
@renatabueno.art.br.
@renatabueno.art.br.
A espontaneidade e a leveza do texto se faz presente desde o início do livro, afinal as cartas procuram atingir o público juvenil, trazer informações sobre Burle Marx, conhecer um pouco de seu trabalho de paisagista e de homem integrado à natureza.
A personagem começa se identificando logo nas primeiras cartas e diz:
Meu nome é Flora e adoro cozinhar, pintar, cantar, mas o que eu mais amo mesmo são as plantas.
Descobri que o senhor conversa com elas...
Descobri que o senhor conversa com elas...
É verdade que o senhor conheceu estufas com plantas brasileiras na Alemanha?
(...)
(...)
E vem a constatação:
Seus jardins são feitos de cor e de luz.
Sítio Burle Marx Halley Pacheco de Oliveira
Flora, como Burle Marx, não é indiferente aos problemas sociais que atingem a humanidade e confessa:
Sabe, senhor Burle Marx... Acho que você é um homem-planta. Pelo menos em mim plantou o sonho de um país mais democrático.
Folhas de papel vegetal aparecem entre as páginas do livro para dar mais relevo e beleza às ilustrações coloridas. Pode-se dizer que é um livro feito com “muito esmero e carinho”.
Querido Burle Marx Editora Barbatana
Nas últimas páginas, encontram-se duas cartas, uma de Renata, a autora do livro, para a personagem Flora, e outra de José Tabacov, arquiteto e paisagista, que foi sócio de Roberto Burle Marx por 17 anos, também dirigida para Flora. Conhecendo muito bem Burle Marx, Tabacov faz algumas revelações sobre o paisagista. Diante dos Praça da Independência (J. Pessoa)
Milton Bridi
Milton Bridi
Muitas plantas espalhadas por parques e jardins do Brasil foram trazidas por Burle Marx da floresta amazônica, entre elas a Couroupita guianensis, popularmente conhecida por “abricó de macaco”. Na Praça da Independência, no bairro de Tambiá, encontram-se vários pés dessa planta que, durante certa época do ano, enfeita a praça com o bonito colorido de suas flores.
Um esclarecimento. A Praça da Independência não foi projetada por Burle Marx como se apregoa, ela foi construída em 1922 para marcar o centenário da Independência do Brasil. O projeto foi do arquiteto Hermenegildo Di Lascio, confirmação que tive do também arquiteto Germano Romero.