As redes sociais praticamente foram transformadas em expositores, para observar a vida do outro e ser observado. Para alguns, existe a necessidade de se tornarem visíveis, apesar de permanecerem sozinhos e com a dificuldade de cuidarem de si mesmos. O mau uso das mídias tecnológicas pode gerar uma dependência obsessiva compulsiva, que tem como consequências, entre outros males: aumento da ansiedade e depressão; problemas de sono; falta de concentração; deficiências de aprendizagem; incentivo ao consumo exagerado; intensa necessidade de aprovação e acolhimento; insatisfação com a própria vida; perda do senso crítico e criativo. Esses danos causam o sentimento de culpa por não atender uma respeitosa interação, originando a dor da solidão.
Os sintomas desse mal-estar, bem como o que fazer com a solidão, foram estudados pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896 – 1971). No ensaio A capacidade para estar só, ele analisa essa experiência humana, desde o momento em que o bebê tem que ficar, inicialmente, apenas na presença da mãe.
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Outra pesquisa, influenciada pelo inglês, foi apresentada pela psicanalista austríaca Melanie Klein (1882 – 1960) no Congresso de Copenhague, em 27 de julho de 1959. Seu artigo, intitulado Sobre o sentimento de solidão, explica o funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, iniciando com o nascimento e terminando com a morte. Em sua tese principal, Klein afirma que todos os problemas emocionais — como neuroses, esquizofrenias e depressão — são analisados a partir dessas duas posições. Na análise kleiniana, não basta trabalhar os conteúdos reprimidos. É preciso equacionar as ansiedades depressivas e as manias de perseguição. Também é necessário que o paciente perceba que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo.
Melanie Klein inicia o artigo afirmando que o sentimento de solidão independe das circunstâncias externas e surge como uma semente silenciosa que cria raízes, não pode ser arrancada e tende a dominar o indivíduo por completo, gerando ansiedades e angústias patológicas; ou pode ser cultivado, ao ponto de possibilitar situações saudáveis, ativando o estado criativo.
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“Estou me referindo ao sentimento de solidão interior - o sentimento de estar sozinho independentemente das circunstâncias externas; de se sentir só mesmo quando entre amigos ou recebendo amor” (KLEIN, 1996, p.341).
Nesta contemporaneidade, o mercado de consumo e as redes sociais determinam a vida social da maioria dos indivíduos. Há o doentio desejo compulsivo de ostentar. Os valores excludentes da vida privada sobrepõem-se aos que organizam o espaço público. Outro conflito surge quando ser bom pai ou ser boa mãe é dar somente bens materiais aos filhos, porque isso se tornou um falso direito de consumo. Abandonou-se a prioridade de ensiná-los a cultivar, de forma digna, a voracidade das conquistas pelos próprios méritos. Isso é observado no Facebook e, principalmente, no Instagram, onde os indivíduos mantêm o status de falsa realização, que se tornam sintomas de solidão e depressão num vazio que danifica a saúde psíquica.
Percebe-se a procura por uma identificação construída pela imagem que precisa do olhar do outro para existir. Consequentemente, sempre haverá a necessidade desse outro para ser acolhido na insuportável dor da solidão.
O que impede o indivíduo de adoecer de solidão é a habilidade de lidar com esse sentimento, utilizando-o para a própria evolução pessoal, que lhe dá liberdade e desperta o que há de mais criativo no próprio “eu”. Não se trata de descaso com o próximo ou de isolamento proposital como defesa maníaca, mas a procura de uma identidade constituída, pois aprende-se a cuidar de si mesmo, a cuidar dos outros. Klein (1996, p. 352) também afirma:
“A negação da solidão, que com frequência é usada como uma defesa, provavelmente atrapalhará boas relações de objeto, em contraste com uma atitude na qual a solidão é realmente vivenciada”.
Dedicar-se às artes, viajar, escrever, compor, ler algo interessante ou até mesmo ficar no quarto ouvindo músicas por horas são alguns exemplos em que contribuem para o indivíduo se encontrar consigo mesmo e aproveitar os benefícios de estar sozinho.