O mito grego reflete a visão trágica que seus autores tinham da existência. Diversos relatos mitológicos mostram que, por mais que algu...

A vida é uma tragédia?

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O mito grego reflete a visão trágica que seus autores tinham da existência. Diversos relatos mitológicos mostram que, por mais que alguém fosse belo, forte ou inteligente, o destino sempre impunha limites inescapáveis e, muitas vezes, cruéis.

Prometeu rouba o fogo dos deuses para ajudar os homens e acaba condenado a ter o fígado devorado diariamente por uma águia, sendo punido por agir com bondade. Nióbe, orgulhosa dos próprios filhos, desafia a deusa Leto e vê cada um deles ser morto, sendo transformada em pedra, punida por sua hybris, ou arrogância.

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Orfeu consegue permissão para trazer a esposa de volta do submundo, mas perde tudo ao olhar para trás, numa narrativa em que a vida humana aparece como condenada a um fio de esperança sempre seguido por uma perda irreversível.

Édipo, mesmo tentando evitar a profecia, acaba matando o pai e casando com a mãe, numa tragédia que expõe a inevitabilidade do destino, que vence até a virtude e a prudência.

Medeia, traída por Jasão, mata os próprios filhos para castigá-lo. Sísifo é condenado a empurrar eternamente uma pedra montanha acima, numa sentença que ilustra o absurdo e o cansaço infinito da vida; uma metáfora para o esforço humano sem fim e sem sentido.

Tântalo foi condenado à fome e à sede eternas, com comida e água sempre fora do alcance, numa demonstração da frustração e da punição a que os homens estão sujeitos.

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Aquiles, mesmo sendo um semideus, tem seu destino selado pela morte certa. Hércules, o maior dos heróis, é submetido a doze trabalhos exaustivos como forma de expiação. Sua vida é marcada por dor, loucura e perda, mostrando que nem a força incomparável livra alguém da tragédia.

Ifigênia foi sacrificada pelo próprio pai, Agamenon, apenas para que os ventos soprassem e a guerra pudesse acontecer, revelando como a vida humana podia ser vista como algo pequeno diante dos caprichos divinos e das ambições humanas.

Esses relatos, como tantos outros, mostram um mundo onde o destino é inescapável, a dor é parte constitutiva da existência e a vida humana está sempre vulnerável ao sofrimento e à perda.

Para os gregos, viver era caminhar entre forças maiores que o indivíduo: deuses caprichosos, destino inevitável e paixões capazes de arruinar qualquer felicidade.

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Ao adotar a cultura grega como uma de suas fontes, o mundo ocidental abraçou aspectos dessa concepção trágica. Hoje, porém, a cultura e a literatura ocidentais carregam apenas um “faseamento” desse trágico grego.

Seus autores assumiam plenamente a dimensão trágica da existência: o destino inevitável, a culpa sem intenção, a ambição que conduz à queda, a violência como parte do jogo político e a afirmação do poder como virtude legítima — algo que os próprios sofistas expunham sem pudor, valorizando a força, a eficácia e a vitória como critérios de excelência.

Afirmavam abertamente a busca do poder, a eficácia do discurso e o uso da força para destruir os inimigos, numa visão que não se disfarçava sob outros ideais, mas que era proclamada como expressão natural da vida humana. Nada disso era escondido: era dito, pensado e praticado como parte natural da existência.

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No entanto, quando o cristianismo se tornou dominante no Ocidente, esse núcleo trágico deixou de ser afirmado abertamente. A violência, a ambição, a força e a astúcia política passam a ser vistas não como expressões naturais da vida humana, mas como vícios ou pecados. O trágico é mantido, mas reinterpretado à luz de categorias como queda, pecado e culpa moral.

O Ocidente preservou o trágico, mas o fez sob uma forma domesticada. A produção cultural ocidental tentou conservar a estrutura trágica grega — seu conflito, limite, queda, sofrimento — mas sem assumir diretamente esses valores, como os gregos faziam.

Os gregos celebravam o destino inevitável, a força cega dos acontecimentos. Não escondiam esses elementos; assumiam-nos com honestidade radical. Após a fusão entre a herança grega e o cristianismo, essa sinceridade brutal se perdeu. A cultura ocidental, já modelada pela moral religiosa, preservou uma estrutura trágica maquiada. As forças cegas do destino foram reinterpretadas dentro de uma nova estrutura moral; a ação humana tornou-se objeto de vigilância institucional; e a antiga afirmação do poder foi recoberta por discursos de humildade e virtude que não correspondiam a uma prática real. Assim, o trágico permaneceu, mas envergonhado, filtrado e moralizado.

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Além da adulteração da verdadeira natureza do trágico grego, outro ponto precisa ser ressaltado: a mensagem original de Jesus não tem a ver com a moralidade servil que lhe impingem. Jesus nunca propôs obediência cega a regras externas, mas autonomia, coragem interior e responsabilidade pessoal. Ao dizer “a cada um segundo as suas obras”, Jesus desloca o foco da religião para a consciência: já não é a posição social, o ritual ou a norma que salva, mas o que cada um faz com sua liberdade. Trata-se de uma ética do sujeito, não da submissão.

O chamado de Jesus exige decisão, risco, enfrentamento; não é para fracos ou acomodados. Sua proposta exige que cada pessoa responda por si mesma diante da vida, assumindo as consequências de suas ações. Nietzsche, apesar de crítico feroz do cristianismo institucional, reconheceu essa autenticidade profunda, vendo em Jesus um espírito livre, alguém que viveu coerentemente o que ensinou e que se manteve fiel a uma verdade interna, não a um poder externo.

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É justamente essa autenticidade que aproxima o núcleo da mensagem cristã da lucidez trágica grega. Ambos exigem que o ser humano enfrente a vida tal como ela é: cheia de riscos, consequências e responsabilidades inevitáveis.

A diferença é que Jesus acrescenta a possibilidade da Graça e da transformação, sem abolir a responsabilidade pessoal. A vida tem limites, mas a consciência pode se refazer; há destino, mas também liberdade moral. A tragédia tem seu lugar, mas não se esgota no desespero.

A religião formal, com suas regras, hierarquias e mediadores, acabou apagando essa força interior e substituindo a autonomia por obediência.

Enxergar a mensagem cristã como uma religião dos “fracos” é interpretá-la a partir de suas deturpações e das estruturas de poder que foram construídas a partir da sua negação, e não por seu núcleo ético. Recuperar Jesus é devolver à cultura sua verdadeira densidade trágica, onde a vida possui consequências reais, onde não há fuga da responsabilidade, onde cada ação semeia um destino e onde a coragem — não a submissão — define a autenticidade humana. Nesse sentido, o Evangelho não nega a tragédia grega: ele a radicaliza no plano da consciência. O que precisa ser superado não são as forças externas, mas a mentira interna, a covardia moral, a fuga da responsabilidade.

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A tragédia continua sendo o solo da existência; o cristianismo autêntico apenas devolve ao indivíduo a tarefa de atravessá-la com consciência, liberdade e fidelidade a si mesmo.

O trágico que domina o cenário cultural atual, diferente do trágico grego, é uma caricatura empobrecida da concepção original, assim como a imagem que a cultura acadêmica, artística e midiática fazem da mensagem cristã é uma distorção do Evangelho autêntico. Em ambos os casos, perdeu-se o núcleo vivo e exigente que tornava essas tradições fontes de vigor e criação.

A tragédia grega original não era uma estética do sofrimento vazio, nem um culto à dor teatralizada. Era uma visão radical da condição humana: a consciência de que a vida envolve destino, limite, risco e consequências inevitáveis. O herói trágico enfrentava forças maiores que ele com grandeza e coragem; sua queda não era mero espetáculo, mas revelação.

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O “trágico” contemporâneo, dominante nas narrativas culturais, é um produto superficial: confunde tragédia com pessimismo, profundidade com niilismo, complexidade com pose. É um trágico de vitrine. Em vez de mostrar a grandeza humana diante do limite, exibe apenas sofrimento banalizado; em lugar de enfrentar o destino, reduz tudo a melancolia narcisista. O herói trágico desaparece; sobra o indivíduo desorientado, que sofre sem compreender, cai sem aprender e lamenta sem assumir responsabilidades. É um trágico invertebrado e sem conteúdo.

O mesmo ocorre com a percepção dominante da mensagem cristã na cultura contemporânea, especialmente a acadêmica e artística, que tende a reduzir a mensagem de Cristo a uma moral opressiva, a uma caricatura institucional ou a um sentimentalismo culpabilizante.

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O trágico autêntico não é o culto moderno ao desespero, assim como a mensagem de Jesus não é a doutrina açucarada condenada pela cultura dominante.

Tal leitura ignora por completo o núcleo original da mensagem de Jesus, que é coragem e autonomia. Ao declarar “a cada um segundo as suas obras”, ele não impõe controle, mas responsabilidade individual.

Jesus não infantiliza; responsabiliza. Não adestra; liberta. E Nietzsche, justamente ele, reconheceu que a grandeza de Jesus está no gesto de viver o que se crê, na autenticidade que dispensa poder e na recusa absoluta de transformar a conduta em um sistema coercitivo.

O Evangelho de Jesus é uma mensagem de liberdade moral radical; o cristianismo institucionalizado é que é o oposto: um sistema que substitui consciência por ritual, autonomia por obediência mecânica, verdade interior por conformidade externa.

A cultura contemporânea, ao criticar esse cristianismo institucional, imagina estar rejeitando Jesus, quando na verdade está rejeitando apenas a caricatura histórica que se formou ao redor dele, numa crítica que atinge a casca, e não o núcleo.

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Vivemos num cenário paradoxal: o ambiente cultural atual afirma celebrar o trágico, mas ignora seu sentido mais profundo; rejeita qualquer forma de “moralização” da arte, mas repele a moral apenas em sua forma degenerada. A cultura dominante perdeu o trágico grego e os valores cristãos autênticos, ao enxergar apenas versões diluídas de ambos: um trágico decorativo e um cristianismo institucionalizado, igualmente incapazes de iluminar a condição humana.

Recuperar a verdade dessas duas dimensões exige abandonar as caricaturas e retornar ao que ambas tinham em comum: a coragem de olhar a vida de frente e assumir o peso da responsabilidade pessoal.

Jesus viveu uma ética de autonomia, autenticidade e responsabilidade pessoal, uma vida sem ressentimento, sem moral servil e sem busca de poder. Sua mensagem era um modo de existir, e não uma doutrina, ritual ou sistema. Posteriormente, transformou-se essa força interior em moral de culpa, ressentimento e obediência burocrática, justamente o oposto do que Jesus viveu e ensinou. Por isso Nietzsche disse que o Evangelho verdadeiro morreu na cruz, sendo substituído por uma “má nova”. Ele reconheceu a grandeza de Jesus como figura ética autêntica, ao mesmo tempo que criticou a corrupção institucional que distorceu sua mensagem.

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No âmbito da literatura, tanto Tolstói quanto Dostoiévski caminham na direção oposta à leitura pós-moderna que tenta transformar o “trágico” grego num pessimismo existencial vazio e, ao mesmo tempo, converter a mensagem de Cristo num moralismo fraco, sentimental ou meramente humanitário. Ambos rejeitam essa falsificação dupla — a da tragédia e a do Evangelho — e propõem algo completamente diferente: uma perspectiva da existência em que a profundidade do sofrimento humano não se perde, mas encontra sentido na força regeneradora do amor cristão.

Tolstói, especialmente em A Morte de Ivan Ilitch e Ressurreição, mostra que o trágico humano não se resolve numa aceitação do absurdo, mas num processo radical de conversão interior, em que a verdade do Evangelho ilumina a dor em profundidade. Ele não tenta repetir a tragédia grega; ao contrário, mostra que a mensagem de Jesus oferece uma verdade que o próprio trágico não pode oferecer: a possibilidade real de transformação moral e espiritual. Ele trata a mensagem de Cristo como força ética e existencial de primeira grandeza, não como ideal romântico nem como fantasia consoladora.

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Dostoiévski, por sua vez, em Os Irmãos Karamázov, Crime e Castigo, O Idiota e Os Demônios, recusa tanto a deturpação pós-moderna que esvazia a tragédia quanto a ideia preconceituosa de que o Evangelho é “alienação” ou “moral fraca”. Ao criar personagens como Aliócha, Zóssima, Sônia Marmieládova e o príncipe Míchkin, ele mostra a potência dramática e transformadora da mensagem de Cristo. Não constrói uma mensagem de negação da dor, mas de redenção através da liberdade plena. Em Dostoiévski, Cristo é a figura sob a qual o trágico humano reencontra profundidade e sentido, não escape. E é por isso que sua obra não copia a tragédia antiga, mas absorve seu núcleo — a dor como revelação — levando-o, porém, a uma culminância teológica.

Ambos, portanto, negam a concepção dominante da pós-modernidade segundo a qual ser profundo é ser desesperado, ou segundo a qual a Grécia ensinaria apenas o niilismo heroico enquanto Jesus traria um consolo sentimental. Eles reconhecem que o drama grego captou a grandeza da condição humana, mas também entendem que o Evangelho não destrói essa visão: ele a completa. Tolstói e Dostoiévski não participam da “danificação” do legado grego nem da distorção acadêmica da mensagem cristã; ao contrário, mostram que a verdadeira força da cultura ocidental nasce da convivência tensa, mas fecunda, entre a lucidez grega e a luz cristã.

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Victor Hugo igualmente participa dessa perspectiva. Ele também reconhece a profundidade do sofrimento humano, mas recusa tanto o pessimismo vazio da pós-modernidade quanto a versão sentimental e enfraquecida do cristianismo. Em Os Miseráveis, mostra que o trágico não é destino final: a dor humana encontra sentido por meio da misericórdia, do perdão e da caridade, forças que nascem diretamente do Evangelho. Como nos russos, o trágico permanece real, mas é superado pelo amor.

Ariano Suassuna, outro autor que se insere nessa visão, mostra que o sofrimento humano é real e radical, especialmente no sertão, mas não é o destino final da condição humana. Em seu universo, a misericórdia divina transfigura a dor sem negá-la.

Em O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, Ariano eleva a tragédia nordestina a um drama espiritual universal, no qual o humor, a miséria e a violência convivem com perdão, compaixão e beleza, rejeitando a estética cultural pós-moderna que confunde desespero com profundidade, defendendo uma visão que ilumina o trágico com sentido — como Caravaggio e Hugo — e que respeita a experiência espiritual do povo.

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A atual cultura dominante resgatou um trágico mutilado, reduzido a um desespero elegante, perdeu a altivez heroica dos antigos e ainda negligenciou a força inspiradora e transformadora do Evangelho.

O fetiche cultural contemporâneo por um “trágico grego” requentado, sombrio, niilista, esteticamente desesperado, tornoutornou-se mais um sintoma de pobreza espiritual.

A literatura atual e grande parte da arte celebram esse trágico adulterado como se fosse sinal de profundidade, quando, na verdade, não passa de uma pose: uma estética da ruína, divorciada do verdadeiro trágico presente em Hesíodo e em Homero.

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Na Grécia clássica, a tragédia era orgânica, nascida do próprio modo como os gregos compreendiam a vida, o destino, os deuses e a fragilidade humana. Era uma expressão legítima de uma cultura que realmente via o mundo como um palco de forças incontroláveis, onde até mesmo os heróis eram arrastados para quedas inevitáveis.

Mas hoje, ao tentar reproduzir essa mesma tragédia, ela se torna apenas uma farsa estética, uma imitação, um eco sem alma.

O mundo moderno não acredita mais nos deuses de Ésquilo, nem no destino implacável de Sófocles, nem na fatalidade que cercava Édipo ou Agamêmnon. Ao procurar reviver essa tragédia, a arte contemporânea produz não autenticidade, mas impostura: um uso artificial da dor, um simulacro dramático que quer parecer profundo, mas carece das raízes espirituais e culturais que davam verdade à tragédia grega original.

A tragédia clássica era filha de uma cosmovisão. Hoje, ela é um recurso estilístico. Uma mania imposta por um tribunal cultural que aprecia a sua estética.

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Quando o ambiente cultural dominante impõe essa sua preferência, o que se vê é a simulação do trágico, uma representação vazia, deslocada, sem o horizonte e o contexto que lhe davam sentido na antiguidade. Na verdade, os gregos não cultuavam o desespero; celebravam a consciência da medida, da responsabilidade, da força interior diante do inescapável. O trágico deles elevava. O atual, faseado, apenas entretém.

Ao mesmo tempo, essa concepção artística pós-moderna atira contra a mensagem cristã e contra quaisquer valores éticos universais como se fossem estruturas de repressão, sem perceber que a crítica que fazem é apenas uma evidente incompreensão da essência da mensagem de Jesus.

Nesse sentido, a cultura dominante, que patrulha a atual produção artística, eivada de condenação aos ensinamentos de Jesus, não promove uma crítica válida e sim um modismo intelectual ao atacar aquilo que não admite, e ao ignorar a profundidade de uma tradição que resgatou, promoveu e sustentou a dignidade humana desde que surgiu.

É fácil ridicularizar valores autênticos, acusando-os de ultrapassados; difícil é criar algo que os substitua.

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É difícil assimilar uma crítica cultural "pós-moderna" que se julga sofisticada, mas que se apoia em caricaturas: uma Grécia que nunca existiu e um cristianismo que traiu a verdadeira mensagem de Jesus. Essa dupla distorção produz uma arte que se vangloria do vazio, que confunde desencanto com lucidez, que troca profundidade por cinismo. Endeusa-se o desespero como se fosse coragem e despreza-se valores como se fossem conteúdos ingênuos. Nesse movimento, a cultura não se torna mais livre, apenas mais ruidosa e menos verdadeira.

Quando a arte perde tanto a grandeza trágica dos antigos quanto a força ética do Evangelho, sobra apenas uma estética de fragmentos, uma glória sem espírito, um brilho sem luz.

O culto ao falso trágico e a rejeição automática dos valores éticos não são sinais de maturidade cultural, mas sintomas de fadiga, a marca de uma época que já não sabe sofrer com sentido nem agir com grandeza.

Se há um caminho para a cultura escapar da superficialidade de produções que se reproduzem em série, ele passa justamente por reencontrar essa altura, onde o sofrimento deixa de ser vazio e a verdade deixa de ser fraca.

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Celebrar os valores propostos por Jesus não é um gesto de proselitismo; é reconhecer a profundidade humana, ética e existencial de um ensinamento que atravessou milênios justamente porque toca a condição mais íntima do ser humano. Jesus não ofereceu uma doutrina fechada, mas uma forma de vida: coragem para enfrentar o sofrimento sem ódio; liberdade interior diante das pressões externas; responsabilidade pelas próprias escolhas; consciência de que cada gesto tem peso; compaixão que não humilha; verdade que não oprime; força que não se confunde com violência. Esses valores não pertencem a uma religião, e sim ao humano em sua melhor expressão.

Por isso, não há motivo para constrangimento algum em sua presença na literatura, na filosofia, na arte ou em qualquer produção cultural. O que Jesus propôs é matéria-prima estética e moral de primeira grandeza: uma visão que recusa a desorientação, a confusão, que transfigura a dor, que dá densidade ao amor, que devolve ao indivíduo sua dignidade ativa, que afirma a possibilidade real de transformação pessoal e coletiva. Negar a legitimidade desses valores por preconceito ideológico empobrece a cultura; reconhecê-los a amplia, aprofunda e eleva.

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Em um mundo que se acostumou à melancolia e ao sarcasmo como sinais de inteligência, os valores de Jesus permanecem como uma das poucas fontes de lucidez vigorosa. Eles rejeitam a falta de sentido, a violência gratuita e o heroísmo teatral; convidam à coragem concreta, ao enfrentamento verdadeiro de si mesmo e ao trabalho silencioso da consciência.

Em tempos de esterilidade cultural pós-moderna, esse é precisamente o motor que a cultura mais precisa: uma força que não diminui a dor, mas a redime; que não nega o trágico, mas o integra; que não apaga a liberdade, mas a afirma até o limite. Por tudo isso, Jesus não é um intruso no campo da arte ou do pensamento ocidentais, é sua melhor fonte. Sua presença não deveria constranger ninguém, porque o que ele oferece não é um dogma, mas uma visão poderosa da dignidade humana. E quando a cultura tem coragem de acolher essa visão sem medo e sem ressentimento, ela reencontra justamente aquilo que perdeu: profundidade, grandeza e propósito.

Para a visão grega antiga, a vida é trágica porque o sofrimento é inevitável e não tem saída. Jesus reconhece a dor, mas lhe dá um sentido, cura as feridas e afirma a esperança.

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Enquanto a tragédia termina no desespero, Jesus transforma o sofrimento em caminho de crescimento e redenção, numa perspectiva nova, que inegavelmente supera até mesmo a concepção trágica original, pois, nele, ninguém está abandonado e nem é um joguete de forças cegas e amorais.

Em Jesus, há sempre amparo porque o amor vence qualquer desafio.

Em seu programa, o apresentador e humorista Jô Soares, ao ler definições de amor escritas por crianças, encerrou com a mais profunda: “Jesus podia ter feito uma mágica e tirado os pregos de Suas mãos, mas Ele não quis, porque nos amou.” Essa visão pura e infantil expressa, com simplicidade, que Jesus não foi uma vítima inerte e passiva de uma tragédia, mas fez uma escolha.

Essa é a superação do trágico pelo amor.

Jesus é o amor que dá sentido e que transforma dor em esperança, por isso não me envergonho de trazê-lo sempre para tudo o que sinto, penso e escrevo

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