Vasos de cristal são belos e frágeis. tão belos e frágeis como o tempo e a felicidade em nossas vidas. Não há necessidade que tenham formato de recipiente para colocar flores. Não, as flores mais belas nascem entre as pedras da rua. Por extensão, ali está o cristal eterno da beleza divina.
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Claro que a memória os guardou em gaveta muito especial. Não bastou. O aqui, o agora, o antes e o depois são frações de algo que não há como definir. temos que sentir.
Por exemplo:
As canções com que minha mãe, de madrugada, enchia o lar, lavando e passando roupa para vivermos, quando havíamos perdido tudo.
O beijo trocado com o meu primeiro namorado, que logo perdi para a morte — aos 17 anos — em desastre, era do mais puro cristal e de todas as cores.
Também era de cristal o riso terno de meu filho enquanto dava os primeiros passos, atravessando a sala da casa em que morávamos. Aqueles ínfimos momentos ergueram o homem que eduquei e que já é pai.
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O cristal quebrou muitas vezes. Não há como consertar...
Hoje, para não cansá-los… lembro - sem ter o dom de saber fazer isso melhor - de que o maior vaso de cristal que temos são a vida e o que — nela — semeamos.
Ao escrever este texto - depois de tanto tempo sem o fazer — lembro que tenho um raríssimo vaso de cristal no sorriso único de meu neto. Só lamento que não o veja desde um ano.
Entretanto, como sabemos, Deus de tudo sabe e o tempo revelará o que importa e o que se esfacela como poeira.
O sorriso de meu pequeno neto está guardado em vaso precioso. A distância mais o aviva e fortalece.