Um dos sinônimos de envelhecer é moderar-se. Por isso desconfie de velho com paixão. A velhice é por natureza resignada e compassiva, atributos esses incompatíveis com o fervor passional dirigido a pessoas, ideias ou times de futebol.
Para designar os verdadeiramente apaixonados por seus clubes usa-se um termo que é limítrofe da demência ou da paranoia – fanáticos. Com eles não tem acordo: ou o seu time ganha ou vence. O chamado torcedor não vai ao estádio por prazer; vai por compulsão, por cobrança. Quem observa o jogo como um evento lúdico ou artístico e está a fim de curtir o espetáculo, não é torcedor. A este só interessa a vitória.
Torcida Organizada Young Flu
Dizem que o autor das Confissões era míope e nem conseguia ver o jogo. Já Zé Lins sofria de verdade pelo Flamengo, com suores, disritmia, pressão alta. Ninguém sabe até que ponto a angústia nos estádios concorreu para que ele um dia adoecesse, e depois morresse, do coração.
Hoje meu entusiasmo pelo futebol é moderado. Terei ficado velho? Por mais que tente não consigo “sofrer” pelo Botafogo, embora, quando ele está jogando, um discreto
Joao Candido
De onde vem a obsessão do torcedor? Há, como se sabe, uma explicação psicológica para ela. O torcedor vai ao estádio para se compensar da vida, que lhe dá bem mais derrotas do que vitórias. Nos melhores momentos lhe concede alguns empates, alternando as amarguras com uns prazeres medíocres que às vezes se confundem com tédio.
Ele tem que ser paciente no dia a dia com as pequenas derrotas não apenas suas, mas de pais, esposa, filhos. Tem que ser complacente com os que ama, sob pena de magoá-los e perdê-los. O time de futebol existe, então, para satisfazer suas fantasias de triunfo. Para, em algum domínio da existência, fazê-lo vencedor. Daí a intransigência com que recusa, no campo, o placar adverso.
Goodfon WP