As duas estações
Ah, nessas horas Queria que minhas palavras Levitassem até você, Num apelo de saudade, Um preito de querer, Mãos que buscam mãos, Em estalidos tão cúmplices, Bocas que buscam bocas, Para resgatar segredos, E guardar outros tantos Para a próxima primavera. Mas, as palavras teimam, Elas não me deixam, Giram em torno de mim, Me cercam de peles, Como se quisessem me aquecer Até a chegada do outono.
Ah, nessas horas Queria que minhas palavras Levitassem até você, Num apelo de saudade, Um preito de querer, Mãos que buscam mãos, Em estalidos tão cúmplices, Bocas que buscam bocas, Para resgatar segredos, E guardar outros tantos Para a próxima primavera. Mas, as palavras teimam, Elas não me deixam, Giram em torno de mim, Me cercam de peles, Como se quisessem me aquecer Até a chegada do outono.
A eternidade em seus olhos
Será ilícito dizer Que eu vi a eternidade em teus olhos? Pois vi, sim, Cristalino e signo de paixão. E se me aprisiona Pelo perpétuo desejo, Também me liberta Por toda vastidão e infinitude. É antes uma revelação Da sina das horas, Do gozo que é fátuo, E do instante que nunca se finda.
Será ilícito dizer Que eu vi a eternidade em teus olhos? Pois vi, sim, Cristalino e signo de paixão. E se me aprisiona Pelo perpétuo desejo, Também me liberta Por toda vastidão e infinitude. É antes uma revelação Da sina das horas, Do gozo que é fátuo, E do instante que nunca se finda.
Aquele encontro
Atroz é a expectativa Daquele encontro. A ansiedade da espera, A tristeza das horas. A esperança de sua voz, Contingências da felicidade. Uma hora e mais outra, Indícios de uma perda, Daquilo que esperava ter. Olhos que não surgem, Vestígios de desencontro. Já não vem, Eis o que mais dói. E quando novamente haverá A possibilidade de novo encontro? Dessa promessa me nutro, Mesmo sabendo que não virá.
Atroz é a expectativa Daquele encontro. A ansiedade da espera, A tristeza das horas. A esperança de sua voz, Contingências da felicidade. Uma hora e mais outra, Indícios de uma perda, Daquilo que esperava ter. Olhos que não surgem, Vestígios de desencontro. Já não vem, Eis o que mais dói. E quando novamente haverá A possibilidade de novo encontro? Dessa promessa me nutro, Mesmo sabendo que não virá.
Balada para Ninza
A fragrância é de pecado E o gosto é de anis. Um corpo que estremece Como uma flor de lis. Uns olhos que tremeluzem, Está agônico o clitóris. É um instante, uma passagem, Aquilo que tanto quis. E então ela pergunta: É isso que é ser feliz? Ah, que breve felicidade, Tão fugaz em seus ardis. Tão intensa quando traz A ilusão de ser feliz. Não demora e logo vai, Aquilo que ela não quis. Já não há mais agonia, Melancólico é o clitóris. Um corpo já não estremece Feito uma flor de lis. Só vestígios de dezembro E esse gosto de anis.
A fragrância é de pecado E o gosto é de anis. Um corpo que estremece Como uma flor de lis. Uns olhos que tremeluzem, Está agônico o clitóris. É um instante, uma passagem, Aquilo que tanto quis. E então ela pergunta: É isso que é ser feliz? Ah, que breve felicidade, Tão fugaz em seus ardis. Tão intensa quando traz A ilusão de ser feliz. Não demora e logo vai, Aquilo que ela não quis. Já não há mais agonia, Melancólico é o clitóris. Um corpo já não estremece Feito uma flor de lis. Só vestígios de dezembro E esse gosto de anis.
Devassa
Quero devassar o teu corpo, Teus tesouros, Tuas lendas, Teu soluço contra a noite, Tua voz, teu silêncio, teu amor. E quero mergulhar em teus olhos, Eu teus sonhos, Tua quimera, Tua espera, Tua sombra contra a areia. Navegar em tuas águas, Em teu mar. Desvendar tua beleza, Cada gesto, Cada mão, Quero crer na tua certeza, Quero perder a razão. Penetrar em teus mistérios, Enigma-paixão.
Quero devassar o teu corpo, Teus tesouros, Tuas lendas, Teu soluço contra a noite, Tua voz, teu silêncio, teu amor. E quero mergulhar em teus olhos, Eu teus sonhos, Tua quimera, Tua espera, Tua sombra contra a areia. Navegar em tuas águas, Em teu mar. Desvendar tua beleza, Cada gesto, Cada mão, Quero crer na tua certeza, Quero perder a razão. Penetrar em teus mistérios, Enigma-paixão.
Poemas do livro Breves relatos da paixão, disponível na Livraria do Luiz.
"Em “O eu e a psicologia das massas”, Freud vai proclamar que, sob o viés da Psicanálise, estar apaixonado é quando se estabelece, necessariamente, a servidão ao outro, quando esse outro já consumiu o seu ego. Freud também vai postular que o objeto amado normalmente guarda identidade com as vivências da infância, e que essa ligação amorosa é a promessa de felicidade plena que, sem ela, não existirá. Daí, esse investimento colossal no amante, que estabelece a sua perda como a maior das dores que, de tão insuportável, pode levar ao aniquilamento, tanto quanto sua memória mais arcaica sinaliza." (Helder Moura)
"Em “O eu e a psicologia das massas”, Freud vai proclamar que, sob o viés da Psicanálise, estar apaixonado é quando se estabelece, necessariamente, a servidão ao outro, quando esse outro já consumiu o seu ego. Freud também vai postular que o objeto amado normalmente guarda identidade com as vivências da infância, e que essa ligação amorosa é a promessa de felicidade plena que, sem ela, não existirá. Daí, esse investimento colossal no amante, que estabelece a sua perda como a maior das dores que, de tão insuportável, pode levar ao aniquilamento, tanto quanto sua memória mais arcaica sinaliza." (Helder Moura)