Patos, Sertão da Parahyba, 11 de abril de 1933. Aos 64 anos de idade, falece, vítima de febre tifóide, Fenelon Fernandes Bonavides, fu...

O jornalista Paulo Bonavides

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Patos, Sertão da Parahyba, 11 de abril de 1933. Aos 64 anos de idade, falece, vítima de febre tifóide, Fenelon Fernandes Bonavides, funcionário do Telégrafo Nacional e encarregado da estação local. A esposa, Sra. Hermínia Fernandes Bonavides, também telegrafista, ficou com a responsabilidade de criar os seis filhos: Abrantina, Aloysio, Annibal, Dirce, Dulce e Paulo, este o mais novo, com apenas oito anos.

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Adelgício Olintho de Mello e Silva
Damião Lucena
Na época, governava a cidade de Patos o prefeito Adelgício Olintho de Mello e Silva, desde março de 1931. A Revolução de 30 promovera uma reorganização nas oligarquias da Parahyba. A deusa fortuna havia mudado seus planos: os Sátyro - aliados do epitacismo e senhores do mando político da cidade durante toda a Primeira República, sob a liderança do Major Miguel Sátyro -, passaram a ser oposição.

Casado com uma filha do Major Miguel Sátyro, Sebastião Fernandes, fazendeiro de médio porte e também funcionário dos Correios, passou a ser alvo do prefeito. Este, num gesto pequeno, de pura perseguição política, interferiu junto ao Ministro da Viação (José Américo) para que o telegrafista fosse removido para Fortaleza, capital do Ceará:

Registre-se que Paulo Bonavides não guardou mágoa do episódio, prestando, inclusive, louvores à pessoa de José Américo de Almeida em um artigo que está reproduzido em Constituinte e Constituição.
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José Américo de Almeida FCJA
A irmã de Sebastião, Hermínia, que também trabalhava nos Correios, resolveu acompanhar o irmão. Viúva, se sentia mais protegida à sombra de Sebastião, uma forma de atender às exigências de uma sociedade patriarcal e tradicionalíssima, algo comum naqueles tempos. Eis a causa de Paulo Bonavides ter vivido em sua terra natal só até os nove anos de idade e depois ter se tornado mais cearense que paraibano.

Em 09 de setembro de 1935, os Sátyro reassumem o poder local. Clóvis, irmão de Ernani Sátyro (deputado estadual constituinte, eleito em 1934), elegeu-se prefeito de Patos, no primeiro pleito municipal presidido pela Justiça Eleitoral.
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Clóvis Sátyro, ex-prefeito de Patos (PB) com longa trajetória na política local, sendo o único a ter exercido o cargo de prefeito em quatro períodos administrativos distintosDamião Lucena
A nova conjuntura política favorável permitiu Sebastião retornar à terra natal. Porém, Hermínia decidiu permanecer em Fortaleza. Sete décadas depois, em entrevista, Paulo Bonavides relembrou o fato:

A raiz da minha transferência e de minha família foi a perda de meu pai em 1933. E também a vinda de um tio meu, irmão de minha mãe – ela também ligada ao telégrafo, como meu pai, que chefia a agência de Patos. Era cunhado de um político na Paraíba, que na época era deputado estadual, o advogado Ernani Sátiro. O prefeito, inimigo pessoal de meu tio, para persegui-lo, conseguiu a transferência dele – na época o órgão era subordinado ao Ministério da Viação. A transferência se deu, passou aqui 3 ou 4 meses e voltou a Patos, reconduzido, porque a situação política se modificou. Minha mãe resolveu ficar em Fortaleza. Meu pai, antes de morrer, já tinha a ideia de se transferir para Fortaleza porque ele queria cursar Direito no Ceará. Então quando meu tio foi transferido, minha mãe pediu para acompanhá-lo. O ministro da Viação, José Américo Almeida, atendeu ao pedido e ela veio. Quando a situação se normaliza no governo da Paraíba minha mãe não quis mais voltar.

No Ceará, a única fonte de renda dos Bonavides vinha dos Correios, onde Hermínia trabalhava, mas a remuneração mal dava para criar os filhos. No início, a família enfrentou muitas dificuldades.

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Demócrito Rocha, fundou e dirigiu o verpertino O Povo, do Ceará, entre 1928 e 1943 ▪ Fonte: @opovo.com.br
Em janeiro de 1938, ainda adolescente, com apenas 13 anos de idade e cursando o quarto ano no Liceu Cearense, Paulo Bonavides leu um anúncio na primeira página de “O POVO”, o jornal mais antigo do Estado do Ceará, fundado em 07 de janeiro de 1928. Bonavides apresentou-se a outro Paulo, de sobrenome Sarasarte, fundador e redator-chefe do periódico. Meio temperamental, Paulo Sarasarte negou peremptoriamente a vaga ao calouro: - Menino, vá para casa! isso aqui não é jardim de infância, não! Demócrito Rocha Dummar, genro de Sarasarte e também fundador do noticioso, interviu: - Paulo... deixa o menino fazer a prova...

Resultado: o jovem candidato passou em primeiro lugar e virou repórter!

Paulo Bonavides estreou nas páginas policiais, municiando o secretário do jornal, José Maria Othon Sidou, com matérias do ramo. Sua rotina incluía a cobertura de suicídios, atropelamentos, visitas às delegacias e ao Instituto Médico Legal.

Nos anos 40, na mesma gazeta, o filho mais novo de D. Hermínia passou a atuar como cronista esportivo e um de seus irmãos, Aníbal Fernandes Bonavides, também trabalhava na área, só que no Correio do Ceará, pertencente aos Diários
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Aníbal Fernandes Bonavides, irmão de Paulo Bonavides, redator do Correio do Ceará e Diário de Pernambuco ▪️ Fonte: @ancestors.familysearch.org
Associados e, tempo depois, tornou-se redator do DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Outro irmão de Paulo, Aloísio Fernandes Bonavides, foi redator de “O POVO” (Fortaleza) e correspondente do jornal O GLOBO, no Ceará.

Em 1941, os irmãos Paulo e Aníbal estiveram no Rio de Janeiro, se hospedaram na sede do Corpo de Bombeiros e chegaram a visitar a redação do DIÁRIO CARIOCA. Na ocasião, Paulo representou a Associação dos Cronistas Esportivos do Ceará. O Diário de Pernambuco registrou o fato.

A relação de Paulo Bonavides com o jornal A UNIÃO começou em outubro de 1941, quando ele esteve no Sertão paraibano preparando uma reportagem sobre a exploração de minério. Na matéria, intitulada “OURO NA PARAÍBA. UM SONHO DE DOIS SÉCULOS QUE SE TRANSFORMARAM EM REALIDADE. A CARTA DE D. MARIA, RAINHA DE PORTUGAL, E A ODISSEIA DE UM GEÓLOGO ARINO. A MINA DE TEIXEIRA E OS SEUS MISTÉRIOS. 2.500 HOMENS NO SERVIÇO DE MINERAÇÃO”, o jornalista de O POVO analisou os efeitos deletérios da cruel seca de 32.

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@tokdehistoria.com.br
Segundo a sua ótica, o fenômeno climático favorecia a exploração da mineração pelos sofridos sertanejos, principalmente os de Patos, Piancó, Pombal e Princesa que, em busca da sobrevivência, se entregavam à febre do ouro. Antes do texto principal, A UNIÃO registrou a faceta jornalística do eminente filho de Patos que, até hoje, permanece desconhecida pela maioria dos paraibanos e juristas em geral:

O autor desta reportagem, escrita para ‘O POVO”, de Fortaleza, é o jovem Paulo Bonavides, sertanejo, filho do município de Patos, que há alguns anos reside em Fortaleza. O trabalho em apreço resultou de uma recente excursão que Paulo Bonavides realizou pelos nossos sertões a serviço daquele jornal.

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Paulo Bonavides Instituto do Ceará
No mesmo ano, o repórter de O POVO quase entrevistou Orson Welles, que esteve no Ceará para filmar a saga dos jangadeiros do Mucuripe a ser contada no documentário “It’s All True”, que não foi até o fim. Não conseguiu furar o cerco do Correio do Ceará, sob o comando dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Em junho de 1944, já repórter a serviço da Press Parga, uma das agências de notícias da época, Paulo Bonavides passou a atuar como correspondente do jornal oficial paraibano. A UNIÃO publicou uma entrevista que ele fez com o intelectual Aydano de Couto Ferraz, sobre o tema mais comentado naquela década: o fascismo. Antes de reproduzir as respostas, o jornalista assim apresentou o entrevistado aos leitores:

Rio, Via-aérea. – (PRESS PARGA): Aydano de Couto Ferraz é um nome de grande projeção nos circuitos intelectuais brasileiros. O antigo líder democrático da mocidade universitária bahiana há mais de sete anos milita na imprensa do Rio, onde, por força do seu talento e da sua cultura, conquistou um lugar privilegiado. Homem de vanguarda, cuja inteligência serve à causa do povo, Aydano de Couto Ferraz não poderia deixar de ser ouvido nesta série de depoimentos, em que as mais esclarecidas vozes do pensamento brasileiro depõem contra o fascismo, levando para todos os cantos da Pátria as tão esperadas mensagens de esperança nos destinos da humanidade.
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O pintor Cândido Portinari e o poeta, jornalista e escritor Aydano de Couto Ferraz ▪ Fonte: @portinari.org.br
No mês seguinte, em artigo denominado “A Descentralização do pensamento brasileiro”, Paulo Bonavides prestou uma homenagem ao amigo e benfeitor Demócrito Rocha, jornalista baiano que atuou quatro décadas no Ceará e que falecera em novembro do ano anterior. No texto, Paulo usou o fundador de “O POVO” como exemplo de verdadeiro intelectual, embora não tenha alcançado fama nacional. E, para criticar a falta de oportunidades para os intelectuais nortistas, dada a concentração dos debates nacionais no Rio de Janeiro, considerada por ele, à época, “a metrópole do pensamento brasileiro”, iniciou o texto com uma indagação:

Pergunto: há dez anos havia no Brasil revistas ou jornais que abrissem suas colunas para inserir a colaboração dos jovens distantes, a correspondência da mocidade interessada em debater os problemas sociais da época, o trabalho honesto de rapazes ‘não identificados com grupinhos e academias literárias e por isso mesmo com o horizonte visual mais limpo e mais aberto para conclusões sinceras e imparciais?
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Demócrito Rocha, político, poeta e jornalista, membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará ▪ Fonte: ACL
No final da crônica, Bonavides defendeu a construção de um parque industrial do Nordeste em idênticas condições do Rio de Janeiro, como forma de emancipação de libertação dos intelectuais nordestinos.

Em agosto do mesmo ano, Paulo Bonavides teve mais dois artigos publicados em A UNIÃO: no primeiro, comentou uma conferência do jornalista Emil Farhat realizada no auditório do núcleo cearense da Liga da Defesa Nacional. No segundo, elogiou a literatura de guerra francesa da época, a qual julgava ser “uma literatura de luta, de idealismo e de coragem, uma literatura que reflete a angústia e a miséria dos nossos dias e as esperanças de uma geração que deseja ardentemente sobreviver.”

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Emil Farhat, jornalista, publicitário e escritor brasileiro. Recebeu o título de Publicitário do Ano da Associação Paulista de Propaganda, e em 1988, o Prêmio Jabuti na categoria romance, pelo livro Dinheiro na estrada ▪ Fonte: Academia Líbano-Brasileira
Em setembro do mesmo ano, fez uma reportagem sobre o jurista cearense Clóvis Beviláqua, falecido dois meses antes. Em certa passagem do texto, registrou:

No dia em que os jornais estamparam a notícia do desaparecimento de Clóvis Beviláqua – dia de luto e de tristeza para o Brasil, que perdia um de seus maiores filhos – foi Lauro Rodrigues a primeira pessoa que encontrei na rua, ao sair da redação. Enquanto caminhávamos o colega não cessava de lamentar aquela tragédia, a imensa falta que Beviláqua iria fazer ao Brasil.

Três anos depois, a serviço da Associated Press, a mais antiga e influente agência de notícias da época, Paulo Bonavides experimentava o auge no jornalismo ao ser convidado pelo Governo Norte-Americano para fazer um curso de periodismo na cidade de Cambridge, Estado de Massachusetts, numa das mais tradicionais e importantes universidades do mundo, a Harvard University.

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Turma do curso de periodismo em Harvard University (Cambridge, Massachusetts)
Acervo do autor
A NOTÍCIA, jornal de Santa Catarina, registrou o fato com uma “barrigada”, atribuindo a façanha ao irmão mais velho, embora fizesse constar a foto do irmão, Paulo. Eis a nota:

Annibal Fernandes, destacada figura do jornalismo brasileiro e redator de ‘O POVO’, órgão da imprensa cearense, acaba de ser distinguido com uma bolsa de estudos de jornalismo nos Estados Unidos da América do Norte.

Paulo Bonavides precisou interromper o curso jurídico iniciado no ano anterior, mas continuou correspondente de O POVO e de A UNIÃO enquanto esteve nos EUA. As matérias vinham sempre com a assinatura do autor, depois do título, como a exemplificada abaixo:

Os Estados Unidos de 1945 Por Paulo Bonavides (Redator do “O Povo” de Fortaleza, estudando atualmente na Universidade de Harvard, a convite do governo americano).”

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Heitor Villa Lobos IMDb
Dentre as matérias enviadas ao jornal paraibano consta uma entrevista com o Maestro Villa Lobos, em que afirmou: “O maestro chegou em Boston precedido de um cartaz que ele talvez não tenha tido no Brasil, mesmo em seus maiores momentos de glória...”

Deslumbrado com o ambiente que o circundava, Paulo Bonavides admitiu a dificuldade em descrevê-lo e a responsabilidade de ser estudante naquela civilização tão distinta da sua. Registrou ele:

"Em quatro meses de vida ao contato desse patrimônio caríssimo da cultura americana, me confesso mais distante e incapaz de interpretá-lo do que me sentiria nos primeiros dias em que, com lentes de moço estrangeiro, vi surpreso, pela primeira vez, a massa rubra dos edifícios que formam o suntuoso conjunto da universidade de Harvard. Os prédios rústicos e seculares, as torres esguias também guardam muito dessa força da qual a velhice imprime respeito. Em tudo o passado defronta o presente, com o seu exemplo e sua severidade. Os próprios quadros de homens célebres, varões ilustres na história dos Estados Unidos e que têm os seus nomes inscritos nas paredes da Universidade, são qual um terrível e torturante desafio a tímidos jovens que ali vêm estudar, sem vocação algumas ou sem os caminhos do destino traçados.”
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Universidade de Harvard, excelência absoluta, referência mundial em ensino, pesquisa e formação de líderes, baseada na liberdade acadêmica e na responsabilidade intelectual @eparationscomm.org
O repórter de “O POVO” pediu um artigo ao vice-presidente dos EUA, Henry A. Wallace. Em resposta, recebeu uma carta, que foi publicada no jornal A UNIÃO:

“Caro sr. Bonavides Junto estou enviando-lhe um breve sumário de minha vida. Desejaria poder dar-lhe o artigo que você me pede, porém, tenho feito uma regra fixa não preparar história dessa sorte para a imprensa estrangeira. Certamente espero, em futuro não muito distante, ter a oportunidade de ir ao Brasil. Mas antes de fazer isso estudar português. Até aqui tenho estado muito atarefado com outros deveres. Sinceramente seu H. A. Wallace.”
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Henry Agard Wallace, vice-presidente dos Estados Unidos, em plena Segunda Guerra Mundial, na gestão do presidente Franklin D. Roosevel ▪ Foto: D.N. Townsend
Em 1945, a mudança na direção do jornal A UNIÃO (saiu Severino Alves Aires e entrou João Lelis de Luna Freire, o consagrado autor de “A Guerra de Princesa”) não alterou a rotina do jornal, que continuou publicando as crônicas do estudante patoense de jornalismo em Harvard. Bonavides parabenizou o novo diretor do periódico, que publicou a correspondência:

O Sr. Paulo Bonavides, redator de ‘O POVO’ de Fortaleza, que se encontra fazendo o curso de jornalismo pela Universidade de Harvard (E.U.A.) a convite do governo norte-americano, transmitiu ao dr. João Lélis, diretor deste jornal, a mensagem seguinte:

Adamas Huse 42 – Harvard University – Cambridge 38 Mass – 24 de abril de 1945.
Meu caro João Lelis: Soube aqui nos Estados Unidos, com grande alegria que v. é o novo diretor da A UNIÃO e certamente o
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João Lélis de Luna Freire
continuador da missão jornalística que Severino Alves Aires, de modo tão brilhante, veio de encerrar, deixando só amigos e admiradores no seio da imprensa paraibana. Você assume a direção do prestigioso órgão no momento em que o Brasil restaura as suas liberdades democráticas. O fato é bastante significativo e confortador para uma pessoa com o seu mérito, o seu idealismo e a sua capacidade. Estou antevendo uma fase de fecundas realizações para a nossa querida e tradicional folha, ao mesmo tempo que a inauguração de um vasto programa firmado sobre a defesa da causa pública, o prestígio do interesse popular, o esclarecimento da opinião e a luta contra o fascismo. Confiante de que outro não será o comportamento de sua atitude, sinto-me no dever de transmitir-lhe congratulações e o meu profundo contentamento pela excelência da nomeação feita. De seu amigo de sempre, PAULO BONAVIDES.

No período de estudos, Paulo Bonavides escreveu cerca de 70 artigos, a maioria relacionados à sua passagem pelos EUA. A UNIÃO publicou a metade deles, dois constaram no livro “O Tempo e Os Homens”, livro de sua autoria, editado pela Fundação Ernani Sátyro, de Patos: o primeiro, sobre Upton Sinclair - escritor norte-americano de viés socialista e autor de bestsellers como
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Upton Sinclair, escritor, romancista e reformador social norte-americano, autor de mais de 100 livros, traduzidos para mais de 50 idiomas ▪️ Fonte: inewsource.org
“A Selva” – em que aborda a contribuição do escritor à causa da democracia; um segundo, uma entrevista com Pierre Van Passen - escritor de origem holandesa e sionista.

Numa das crônicas mais relevantes dessa fase estudantil, Paulo Bonavides descreveu a mais famosa Faculdade de Direito dos EUA, a de Harvard, onde lecionavam os maiores mestres da cultura jurídica norte-americana que ajudaram a formar várias gerações de grandes advogados, diplomatas, estadistas e jurisconsultos e que tinha um acervo de 600.000 volumes, espalhados por várias estantes. No escrito, o jovem estudante brasileiro expressou seu espanto e admiração com a organização da biblioteca, que, segundo ele, contava com “tesouros das leis e da literatura jurídica de várias repúblicas latino-americanas, que não existem nessas próprias repúblicas e que jamais poderiam ser repostos, por já se encontrarem esgotados e fora de circulação.”

Nesse curto período em Harvard, Paulo Bonavides conviveu com professores notáveis e admiráveis, a exemplo do sociólogo russo Sorokin e do jurista norte-americano Roscoe Pound. Em fevereiro de 1945, ao registrar em artigo sua impressão sobre a Constituição dos EUA, antecipava o cientista político que, no futuro, se consagraria como um dos grandes pensadores do Direito Constitucional:

MINHA PALAVRA SOBRE A CONSTITUIÇÃO AMERICANA (Redator do ‘O POVO’, de Fortaleza, estudante presentemente na Universidade de Harvard, a convite do governo americano)
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HARVAD, fevereiro – Num país onde o povo vota cada quatro anos, onde se respira uma atmosfera de segurança, conforto e progresso, onde a liberdade de impressa não sofreu a mínima restrição, de modo que a opinião pública pode pensar, falar e reagir diante dos fatos, num país, assim o fascismo jamais encontrará porta aberta para entrar. Esse país, se necessário for ainda declarar, chama-se os Estados Unidos da América do Norte. Para compreendê-lo em toda a sua gradeza é essencial viver entre o seu povo, conhecer um pouco de sua história e um mínimo de sua evolução, desde o desembarque dos ‘pilgrins’ na Nova Inglaterra à fixação dos refugiados alemães, exilados pelo malogro de uma revolução liberal. Será preciso ouvir também contar aquela história romântica dos pioneiros que, zombando das instâncias geográficas, imensas para o tempo, sem rodas de automóveis e motores de aviões, desbravaram o oeste selvagem, povoaram a costa do Pacífico e ajudaram a construir uma grande pátria livre. Quem poderá compreender, na plena ignorância dessa luta, a razão pela qual, quando o mundo parecia um só tochão de ruínas fumegantes, uma voz de esperança elevou-se a profetizar para todos os povos o mundo das quatro liberdades fundamentais? Quem poderá interpretar a democracia americana unicamente pela análise das suas leis e da sua constituição nas páginas frias de um compêndio? Não é verdade que outras nações possuem também seus corpos de leis, que representam verdadeiras homenagens à pureza do vernáculo e à perfeição literária
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da forma? Não é verdade que o próprio Mussolini, nos vitoriosos dias do terror fascista, se gabava das decisões ‘democráticas’? (com o perdão da palavra) do seu Grande Conselho Fascista? Mas, o que não é verdade é que aquelas leis e constituições, apontadas a outros povos como exemplos e maravilhas, tenham existido alguma vez na prática ou vivido como uma realidade entre o povo, que jamais as conheceu mas sempre as ignorou. Em Siracusa, sempre que um tirano falava em liberdade, isso queria dizer para o povo o reforço de opressão ou piores dias para o futuro. Na terra dos cidadãos ianques, outra é a realidade. No belo país do presidente Roosevelt, a Constituição que a Independência deu ao povo é concreta, inviolável e sagrada. Todas as aspirações do povo, sumarizadas naquela bíblia política são aspirações que se materializam no exercício de cada dia. Uma injustiça ou uma arbitrariedade praticada, um abuso de poder ou um ato de violência, ao qual se lançará desde o mais humilde dos agricultores até o mais poderoso dos magnatas. O dano à liberdade, nos Estados Unidos, é um crime odioso imperdoável e, como tal, na lei encontra sua punição. Esse código de direitos é a expressão suprema dos valores vivos e realizados na civilização norte-americana, valores que dão ao povo a certeza na força, na grandeza e na dimensão de sua democracia, o quanto ela representa e o quanto significa como garantia de sua liberdade. Hoje compreendo porque o general Mac Arthur voltou às Filipinas e vingou Pearl Harbor, porque Eisenhover libertou a África, Montgomery desembargou na Europa e Bradley destruiu a tirania alemã nos vales da França e, mais do que isso, porque as armas americanas estão encorajando, com os seus feitos, os últimos povos oprimidos a derrubar os seus tiranos. Não é verdade que existe nos Estados Unidos uma Democracia?
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Universidade da Califórnia
Nas matérias e/ou reportagens escritas nos EUA, Paulo Bonavides tratou de diversos assuntos: jurídicos, políticos, sociológicos, de jornal, pessoas e coisas e até amenidades e lugares que visitou: um casal de Cambridge, os Meads, que colocou sua mansão para servir de sede à “Associação Internacional dos Estudantes de Greater Boston”, entidade que abrigava estudantes estrangeiros sem cobrar uma única taxa, mensalidade ou semestre de seus membros; sua visita ao Fogg Museum; a formação dos jornalistas nos Estados Unidos; o encontro com seu colega de curso em Harvard e jornalista do “El Mercurio” (Valparaíso/Chile), Antônio Andrade; a dramática história de dois agentes de Hitler, capturados pelas autoridades americanas; a reeleição de Roosevelt para a presidência dos EUA e sua repercussão na sociedade norte-americana; o discurso de
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Discurso de Roosevelt United States Government
Roosevelt no Congresso dos EUA; a visita ao famoso “The Christian Science Monitor”, jornal vespertino de orientação religiosa, ao qual deu o epíteto de “O Quartel General da Imprensa Americana”; a visita à Faculdade de Direito de Harvard; um encontro com uma cozinheira cearense no Natal de 1944, na residência do diplomata brasileiro nos EUA; sua opinião sobre Henry Wallace; sobre a Liga Radclife pela Democracia, o mais célebre colégio das milionárias americanas; a sociedade anti-fascista norte-americana; os Estados Unidos na véspera da transição para a paz; a vida dos ex-combatentes norte-americanos após retornar do “front”; a vida dos estudantes estrangeiros em Harvard; uma cidade portuguesa nos EUA; a produção norte-americana na transição da guerra para a paz; entrevistas com Upton Sinclair; a responsabilidade do estudante estrangeiro nos EUA; a política isolacionista dos EUA, antes de Roosevelt e, finalmente, suas impressões sobre Boston, Miami, Washington D.C. e o aeroporto de La Guardia.

Um mês antes de encerrar o curso de jornalismo em Harvard, o jornal A UNIÃO publicou uma crônica de Paulo Bonavides (escrita em março). No texto, ele manifestou orgulho em ser jornalista e exaltou a atenção dedicada pela imprensa norte-americana ao Brasil:

A DESCOBERTA DO BRASIL PELOS REDATORES DA IMPRENSA IANQUE
Por Paulo Bonavides HARVARD (Março) – Lutar pela liberdade e reavê-la é heróico e nobre, soberbo e dignificante. Dos Estados Unidos leio no relatório da imprensa americana as notícias que chegam do Brasil, notícias frescas, honestas e sem o azedume “amargo que a tesoura do censor deixa inevitavelmente”. São grandes notícias estas, que trazem da pátria distante a mensagem de sua democratização.
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GD'Art
O momento guarda todas as características solenes de um instante histórico – com ele fecha-se a etapa do telefone inquisitorial e abre-se o ciclo do jornalista com J. maiúsculo. Vive o povo brasileiro uma hora em que os caminhos todos estão abertos para concretizar os seus grandes sonhos e as suas grandes aspirações. Como repercutiu na nação americana esse coup d'etat dos bravos jornalistas democráticos de seu país? Antes de tudo, afirmaram que em nenhum outro momento senti-me tão honrado e tão orgulhoso da profissão que exerço – mais orgulhoso e mais honrado por pertencer à imprensa brasileira, por militar nas colunas de um jornal que a estas horas já deverá estar nas mãos dos leitores, transmitindo-lhes a verdade não mistificada ou o fato não distorcido. Aqui, o jornalismo é a mais prestigiada e a mais abençoada de todas as profissões, porque em sua existência livre, ampla e garantida, vê o povo a alma das próprias garantias constitucionais. O Brasil, falando pela voz do seu povo – não pelas antenas controladas da propaganda oficiosa e remunerada, cresceu de importância, cem por cento, aos olhos do americano. A imprensa nos Estados Unidos, segundo me parece, jamais dedicou tanta atenção ao Brasil como o vem fazendo agora. E isso para exaltar-lhe o significado dessa conquista que – escreve a pena de um correspondente ianque – “passará à História como um dos mais brilhantes exemplos de cooperação na luta pela liberdade de imprensa.”
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GD'Art
O “New York Times” e o “New Herald Tribune”, dois órgãos de reputação nacional, referindo-se `a queda e ao colapso dessa ditadura sobre a nossa imprensa, descobrem no ato dos corajosos jornalistas brasileiros consequências que transporão as fronteiras do país, indo refletir-se no ânimo de seus irmãos latinos, das vizinhas repúblicas sul-americanas, ainda atados ao cordão policial da censura. Será qual um convite e um apelo chamando-os a caminharem para o “front” já aberto contra todos os amordaçadores do verbo e da palavra. Jornais e revistas americanas, ao discutirem um problema brasileiro o faziam antes sem evidenciar muito interesse, quando não para criticar ou reprovar. É que nesse país se sente desprezo por todas as nações onde a norma democrática é negada ao povo ou onde a imprensa, qual ao lado do livro constitui o mais poderoso instrumento de cultura, civilização e esclarecimento, tem suas colunas prostituídas pela violência da autoridade, quando essa se faz compositora da mentira, da hipocrisia e da falsidade. Hoje, pelo que fizemos e pelo que ganhamos, nosso espírito é exaltado com simpatia, admiração e respeito e o Brasil que, em menos de 15 dias, se viu mais amado e mais compreendido pelo povo americano do que em todos os seus oito anos de humilhante passado contraditório retoma, gradativamente, no consenso da opinião pública dos Estados Unidos a destacada posição de nação líder da intimidade americana. Foi a imprensa, pois, que mais uma vez reabilitou o Brasil.
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Paulo Bonavides Cid Barbosa
Paulo Bonavides foi diplomado no dia 04 de junho de 1945, junto com o chileno Antônio Andrade, do El Mercurio, um jornal da cidade de Valparaiso (Chile). A solenidade ocorreu na “Duneter House”, sob a presidência do Dr. Clarence Henry Haring, professor catedrático de Harvard e diretor do Departamento Latino-Americano da Universidade. Os dois jornalistas integraram a turma de 1944/1945, da denominada “Nieman Fellows”, uma fundação internacionalmente famosa por reunir a nata do periodismo norte-americano e por premiar jornalistas de todo o mundo com bolsas de estudos em Harvard, desde 1939. Em trezentos anos de existência, era a primeira vez que a tradicional universidade de Harvard conferia diplomas a representantes da imprensa latino-americana. Paulo Bonavides e o seu colega chileno foram os pioneiros.

Em 1947, Bonavides registrou essa rica experiência em livro intitulado “UNIVERSIDADES DA AMÉRICA”, um valioso estudo sobre a vida cultural dos EUA, no qual traçou um perfil exato e vivo da realidade por ele vivenciada. Publicado pela editora CRUZEIRO, a obra virou raridade. Porém, escarafunchando os jornais da época, consegui achar o prefácio feito pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freire:

Um livro sobre universidades Gilberto FREYRE
O cearense já é no Brasil uma figura de lenda. São muitas as anedotas sobre seus dons quase de mágico: um mágico que soubesse o segredo do tapete voador. Um mágico nascido para as grandes aventuras de correr o mundo. Há em Paulo Bonavides – paraibano criado no Ceará – um pouco desse cearense de lenda.
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Ainda muito moço, foi o jornalista sul-americano escolhido para passar um ano – o de 1944 – na Universidade de Harvard; uma universidade quase virgem de brasileiros. E como bom ‘cearense’, não se limitou a permanecer em Harvard. Foi a outras universidades dos Estados Unidos e do Canadá. Voou do Norte ao Sul, de Leste a Oeste da América do Norte, curioso de conhecer, de ver de perto, o maior número possível de escolas famosas. Conheceu várias. E agora nos dá o resultado de suas observações. Traça de cada universidade que viu de perto, o perfil exato. Distingue Harvard, de Colúmbia, de Princeton, Princenton de Michigan, Michigan, de Stanford. Recorda traços do passado ilustre de cada uma, salienta os estudos em que se especializam suas faculdades, fala de grandes mestres. É um livro valioso pelas informações que reúne e atraente pela simplicidade e pela nitidez de sua forma de apresentar os fatos. O jovem jornalista não quis guardar para si o bem que lhe fez a política de ‘boa vizinhança’ do velho Rooservelt, levando-o um belo dia dos coqueiros de Fortaleza aos
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Gilberto Freyre FGF
olmos de Cambridge. Resolveu dividir com os outros suas experiências: divulgar os resultados de sua aventura de compreensão. Da primeira à última página, seu livro é um livro útil e animado pelo melhor e mais fraternal dos interamericanismos. Pois o verdadeiro interamericanismo consiste principalmente nisto: num esforço honesto de compreensão de uns americanos por outros. Toda vez que um William Berrien vem dos Estados Unidos ao México, à América Central, à América do Sul, com aquela sua gordura alegre de franciscano e se põe em fraternal contato não só com presidentes de academias e secretários perpétuos de institutos, mas com estudantes, não só com doutores de faculdades e ministros, mas com jornalista e com intelectuais e artistas boêmios, nos cafés e nas cervejarias, ele presta melhores serviços à causa do verdadeiro interamericanismo que todos os embaixadores solenes do tipo de Mr. Caffery. Ora, Paulo Bonavides é uma espécie de discípulo cearense do Professor William Berrien. Falta-lhe adquirir do mestre um pouco mais de humour. Mas já o segue na simplicidade franciscana com que se aproxima de assuntos, procurando compreendê-los. E com a mesma simplicidade, procura transmitir aos seus conterrâneos, os resultados das suas observações. Daí o encanto do seu livro sobre Universidades dos Estados Unidos e do Canadá.

Em 1949, o livro rendeu a Paulo Bonavides o prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras.

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Paulo Bonavides OAB-CE
Dois anos depois de chegar dos EUA já diplomado por Harvard, Paulo era o redator e correspondente da Associated Press, responsável pela cobertura dos resultados da observação científica do eclipse solar em Minas Gerais. O JORNAL DO BRASIL noticiou:

Chegou, ontem, de Belo Horizonte, pelo avião da rede mineira da Panair do Brasil, o jornalista Paulo Bonavides, especializado em periodismo da Universidade de Harvard e que, designado pela Associated Press, acompanhou todos os trabalhos e está divulgando na imprensa internacional os resultados da observação científica do eclipse solar em Minas.

Em 1954, já professor catedrático de Sociologia Educacional do Instituto de Educação do Ceará, o jornalismo lhe proporcionou outra grande oportunidade: um curso na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, que, por coincidência, estava criando um centro de altos estudos luso-brasileiros.

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Universidade de Heildeberg britannica.com/
Durante o ano que esteve na Alemanha, Paulo Bonavides ministrou Romanisches Seminar, um curso de literatura brasileira, a convite do professor Herry Meier, Diretor do Departamento de Filologia Romântica daquela Universidade, considerado, à época, um dos maiores estudiosos alemães das coisas do Brasil.Paulo registrou sua passagem pela Alemanha em “A ALEMANHA DEPOIS DE HITLER – Ressurreição Física e Moral do Povo Alemão”, artigo publicado em um dos jornais da época.

No jornalismo, Bonavides não se limitou à redação. Homem de ação, foi também um defensor da liberdade de imprensa. Em novembro de 1945, assinou com um grupo de jornalistas um protesto, em forma de telegrama, enviado à Presidência da República, contra o empastelamento de “A TRIBUNA POPULAR”, ocorrido a 25 de maio de 1945, antes do fim do Estado Novo.

Seis anos depois, sua militância em defesa do jornalismo livre fez com que ele criasse, em 09 de abril de 1951, a Associação Profissional dos Jornalistas do Estado do Ceará, depois transformada em Sindicato/SINDJORCE (26 de maio de 1953), do qual ele foi o seu primeiro presidente.

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Paulo Bonavides @editorajuspodivm.com.br/
Em setembro de 1954, Paulo Bonavides participou do Primeiro Congresso Mundial de Entidades de Imprensa e na ocasião defendeu a tese sobre Escola de Jornalismo, na qual defendeu a necessidade de criação desses cursos em todas as Universidades.

Em setembro de 1956, na condição de presidente do Sindicato dos Jornalistas, condenou com veemência a anunciada reforma da Lei de Imprensa, manifestando-se corajosamente em favor da liberdade de expressão:

Nunca Governo nenhum sustentou-se encarcerando jornalistas e apreendendo edições de jornais. O princípio essencial que nos norteia é o de que só a palavra livre esclarece e guia os governantes no caminho certo.
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GD'Art
Apesar de todo esse histórico no jornalismo, o destino profissional de Paulo Bonavides já havia sido definitivamente selado em 1948. Naquele ano, findos os estudos do curso de Direito na Faculdade Nacional, no Rio de Janeiro, cujas aulas frequentava ao mesmo tempo em que exercia o jornalismo, o filho de Patos teve que escolher uma das três alternativas que se lhe apresentavam: voltar para o Ceará; permanecer no Rio de Janeiro, onde poderia exercer a advocacia; ou, ainda, ir para Nova York, coordenar o birô latino-americano de jornalismo da Associated Press, opção que se mostrava mais atrativa financeiramente. Nesse momento crucial de sua vida, pesou a opinião da mãe, conforme ele mesmo relata:

“Minha mãe, de idade avançada, fez um apelo para que voltasse ao Ceará, era um dos caminhos. O segundo caminho era ficar no Rio, onde tinha relações de amizade com dois excelentes amigos, que era o doutor Vitor do Espírito Santo, grande jornalista, que dirigia com Amorim Parga, a chamada Press Parga, e tinha junto um escritório de advocacia trabalhista. E um outro companheiro dele, era o doutor Bonfim Calheiros. E os dois abriam o escritório se eu decidisse ficar no Rio. A terceira alternativa era a Associated Press que acenava com o birô-latino americano. Eu já tinha um nome conhecido em jornais latino-americanos. A proposta deles era ir para Nova York, e me entregariam essa coordenação. Era a melhor das propostas financeiras. Mas tomei a decisão que reputo afetiva, em função dos laços maternos. E todos lá no Rio diziam que era um grande retrocesso, você é um louco..."

Graças à “loucura” e à opção sentimental tomada por Paulo Bonavides, o Brasil e o mundo ganharam um de seus melhores cientistas políticos e constitucionalistas de todos os tempos. Não obstante, antes de ganhar notoriedade como um dos mais influentes constitucionalistas brasileiros do século XX, lembramos que Paulo Bonavides foi um grande jornalista.

Salve o patoense Paulo Bonavides no centenário de seu nascimento!


REFERÊNCIAS BONAVIDES, Paulo. DEMÓCRITO ROCHA. UMA VOCAÇÃO PARA A LIBERDADE. 3ª edição. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha.
_A busca de uma nova Democracia: Paulo Bonavides. Entrevista ao jornal O POVO (CE), em 26 de abril de 2005. Disponível em Visitado em 10 Set 2025.
COSTA, José Raimundo de Albuquerque. O Povo de NOVO. Memória de um jornal. Fortaleza: Fundação Demócrito da Rocha, 1988.
FREIRE, Gilberto. Um livro sobre universidades. DIÁRIO DE PERNAMBUCO, ed. de 08.11.1946, p. 4.
KLEIN, Antônio Carlos. Paulo BONAVIDES. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2003. MONTEIRO, Mozart. O CEARÁ INTELECTUAL. O JORNAL (RJ), ed. de 18.07.1954, p. 1, 2ª seção.

Jornais
A GAZETA (Florianópolis). Entre Rembrandt e o bronze chinês. Ed. de 16.02.1945, p. 2.
A NOITE (RJ), edição de 21.05.1954, p. 6.
A UNIÃO (PB), edição de 28.11.1941 e edições de janeiro de 1944 a junho de 1945.
CORREIO DA MANHÃ, edição de 30.03.1947, p. 1, 2ª Seção.
DIÁRIO CARIOCA, edições de 19.11.1941, p. 11 e de 26.06.1949, p. 7.
DIÁRIO DA MANHÃ (PE), ed. de 13.12.1940, p. 2 e edição de 18.11.1943, p. 6.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, edições de 26.06.1946, p. 4, Segunda Seção; de 08.06.1947, Segunda Seção, p. 3; de 29.04.1947, Primeira Seção, p. 8 e de18.04.1944, Segunda Seção, p. 8.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, edições de 21.04.1933, p. 4; de 08.11.1946, p. 4; de 13.11.1941, p. 8 e de 09.09.1953, p. 1.
_Ressurreição Física e Moral do Povo Alemão. Diário de Pernambuco. Ed. de 13.09.1953, p. 1.
JORNAL DO BRASIL, edições de 03.06.1947, p. 8 e de 08.06.1947, p. 5.
O DIÁRIO CARIOCA (RJ), ed. de 19.11.1941, p. 11.
O JORNAL (RJ), edição de 15.09.1956, p. 7.
O NORTE (PB), edição de 30.08.1952, p. 4.

Revistas
Carioca (RJ), edição de 598, Ano II, p. 9.
Leitura (RJ), edições 36, p. 33 e 42, de 1947, p. 2.
Documentário: Paulo Bonavides – o homem, o jurista”. TV Assembleia Legislativa do Ceará. Disponível no youtube. Visitado em 11 Set 2025.


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