No tempo em que os governantes percorriam a Paraíba no lombo de cavalos, sentindo o aroma da terra e descobrindo suas riquezas, a pop...

Cipós e memórias

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No tempo em que os governantes percorriam a Paraíba no lombo de cavalos, sentindo o aroma da terra e descobrindo suas riquezas, a população os recebia com rudimentares gestos. Os historiadores registram ter sido um tempo maravilhoso, apesar das dificuldades, de muitas descobertas e consolidação de sonhos.

Passando pelas matas do Brejo, Elias Herckmans ou seus emissários nada encontraram senão a hospitalidade do caboclo, que não dava muita atenção às riquezas minerais, como também à árvore da qual se extraía material para a pintura de tecido e madeira para móveis que ornamentariam pomposas residências.

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Frans Post
Ao mesmo tempo em que descobriam a madeira de lei, dos largos riachos retiravam o peixe, dos campos colhiam alimento e das matas recebiam alternativas para o exercício do corpo e da alma.

O tempo passou, as moendas rudimentares e as máquinas imponentes chegaram para arrancar da terra a melhor cana e transformá-la em cachaça e açúcar. A madeira cortada era transformada em objetos de uso nas residências, e os cipós que fechavam os caminhos eram convertidos em caçoais e cestos de utilidade para as famílias.

Nessa terra, os caboclos retiravam o que a mata produzia, e esses sublimes gestos humanos foram lembrados recentemente em Serraria, numa ação capitaneada pela Prefeitura Municipal, durante uma série de eventos promovidos para ressaltar o que a cidade tem de mais bonito: sua gente, sua paisagem, sua economia e seu frio. Os organizadores trabalharam temas voltados à realidade da região, mas, sobretudo, o que existe de mais pomposo e belo em Serraria: a acolhida de sua gente, a sua economia e o seu frio.

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Prefeitura de Serraria
Em 2024, abordaram a questão da escravidão em seus últimos dias no município, em bonitas representações teatrais encenadas por adolescentes e crianças. Na versão atual do Caminho do Frio, de forma magistral, o grupo de teatro buscou as raízes do caboclo que trabalha utilizando cipós encontrados nas matas, com os quais fabrica caçoais, cestos e balaios.

Foi uma semana em que a cultura, a gastronomia e a economia gerada a partir dos engenhos e das fazendas de café ganharam dimensão magistral ao mostrar a força de sua gente, que no passado criou perspectivas para um futuro promissor.

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Prefeitura de Serraria
A semana foi oportuna para a cidade voltar seus olhares ao passado de sua gente — um tempo renovado nos gestos de homens e mulheres que ainda hoje trançam cipós, dando forma de arte ao que a mata fornece.

Um povo que sobrevive de suas lembranças fortalece e alonga sua história. Mais uma vez, em Serraria, as memórias dos engenhos, das fazendas de café e dos cipós trançados são uma demonstração da fina arte que engrandece a todos.

A cidade estava engalanada, tinha brisa e perfume. Estando a participar da festa, fui surpreendido pelos conterrâneos que, em sua infinita bondade, ofertaram mimos com objetos artesanais e produtos da terra.

Certamente seus antepassados, homens e mulheres que edificaram sua história, se regozijariam com tudo isso. Então, agora, lembraria do meu trisavô José Pedro da Costa, do meu bisavô, coronel do café João Mendes, e do meu avô José Nunes, sapateiro que construía selas e arreios, e de tantos outros que, na atualidade, sentem orgulho em dizer que são de Serraria. Terra amada, Terra das Palmeiras, Princesa do Brejo.

José Nunes (centro), um dos homenageados do evento Caminhos do Frio 2025
Serraria (PB)Acervo do autor

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  1. O sentimento telúrico do cronista em momento de festa. Parabéns, Nunes. Francisco Gil Messias.

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