A mais bela tarefa confiada à boca, pelo Senhor Nosso Deus, foi sorrir. Não menos importante: falar. E beijar. E mamar. E comer. Talvez nenhuma estrutura anatômica tenha recebido tantas tarefas nobres quanto a boca.
Para espanto da Criação, o homem do século XX pôs em segundo plano toda essa programática e conferiu à boca, em plano preferencial, duas missões surpreendentes: chupar cigarros e dar vazão aos seus detritos. O homem “civilizado”
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O cativante perfume de uma boca de mulher foi substituído pelo mau cheiro de nicotina; a alvura dos dentes, pelo amarelado do alcatrão; e o rosado sadio das gengivas, pela palidez das infecções periodontais.
Do ponto de vista fisiológico, fumar não é um simples hábito. Nesse sentido, hábito é fazer-se, como rotina, alguma coisa não obrigatória, mas enquadrável no contexto da Natureza. Assim, não se fala de “hábito de comer”, “hábito de respirar” nem “hábito de dormir”: são funções obrigatórias. Mas fala-se de “hábito de petiscar”, “hábito de suspirar”, “hábito de cochilar”.
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Louvar a Deus é amar sua obra e estimular o florescimento de todas as suas graças. Destruir as belezas da Criação deve ser, creio eu, o mais infamante dos procedimentos. Em termos de boca e de Natureza, o culto ao fumo foi a maior perversão do século XX — e prossegue agora, no século em que vivemos.