Faz tanto tempo... Na verdade, dezenove anos. No entanto, nunca poderei esquecer o que aconteceu naquela triste sexta-feira.

Os três pardais

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Faz tanto tempo... Na verdade, dezenove anos. No entanto, nunca poderei esquecer o que aconteceu naquela triste sexta-feira.

Há dias, minha mãe estava internada no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. Porém, naquele dia, piorara muito e entrara em coma.

Desesperada, sentindo um vazio inexplicável, sozinha, depois de uma noite em claro, desci ao térreo para tomar um café. Era a única coisa que conseguiria ingerir. Mal sabia
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onde pisava. Parecia que dia e noite eram iguais. Eu ainda precisaria ir ao trabalho, já que, na época, era executiva e professora.

Contudo, mal conseguia pensar. Depois de tantos meses, após a isquemia que tivera, minha mãe mal me reconhecia — e, ainda assim, apenas de vez em quando. Mas, ali, naquela cama cheia de tubos, estava a pessoa que me trouxera de comboio, em seu colo, enquanto as lágrimas rolavam por seu belo rosto. Iria começar uma nova vida em outras terras, depois da morte prematura de meu pai. Não foi nada disso.

A realidade tosca foi uma época de intenso sofrimento, sacrifício e fome por que passamos. Porém, havia esperança.

Ela cantava desde que o dia amanhecia, mesmo que tivesse ido dormir de madrugada. Uma voz suave que enchia o espaço de luz. Os fios dourados de quem, apesar de tudo, acreditava na vida e seguia... seguia...

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Naquela sexta-feira, vendo minha mãe naquele estado, tomei o elevador e, ao chegar ao térreo, verifiquei que a chuva era torrencial. Que importava? Eu precisava despertar daquele pesadelo. Assim, sob a chuva, apressei-me a chegar à carrocinha de um camelô que vendia café. Mal cheguei e ia pedir um cafezinho, quando, olhando para meus pés, em plena água que formava um verdadeiro rio na calçada, vi que três pardais desciam e subiam tranquilamente sobre eles.

Muito tempo levei para compreender que aqueles seres divinos eram — e são — mensageiros de paz. Eles diziam:

— Não é hora de fraquejar. Ainda virá o pior. Não estás, entretanto, sozinha. Aquieta teu coração. Como disse Jesus:

"Ele cuida de nós, que nada juntamos ou trouxemos". Portanto, também de ti cuidará. Não temas.

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Eu não entendi a mensagem na época. Ou melhor: paguei pelo café e sequer o bebi.

Voltei o mais rápido que pude para o sexto andar. Minha mãe continuava no mesmo estado.

Três dias depois, ela melhorou e veio para casa. Tentou — e eu ajudei, no táxi em que a trouxe — agradecer ao ver a imagem do Cristo Redentor. Depois, caía na não-lucidez.

Ficou em casa por mais dois dias e partiu.

Deve estar cantando nos jardins de Jesus. Eu nunca esquecerei a mensagem daquelas três pequenas criaturas de Deus.

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