Ah, meus amigos, minhas amigas, hoje vou fazer uso “dessas mal traçadas linhas” para contar a vocês coisas de um ranchinho, uma modesta...

Aquele rancho à beira do meu caminho

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Ah, meus amigos, minhas amigas, hoje vou fazer uso “dessas mal traçadas linhas” para contar a vocês coisas de um ranchinho, uma modesta edificação em duas águas, três de suas paredes em treliças organizadas em ripas de pinho e, onde haveria de ser a quarta delas, nada de alvenaria, nada de madeira, apenas um vão completamente livre para que, por ali, pudesse adentrar toda a benquerença que estivesse nas redondezas.

Sob aquele teto, uma pia, fogão à lenha, prateleira para os apetrechos de cozinha, dando destaque às panelas enegrecidas pela fumaça que brotava daquela fornalha onde ardiam tocos de pau e gravetos de sexta a domingo. Mesa e mais — não me lembro quantas cadeiras.

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Uma notícia que me entristeceu deveras fez-me lembrar desse cantinho encantado que ficava a muitas latitudes daqui, no entorno daquela urbe conhecida como “cidade sem limites”, lá em terras bandeirantes: Bauru.

Acho até conveniente detalhar a localização desse rancho. Ficava a uns 20 km do centro, num condomínio, o São Luís. Para se chegar lá, tinha-se que tomar a rodovia Cezário José de Castilho, que liga a cidade ao complexo hidrelétrico de Ibitinga. No sentido Bauru-Iacanga, depois de rodar um pouquinho mais de três léguas, era preciso quebrar à direita e tomar uma estradinha de chão batido; logo se deparava com a chácara dos Buenos — o Renato e a Márcia — onde, a poucos metros da residência, estava fincado o tal ranchinho. Seguindo a rua, fazendo divisa, estava a nossa chácara, minha e de Ana. De frente, do outro lado da rua, a propriedade do Alexandre e da Leda. Seguindo em frente, na outra divisa, eu repartia a cerca com a gleba do João e da Pá.

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Fosse no ranchinho do Renato, na varanda do João ou à sombra do meu alpendre, era onde, nos fins de semana, misturavam-se as panelas, assava-se uma carne, molhava-se a palavra e jogava-se o truco. Era sempre a celebração do compadrio, da vizinhança que deu certo, da amizade que usava desses momentos para se fortalecer e criar raízes.

Dias atrás, obrigou-me o destino a viajar no tempo, retroceder quase 20 anos e umedecer os olhos quando me lembrei do ranchinho que descrevi linhas antes. É o que vou contar.

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Na primeira década deste nosso século eu ainda lecionava, e minhas sextas-feiras eram ocupadas de giz na mão, manhã, tarde e noite. A faina se encerrava pouco depois das vinte e duas, quando eu pegava o beco e tomava o rumo de casa.

Ao passar diante da casa dos Buenos, diminuía a marcha e dava uma espiada para ver se as luzes do ranchinho estavam acesas. Invariavelmente, estavam. Então, eu estacionava, chegava ao portão e soltava a voz: — Tem comida nesse rancho?

Renato vinha ao portão me receber. Já no rancho, Márcia abria o seu melhor sorriso e a latinha de cerveja na temperatura ideal, que fora buscar na cozinha, para me receber com pompa e circunstância. Ah, aquele feijão temperado com carne seca e folhas de louro, o arroz branquinho com gosto e cheiro de alho, salada de rúcula, alface, tomate e cheiro-verde colhidos na horta próxima ao ranchinho... Mas o melhor era o frango cozido em panela velha e ao calor daquele fogão à lenha. Coisa, como dizem, de lamber os beiços. Quando eu estava ali, no bem-bom, Márcia já chamara (via Embratel) minha outra metade e a prosa avançava pelas horas.

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Mas o destino fez com que aquela convivência não alcançasse uma década, e a vida jogou uns por lá, outros para bem distante. Enfim, de tudo o que restou foi só o selo da saudade.

Dias atrás, motivo desse meu desconforto d’alma foi saber que Márcia fez aquela viagem fora do combinado. Então, as recordações vieram. Aqueles encontros, onde também estavam filhos, parentes e “chegados”, trazem lembranças que, em alguns momentos, são doces; noutros, doloridas, como me está sendo agora.

Ah, quando o Poderoso me levar para aquelas dimensões onde essa amiga foi acolhida, que me dê inspiração de perspicaz obreiro, pedreiro de boa colher, carpinteiro de bons martelo e serrote, para eu erguer por lá outro ranchinho, como aquele lá de Bauru, só para Márcia acender o fogão, abrir a geladeira e me receber. Eu — e umas criaturas que já devem estar por lá.

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  1. Boas lembranças 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏✂️♥️♥️♥️♥️♥️♥️♥️🙏🏻🙏🏻🙏🏻🙏🏻🍷✂️

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