Os ipês já floriram no Sertão. Surgem em pontinhos de amarelo na imensidão seca após a descida da serra e reaparecem pelas terras sertanejas adentro. Dão tons alegres, assim como os inexplicáveis diamantes colados ao piche do asfalto que brilham ao cruzarem os olhares com os sóis matutinos e vespertinos. E mesmo a vegetação esquelética está viva, à espreita da chegada das chuvas na invernada de janeiro. Aguardam, ressequidas, poupando energia para rebrilhar de verde os recantos hoje áridos. Que a chuva não falte.
Por enquanto, resta-nos o floreio dos ipês no Sertão. Intenso, fugaz, vivo, surpreendente. Quase um canto de resistência ou anúncio de que, por mais que o reinado do sol queime a pele, as folhas e a terra, a vida persiste, insiste, ressignifica e sopra poemas.
Clóvis Roberto
Os ipês já floriram no Sertão. Antes lá, depois cá, sempre um respiro de lirismo natural. As pequenas e frágeis/fortes flores a captar os olhares, a fazer parar os passantes. Pomposas árvores no canto da estrada, no meio da estiagem, ao lado de um lajedo, próximas a uma casinha esquecida na curva da passagem de barro.
O floreio dos ipês no Sertão é um gole d’água no deserto. Refaz a alma quando adentra o corpo, como se o sangue necessitasse ser molhado. De belo, facilita a caminhada, reduz o reflexo padrão do marrom barrento de todos os cantos. Quebra a contínua cortina do azulão do céu, alivia o pó em nuvem que adentra todas as cenas.
No Sertão, os ipês estão floridos. Feitos os sorrisos do povo sertanejo, que brilham em meio ao rodízio do astro no firmamento, em espetáculos de início e fim de cada dia. Logo, se despirão do vestido amarelo e só restará um tapete aos seus pés, arrastado para o lado pelo vento. E, então, ganharão um verde natureza até chegar o tempo, dentro de um novo ano, nos ensinamentos cíclicos, a recontar a história para velhos e novos viajantes.







