


No abril de meus dez anos,
minha rua foi devastada
por um horizonte marítimo.
Era Mariana.
A errar, o cosmos começava,
e eu, da gravidade, me soltava.
Até então, meu coração
era um beco sem saída;
agora, a vida se rompia:
irrompia o outro
– vertigem e voragem.
No início da Noite de Natal,
sem avisar,
Mariana abandonou-me a cidade,
despediu-me a infância.
Toda vez que ouço o “Noite-feliz”,
acena-me oblíquo Noel,
e desembrulho por dentro
o pretérito presente...
Performance
Escolheu seu melhor ângulo.
Com pudicícia,
Evitou os parcos versos seus.
Disse Bandeira, Cecília, Drummond
– estrelas da vida inteira e sua Pasárgada.
Pronunciou os melhores silêncios.
Conseguiu. Seduziu.
Uma mulher, uma noite.
Acordou.
Sóbrio, inútil, verdadeiro.
Ressaca de tanta traição a si mesmo.
Certeza de que nenhuma Estela
Seria a Estrela da vida inteira.