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Cecília Por mim passam tantas vozes tantos silêncios tantas canções e essa menina que há em cada coração de leão. Por...

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Cecília


Por mim
passam tantas vozes
tantos silêncios
tantas canções
e essa menina que há
em cada coração de leão.


Por mim
passam noite e dia
passam recuo e ousadia
passam por mim passam
de enlaçadas mãos
o breve gozo, a lenta agonia.


Mas nesse tudo passar
também passo eu por mim
e ao fim de cada passagem
passo a ser mais só, mais mim,
retendo apenas ao fim
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Mariana


No abril de meus dez anos,
minha rua foi devastada
por um horizonte marítimo.

Era Mariana.

A errar, o cosmos começava,
e eu, da gravidade, me soltava.
Até então, meu coração
era um beco sem saída;
agora, a vida se rompia:
irrompia o outro
– vertigem e voragem.

No início da Noite de Natal,
sem avisar,
Mariana abandonou-me a cidade,
despediu-me a infância.

Toda vez que ouço o “Noite-feliz”,
acena-me oblíquo Noel,
e desembrulho por dentro
o pretérito presente...


Performance


Escolheu seu melhor ângulo.
Com pudicícia,
Evitou os parcos versos seus.
Disse Bandeira, Cecília, Drummond
– estrelas da vida inteira e sua Pasárgada.
Pronunciou os melhores silêncios.
Conseguiu. Seduziu.

Uma mulher, uma noite.

Acordou.
Sóbrio, inútil, verdadeiro.
Ressaca de tanta traição a si mesmo.
Certeza de que nenhuma Estela
Seria a Estrela da vida inteira.


Antonio Morais Carvalho é professor e poeta

Eu sou dos anos 50: ainda peguei o final do apogeu da Era do Rádio. Em Campina Grande, quem orientava o comportamento musical das massas er...

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Eu sou dos anos 50: ainda peguei o final do apogeu da Era do Rádio. Em Campina Grande, quem orientava o comportamento musical das massas era o rádio. E o rádio daquela época era universal e democrático: tocava tudo: forró, fox-trot, valsa, samba, bolero, choro, tango, rock, mambo, jazz, calipso, orquestras americanas, música francesa, italiana. Ouvia-se, também, muita versão do italiano e do inglês. E os garotos que ouviam rádio acostumaram-se a ouvir tudo, sem nenhuma discriminação.

O quarto era amplo, confortável, agradável. Todos os ambientes da casa foram decorados por um profissional, sem nenhuma interferência de Pa...

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O quarto era amplo, confortável, agradável. Todos os ambientes da casa foram decorados por um profissional, sem nenhuma interferência de Paulo, mas Dolores era mulher refinada e discreta, e nada na casa era exagerado ou de gosto duvidoso, a despeito das insistências e irritações do decorador. A cama ampla, em madeira de cor discreta, em linhas modernas, sem nenhum entalhe ou adorno, embora de estilo diverso, incrivelmente harmonizava-se com a cadeira de balanço, daquelas tradicionais com palhinha, que raramente balançava.

Por onde anda o vendedor de milho, aquele que, todos os dias, às cinco em ponto, suspendendo o movimento do mundo, surgia, em frente ao edi...

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Por onde anda o vendedor de milho, aquele que, todos os dias, às cinco em ponto, suspendendo o movimento do mundo, surgia, em frente ao edifício onde moro? Todos os dias, apesar da inconstância universal dos seres, dos eventos e das coisas, lá estava ele, exatamente às cinco, como se nunca houvesse saído dali.

Somente uma coisa eu sei fazer bem nessa vida: assobiar. Aprendi a assobiar ainda criança, com minha mãe, e saí assobiando vida afora. Eu...

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Somente uma coisa eu sei fazer bem nessa vida: assobiar. Aprendi a assobiar ainda criança, com minha mãe, e saí assobiando vida afora. Eu assobio como quem respira: involuntariamente. Por isto, às vezes assobio até mesmo em lugares talvez não tão adequados.