Flávio Tavares, aos 70, se reinventa. E inventa de alcançar os limites do seu próprio tempo. Elege esses dias de pandemia para sugerir exultante grafia em forma de poesia. E colhe luz de outros escolhidos e merecidos espelhos seus.
O que é o sonho, senão o desejo imponderável de alçar voos? O gesto desafiador em desenhar infinitos horizontes. A incontida voz que não descansa enquanto não alcança os amplos ventos do tempo.
Bem sei, amigo Roberto, da sua dor ou do seu desamor ao efêmero. Mas também tenho ciência de que a sua boa-fé, seu enorme entusiasmo e seu espírito empreendedor, mais do que tudo, defendem o amor e compreendem o valor do bem comum.
A sua esmerada crônica, a todo tempo, a nos oferecer inúmeras linguagens e outras iluminadas paisagens. A palavra, a seguir plena, como se fosse alvas águas de um rio. Ela nos conforta, nos fortalece, diante desse enorme vazio. Somente o tempo é mesmo capaz de nos fazer cruzar a linha do deserto, até chegar ao outro claro lado do azul.
A crise do coronavírus tomou de assalto o mundo inteiro e acabara de acometer mais uma de suas vítimas. O anúncio do fechamento do Correio da Paraíba apanhou a todos de surpresa. Qual uma pedra transversa, bem no meio do caminho. Assim, desse jeito. Feito pesado dardo, a atravessar o coração da gente.
Uma história de suor e lágrimas, de afeto e mãos dadas. De alento e talento, de vontade e sentimento. Permanentemente, erguida e vislumbrada por singulares ciclos ou estações, que tive a honra, num olhar mais próximo, de presenciar e por merecer. Fosse na leitura impressa de suas crônicas, fosse na troca de ideias para a edição, que resultou na reunião de parte delas, em seu primoroso livro "Como penso".
Iniciaria meus dias no Correio, com florescida lavoura de edições especiais, até o dia de reger a editoria de arte de O Momento, em sua nova fase, na década de 90. De volta aos bons ventos gráficos do Correio, nesses anos mais recentes, em convite acenado por Beatriz Ribeiro e encenado pelas mãos de Gerardo Rabello, ofereci novo projeto editorial à revista Premium, cria e menina dos olhos do jornal.
Mas o tempo, agora, nessa hora, é de confinamento. Distante e, ao mesmo momento, ausente do cotidiano e acolhedor ambiente da redação. Sem mais crônica a escrever, sem mais pauta a cobrir, sem mais conteúdo a publicar. Tempo de ficar em casa, de olhar mais para o outro. No lugar onde todos possam cuidar de todo mundo.
Há um tempo de sonhar, outro para acordar. Há um tempo de educar, outro para amar. Há um tempo de desaprender, outro para reaprender. Há um tempo de desconstruir, outro para reconstruir.
Sem esquecer, em instante algum, qualquer que seja o tempo, ele se assemelha ao sonho de quem ama as esplêndidas tintas bordadas sobre as cores do papel jornal. Imenso e intenso sonho do exercício diário da escrita e nossa maior fonte de inspiração. Entre o olhar de tantos, sobre o mar de todos.
De Afonso Pereira a Gonzaga Rodrigues, de Paulo Brandão a Martinho Moreira Franco, de Ascendino Leite a José Fernandes Neto, de Luiz Augusto Crispim a Rúbens Nóbrega, de Adalberto Barreto a Chico Ferreira, de Jurandy Moura a Carmélio Reynaldo, de Antônio Hilberto de Carvalho a Carlos César, de Biu Ramos a Fernando Moura, de Abmael Moraes a Alarico Correia Neto, de Carlos Romero a Abelardo Jurema Filho.
De Lena Guimarães à Sony Lacerda, de Antônio Vicente a José Euflávio, de Cristovam Tadeu a Pessoa Júnior, de Hélio Zenaide a Agnaldo Almeida, de Deodato Borges, pai e filho, a Chico Noronha, de João Manoel de Carvalho a Nonato Guedes, de Nonato Bandeira a Assuero Lima, de Angélica Lúcio a José Nunes, de Andréa Batista a Jãmarri Nogueira, de Gisa Veiga a Carlos Aranha.
De Silvana Sorrentino a Germano Romero, de Walter Galvão a José Marques, de Hélder Moura a Linaldo Guedes, de Fábia Dantas a Fábio Cardoso, de Tânia Paranhos à Paula Gentil, de Walter Santos a Wellington Farias, de Edson Veber a Augusto Magalhaes, de Edileide Villaça a Heron Cid, de José Alves a Edmilson Lucena, de Francisco França a Jorge Rezende, de Adriana Rodrigues à Martha Ribeiro, de Celino Neto a Anchieta Maia.
De Renato Félix a André Luiz Maia, de Amanda Carvalho a André Cananéa, de Marcela Sitônio a Land Seixas, de Maria da Guia a Gilberto Lopes, de Rafael Passos a José Carlos dos Anjos, de João Costa a Edinho Magalhães, de Lílian Moraes a Mr. K, de Adelson Barbosa a Caio de Lima, de Marianna Vieira a George Dellameida, de Ricardo Ramos a Adriano Franco, de Manoel Pires a João Damasceno, de Eliz Monteiro a Diego Nóbrega.
E tantos outros e outras, homens e mulheres, profissionais dedicados e abnegados. Sob o ânimo habitual e o esforço comum para fechar os cadernos do jornal, em 66 anos de circulação, concebiam e conseguiam levar à frente tamanho e afetivo batente.
Ao longo de toda uma vida, entre tristezas e glórias, o sonho de Teotônio Neto, por vezes, permanece na voz incontida do seu olhar, amigo Roberto, a deixar sua marca expressa e impressa sobre as folhas do tempo.
(*) Ao amigo Roberto Cavalcanti e a todos aqueles que conservaram, por largos anos, o hábito de tornar o café da manhã em deleite folheado pelas páginas do jornal.