Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903-1969) foi um filósofo, musicólogo, compositor e sociólogo alemão. Em sua obra Dialética Negativa (1966), influenciada pela Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, ele versa a libertação da alienação da consciência por meio da dialética como uma maneira de confrontar as forças opressivas da sociedade e do Estado. Para Adorno, encarar esse mal-estar significa despertar para a realidade da própria
existência e reconhecer que tal realidade surge de um contexto prévio que a influenciou, havendo um processo histórico implícito à formulação de políticas e a todas as atividades humanas. Escapar desse ciclo cruel é liberar-se da própria alienação, o que requer a negação das premissas estabelecidas para questionar a própria identidade, caracterizando assim a essência da ‘dialética negativa’ contra à necropolítica, que representa a politização da morte. A dialética adorniana revela modos de pensamento que vão além do que está visível na realidade. O seu senso crítico gera a autonomia do sujeito.
Há casos de relações humanas que sofrem devido à superficialidade em que estão sustentadas. Um sintoma dessa aflição é a crueldade de dominar o outro e viver preso a mentiras, o que tem levado as pessoas a perderem a capacidade de reconhecer a essência e o valor únicos de cada indivíduo. Esses padrões são alimentados por uma ideologia controladora que impõe comportamentos como normas discriminatórias, tornando difícil distinguir a realidade da artificialidade
O desenvolvimento da humanidade se deu pelos conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social e de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, também de conceber a realidade e expressá-la. Neste último processo, a História registra as transformações por que passam as culturas e as características que as unem e as diferenciam. A cultura é um produto coletivo da vida humana e está em constante transformação por ser um fenômeno da interação social e é necessária a percepção da identidade, dos costumes, das crenças e dos hábitos de cada comunidade, nação ou povo. Marilena de Souza Chauí (1941), filósofa e escritora brasileira, em seu livro Convite à Filosofia afirma:
A péssima condição para a subsistência humana é o critério que estabelece um conceito de pobreza. De acordo com o Banco Mundial, pobreza extrema é descrita como "uma situação de vida caracterizada por desnutrição, analfabetismo e doença, que está abaixo de qualquer padrão de dignidade humana" (WORLD BANK, 1980, p. 32). Dessa forma, a pertença social à miséria e sua carência enquanto garantia mínima de posse definem os indivíduos pobres como aqueles que vivenciam condições sub-humanas em relação às necessidades básicas como moradia, alimentação, saúde, educação, lazer, entre outras. Em seu livro The concept of poverty (1970), Peter Townsend (1928 – 2009) afirma:
"A pobreza só pode ser compreendida e aplicada no contexto do conceito de privação relativa".
(1979, p. 31).
A falsa tolerância é uma repressiva força ideológica, a fim de excluir, de dominar e manter um poder autoritário contra cidadãos destruídos pela miséria humana, que estão desprovidos de oportunidades para sobreviver dignamente. A crueldade de destruir para dominar torna um cidadão subordinado e submetido ao convencimento da existência de um poder maior, que deve ser obedecido.
O poeta e estadista alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) escreveu o poema Prometheus (1776), que aborda de forma irônica a relação dos seres humanos com o deus grego Zeus: "Devo honrar-te? Porquê? Alivias o fardo dos oprimidos? Enxugas, por acaso, a lágrima dos tristes?". Desse modo, Goethe destaca a tendência natural do ser humano à rebeldia. Esse conflito se intensifica na busca pela autonomia e liberdade pessoal. Em sua poesia Limite da Humanidade, o pensador reconhece a limitação dos humanos em cuidar de si mesmos e admira a divindade: "O que torna os deuses diferentes dos homens? Muitas ondas. Surgem diante das que partem uma corrente eterna: a onda nos ergue, a onda nos engole e naufragamos".
A “Economia de Comunhão” tem sido eficaz na resolução de diversos conflitos sociais em escala global. Através da solidariedade Cristã, ela tem fomentado a “unidade na diversidade”. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), na cidade de Trento, na Itália, um grupo de jovens italianas experimentou essa espiritualidade. Duas destas jovens eram Chiara Lubich (1920-2008) e Ginetta Calliari (1918-2001). Em meio aos destroços do conflito mundial e à loucura exacerbada da guerra, enquanto as bombas caíam e se abrigavam em bunkers, as primeiras seguidoras de Chiara, com idades entre 15 e 20 anos, vivenciaram a solidariedade por meio da prática do evangelho, revelando uma nova compreensão sobre o novo significado do amor recíproco.
“Até quando o mundo será governado pelos tiranos?
Até quando nos oprimirão com suas mãos cobertas de sangue?
Até quando se lançarão povos contra povos numa terrível matança?
Até quando haveremos de suportá-los?” Bertold Brecht (1898 – 1956).
A identidade é o senso de pertencimento no espaço social, na cultura, no idioma, na ancestralidade e em tudo onde uma pessoa está inserida. Existem cidadãos em situações sociais de invisibilidade geradas pelas relações interpessoais ou socioeconômicas, as quais são resultados de preconceitos, discriminações e desigualdades estruturais. Por exemplo: segregação social; etnia; status socioeconômico; religião; sexualidade; comunidades indígenas. Stuart Hall (1932 - 2014), sociólogo britânico-jamaicano, em suas obras Identidade e diferença:
violência simbólica representa uma ameaça à dignidade da pessoa, resultando em sua submissão, seja de forma psicológica, econômica ou social. Essa prática ocorre com a conivência tanto da vítima quanto do agressor, muitas vezes sem que percebam — com lucidez — o que estão vivenciando ou praticando. O conceito foi introduzido pelo filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930 - 2002). A natureza violenta de uma força simbólica coercitiva é complexa em sua manifestação, tornando-se mais sutil para ser
Os conflitos entre seres humanos, geralmente, destroem a dignidade dos indivíduos. Essas tensões levam à voracidade de controlar um grupo ou alguns cidadãos. Um dos efeitos disso é a insensibilidade perante as necessidades básicas de sobrevivência e a disseminação da banalidade do ódio. O pensador norte-americano Avram Noam Chomsky (1928), conhecido por suas contribuições como filósofo, sociólogo, cientista cognitivo, analista político e econômico, além de professor de Linguística no Massachusetts Institute of Technology (MIT), argumenta que toda crise é, em sua essência, um problema de origem institucional. Ele apresenta essa tese em vários de seus livros. Um deles é Internacionalismo ou extinção: Reflexões sobre as grandes ameaças à existência humana (2020). Ele defende que a solução está em uma intensa pressão popular, mesmo sob ataque de discursos de ódio. Chomsky enfatiza que a participação ativa dos cidadãos na construção do bem-estar social é a maior prioridade para a sobrevivência de todos, a construção da harmonia social, a preservação das instituições e o fortalecimento da democracia, a fim de evitar conflitos armados e proteger a existência humana. Segundo ele, a pressão pública - através de práticas democráticas e do respeito mútuo no diálogo entre diferentes correntes de pensamento - é capaz de eliminar quaisquer sistemas autocráticos ou autoritários.
O cientista brasileiro Arlindo Ribeiro Machado Neto (1949 - 2020), em sua obra Arte e mídia (2007), afirma: “A arte atual está dentro de um contexto de transformação da representação artística através da produção midiática, do fazer arte nas mídias ou com as mídias" (2007, p. 24). Para ele, o artista, cada vez mais, encontra um público diversificado que não mais direciona seu olhar para a apreciação da obra, mas para uma experiência estética. Segundo o pesquisador: “A arte neste século ocupa outros espaços e exige um redimensionamento no seu significado, enfrenta o desafio da sua dissolução e da sua reinvenção como evento de massa" (2007, p. 30).
Zygmunt Bauman (1925 – 2017) foi sociólogo e filósofo, nasceu na Polônia e exerceu suas atividades acadêmicas no Canadá, Estados Unidos, Austrália e na Grã-Bretanha. Tornou-se professor emérito de Sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Em seu livro Modernidade líquida (1999), o sociólogo versa que a modernidade líquida é leve e dinâmica e está em oposição à uniformidade da modernidade sólida. Para o pensador, a atual sociedade foi reduzida a valor de consumo por ter um preço materializado pela influência do poder econômico. Por exemplo, o amor, numa cultura da sociedade líquida, é tratado à semelhança de outras mercadorias. Os seus livros mais lidos são: Ética pós-moderna (1993); Medo Líquido (2006); Modernidade e Ambivalência (1991); Vida para o consumo (2008); Tempos líquidos (2006); Vida Líquida (2005), dentre outros.
Demócrito, nascido em 460 a.C. e falecido em 371 a.C., é conhecido como um filósofo grego que versou temas referentes a filosofia da natureza, matemática, ética e música. Ele é reconhecido por ter desenvolvido a teoria atomística, fundamentada nas ideias de seu mestre Leucipo, um filósofo grego que viveu no século V a.C. A tese principal dessa doutrina é apresentar a matéria sendo infinitamente dividida até chegar a uma partícula indivisível, o átomo.
O ensaio Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, publicado em 1755, foi escrito pelo filósofo, teórico político, escritor e compositor genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778). Essa obra ainda influencia o pensamento cultural e político nos dias atuais. Uma das suas teses afirma que o ser humano vive entre a razão e os sentidos. Por conta disto, somente a partir do momento em que a pessoa decide agir na busca da “vontade geral” de sua comunidade é que se torna livre. Essa liberdade rousseauniana se manifesta na ausência de dominação.
Os textos políticos do jurista e economista alemão Maximilian Karl Emil Weber (1864 — 1920) abordam as interações entre indivíduos na sociedade, destacando as atuações deles como fonte de informações para análises sociológicas. Seus conceitos de poder e dominação são fundamentais em sua teoria sociológica. Em seu livro "Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva" (1921), no volume 2, no capítulo 9, o autor explora temas relacionados à "sociologia da dominação".
A mitomania é a compulsão pela mentira, contada de forma consciente, que tem por objetivo a autoproteção ou, muitas vezes, o falseamento da realidade, de maneira a fazê-la parecer melhor. O mitomaníaco não consegue parar de mentir, e ele mente sobre sua realidade para fazê-la parecer melhor, aparentar mais do que tem ou encobrir algo. O ato de mentir é um sintoma de adoecimento psíquico,
A anomia social é a desintegração das normas sociais que pode ser o princípio de um fato social desprovido de dignidade humana. Por fato social observa-se a sua função de generalidade, coercitividade e exterioridade ao cidadão. O conceito de desordem (anomia) foi apresentado pelo sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês David Émile Durkheim (1858 - 1917) para descrever as tensões sociais destrutivas da sociedade moderna, racionalista e individualista, podendo ser empregado em diferentes áreas do conhecimento com o objetivo de analisar
O desejo de viver e de morrer pode ser estudado pelos personagens Eros e Thánatos da Mitologia Grega. Também na Psicanálise do médico neurologista, psiquiatra austríaco Sigismund Schlomo Freud (1856 — 1939). A Mitologia Grega é um conjunto de contos e lendas que os gregos antigos usavam para explicar o mundo ao seu redor. Isso ocorreu aproximadamente mais de setecentos anos antes de Cristo. Eles criaram os fundamentos da cosmologia, da ciência, da filosofia, da literatura, da arte e da religião. A crença afirmava que as deusas e os deuses gregos controlavam
as forças da natureza e as ações humanas. Foram usados para explicar, também, os costumes, a cultura, a sociedade, a origem do Universo e da vida. O termo mitologia vem do grego antigo μιτος (mitos), que significa conto ou lenda, e λογος (logos/razão ou princípio da inteligibilidade), que significa estudo. A psicanálise freudiana surgiu no século 19. É um método que iniciou na investigação para o tratamento de distúrbios neuróticos. Essa teoria revelou a existência do inconsciente humano.
Na Mitologia Grega, Eros é o deus do amor, da fertilidade e da paixão. Thánatos é o deus da personificação da destruição e é representado por uma nuvem prateada que arranca a vida dos mortais. Na psicanálise de Freud, Eros é a energia vital que mantém o equilíbrio do psiquismo, motivando o ser humano a crescer, desenvolver-se e a impulsioná-lo à busca de bem-estar. Thánatos é a energia que motiva o ser humano a criar a própria destruição, eliminando o sentido de viver.
A médica e psicanalista russa Sabina Nikolayevna Spielrein (1885 — 1942), em seu artigo Destruição como origem do devir (1912), apresentou, pela primeira vez para ciência médica, o conceito de pulsão de morte. Esta definição influenciou a teoria da Metapsicologia desenvolvida por Freud que descreve a organização e o funcionamento do psiquismo nas obras Além do Princípio do Prazer (1920) e no Mal-estar na civilização (1929). Nelas, ele usa a expressão Todestrieb (“pulsão de morte”) sendo a oposição entre as pulsões do ego ou da morte e os instintos sexuais ou de vida. Em Além do Princípio do Prazer, um dos temas é sobre a compulsão à repetição,
que leva o ser humano a reconhecer duas formas de impulsos: a pulsão de vida, que é lançada por Eros e representa a vontade de viver e de se preservar; outro é a pulsão de morte, que é lançada por Thánatos, que é o impulso destrutivo em direção à morte. Essas pulsões estão se movendo sempre simultaneamente para satisfazer a conservação da própria vida. Em O Mal-estar na Civilização, Freud demonstra que a cultura produz uma falha psíquica no indivíduo por meio do conflito entre as necessidades do indivíduo contra a brutalidade de uma sociedade, que é oprimido em suas vontades e vive na frustração do desejo de construir o pertencimento diante das expectativas de uma sociedade normativa e inflexível, surgindo o ódio nessa tensa relação. Uma forma do indivíduo suportar a exclusão social e suas falhas existenciais é cria um deus para sublimar o próprio mal-estar.
Sigismund Freud, em 1927, ao escrever O futuro de uma ilusão, descreve as origens da religião, o seu desenvolvimento e futuro. Para o psicanalista, o homem criou a religião para corrigir as imperfeições dos perversos relacionamentos humanos. A religião é uma neurose universal que são dogmas transmitidos pelos antepassados que são impedidos de serem questionados. As crenças religiosas apresentam o desejo de afirmar a existência de um pai e a continuidade da existência através da imortalidade da alma.
A religião se apresenta como a necessidade de acolher o desamparo do homem no mundo que tem de enfrentar o destino cruel da morte; contra a luta embrutecida entre os homens, países e das destrutivas forças da natureza. Os senhores das religiões exercem a imagem de um pai que exorciza os terrores dos fenômenos naturais; anestesiam as dores de existir com a crueldade do destino. Os seguidores da neurose universal (religião) sublimam as próprias falhas psíquicas e existenciais através dos sofrimentos e de se torturarem nas privações que a vida civilizada impôs a eles. Nas patologias das ilusões alimentadas perversamente pelas religiões, o indivíduo — movido de pulsão de morte e de vida — necessita criar o próprio deus para eliminar o outro como uma forma de se purificar do próprio mal.
Para o psicanalista, a cultura e a religião criam a ilusão de afastar o indivíduo da selvageria humana, têm como objetivo conviver com as forças da natureza para dá suporte à vida e atender as necessidades do outro para que as relações humanas sejam harmonizadas. A neurose da religião gera o ‘reino do pai’ na cultura, mesmo que seja o reino do ódio e do terror que estão conduzidos pelos impulsos de Eros e Thánatos ou seja da pulsão de morte e de vida.
O livro A Ideologia Alemã foi escrito pelos empresários alemão Friedrich Engels (1820 – 1895) e pelo filósofo, economista, historiador, sociólogo alemão Karl Marx (1818 – 1883). A obra é um conjunto de manuscritos redigidos entre os anos de 1845 e 1846. Os dois pensadores denunciam a corrupção do estado prussiano, a pobreza e o processo de alienação causado pela religião nos cidadãos. Marx afirma que a religião não é a base do poder institucional de uma doutrina, mas em vez disso é a posse do valor incorporada em dinheiro, de posse da terra e da exploração dos meios de produção pelo trabalho. Ele percebeu que a religião tem a brutal e perversa força de poder coercitivo e de alienação, também era um amparo para o cidadão oprimido.