Uma amiga tem chorado e dormido mal nos últimos dias. Não, o motivo não é a covid-19, que provoca temor e ansiedade mas já não arranca lág...

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Uma amiga tem chorado e dormido mal nos últimos dias. Não, o motivo não é a covid-19, que provoca temor e ansiedade mas já não arranca lágrimas a não ser daqueles que perderam seus entes queridos. O motivo é a morte do menino Henry, que foi supostamente torturado e assassinado pelo Dr. Jairinho (a imprensa bem que podia cortar esse diminutivo, que soa irônico).

O texto que apresento a seguir, sobre o soneto “Último Credo”, de Augusto dos Anjos, é fruto do diálogo sistemático que tenho em sala de aul...

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O texto que apresento a seguir, sobre o soneto “Último Credo”, de Augusto dos Anjos, é fruto do diálogo sistemático que tenho em sala de aula, procurando estabelecer um caminho metodológico de leitura analítica e crítica.

Certamente, alguns devem estar incomodados com o título atribuído a este ensaio – “A equação da espiritualidade”. O incômodo é proveniente de se ver, habitualmente, Augusto dos Anjos como o poeta da morte, sentido que ganhou uma dimensão inercial, de tanto repetido. Digamos que, de um modo didático, podemos caracterizar a sua poesia da seguinte maneira: os poemas constituem um sistema de vasos comunicantes, devendo ser lidos em conjunto, cuja linguagem científica

Em 2017 fui a um show do Roberto Carlos. Planejei ir e cheguei a desistir por causa dos preços. No último minuto, incentivada por um fã a...

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Em 2017 fui a um show do Roberto Carlos. Planejei ir e cheguei a desistir por causa dos preços. No último minuto, incentivada por um fã ardoroso, comprei o ingresso. Paguei caro, mas me dei ao desfrute de ver o Rei. Sozinha, pego um Uber e o que está a tocar? Mayara e Maraísa... só para começar a noite.

Tive oportunidade de ver Roberto na minha meninice. Primeiro no Astrea, escalando muros e obrigando a minha mãe (jovem na época) a fazer o mesmo. Até hoje ela relembra: “o que não se faz por uma filha!” Mas sei que adorou a desculpa e ama Roberto Carlos até hoje.
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E quando escuta “Como é grande o meu amor por você”, diz que se lembra dos namorados das quatro filhas...

Todos esses anos, assisto ao programa Especial de Roberto Carlos na TV, em final de ano. Quase um ritual para passar a limpo aquelas músicas que fizeram a trilha da minha adolescência e que até hoje me emocionam. Gosto muito da voz de Roberto e do seu repertório. Claro que sua fase religiosa não é a minha preferida, e muitas outras músicas também não gosto. Admiro muito o tempo que se mantém como Rei, com toda sua legião de fãs que não arredam o pé. Há muitos anos que não compro um CD seu, mas a maioria das suas músicas, vivi, fiquei na fossa, me encantei, namorei e me embalei nos sonhos de uma jovem menina-moça.

Logo no início do show, Roberto nos brinda com Que vá tudo pro inferno. Li nos jornais e no blog do fã e crítico Sílvio Osias, que, devido à sua doença (TOC), ele não cantava essa música; a palavra inferno maltratava-o. Gracias a la vida, fez tratamento e já cantou na TV. Ouvir esse hit que adoro, com arranjos mais que incrementados, me passou o filme. Tinha meus 11 anos, veraneava em Areia Dourada (que chamávamos Praia do Osso), gostava de pensar na vida (sempre fui sonhadora e contemplativa ), quando ouvi essa música pela primeira vez. E desde então que fiquei tocada e tomada. A letra era transgressora. O ritmo também. E eu, uma pré-adolescente que queria mandar tudo pro inferno!
E o meu compact disc realmente furou de tanto que ouvia e dançava pela casa, ou pelo coqueiral lindo daquela casa à beira mar que meu pai comprara, e um dia tive o luxo de veranear.

O show — como já disse Silvio — é impecável. Uma qualidade que supera todo e qualquer desconforto da casa de shows. Um som! Uma qualidade! Uma orquestra de músicos inigualáveis. As cordas, os metais e a voz bela de Roberto. Profissionalismo e respeito para com os fãs. Sem falar das dezenas de rosas jogadas às mulheres enlouquecidas à beira do caminho. Digo do palco! Claro que, se pudesse, meteria a mão naquele seu cabelo e assanhava todo. Mas acho que, com a sua doença da perfeição, aquele cabelo se parece com os cachos lindos ao vento das curvas da estrada de Santos. Tudo se perdoa! Inda mais um cabelo!

Enquanto assistia a "Lady Laura", chorei com saudades de uma mãe perdida no meu inconsciente. Por que que é eu rolo na cama? – sem comentários; Detalhes , "Nós dois", Amada Amante (Ah! Quem um dia já não foi?!), e principalmente Sua estupidez – uma nostalgia for the past! — fiquei com saudades eternas dos meus namorados ou amores pela vida. Alô Alô, pessoal! Lembrei de cada um de vocês, viu!. Dos beijinhos no portão escondido. Dos amassos proibidos. Dos olhares arregalados. Dos arrepios. Dos sonhos eróticos, mas não só. De beijo mais longo. Do mais estrelado. Dos toques. Da iniciação sexual. Dos jambeiros cúmplices/silenciosos da minha casa. Do escondido. Do velado. Do sagrado. E mais ainda do profano! E das pequenas transgressões da menina. E das grandes também.


É por isso que gosto de Roberto, que hoje completa 80 anos de idade! Sua música embalava um tempo da jovem guarda, que era um tempo meu. Assistia a todos os programas de TV. Só depois viria a ser mutante, tropicalista, revolucionária e mulher de Atenas! Comprei minha calça Saint-Tropez, vesti mini-blusa, me rebolei nas matinês do Cabo Branco. E peguei na mão daquele que um dia viria a ser o meu marido. E outras também... às escondidas e às claras. Roberto fala de tudo isso. E com uma melodia que nos transborda de alegrias, saudades, nostalgia e amor.

Naquele show de 2017 fiquei feliz. Muito. Adorei ver os casais jovens dançando. E pensei: “que amor!”, dançar ao som de Roberto, ao vivo. Ao meu lado havia um casal de meia idade (não sei bem o que isso significa...) e quando Roberto cantou seu mais novo sucesso, "Sereia" (trilha da novela A força do querer), a jovem senhora de cabelos brancos agarrou selvagemente seu companheiro e tascou-lhe um beijo na boca. Beijo em pé, como dizemos! Ele carinhosamente abraçou-a e retribuiu, e daí engataram uma dança de rosto bem colado, ardentes e botando o amor em dia. Pensei: “Ai Ai, meu Deus! O amor é mesmo lindo!”. Senti muitas saudades, não somente do meu querido Juca (amor eterno), mas dos outros amores também. De todos. Dos meus antigos namorados. Nem foram tantos! Mas um bocado para o gasto das lembranças queridas e para cantarolar Roberto Carlos e os botões da blusa...

Ainda estou a cantar pelo meio da casa: Chegaste , "Sereias", Esse cara sou eu , Outra vez , Como vai você , Olha , Desabafo , Se você pensa , e Como é grande o meu amor por você . Antes era a minha mãe que chorava, hoje sou eu, com uma saudade grande dos amores da vida, que na verdade é uma saudade de mim mesma, saudade da vida. Saudade do tempo! Roberto nos resgata essa vida, e mais ainda, esse tempo.

Roberto é bárbaro!
Dedicado a Sílvio Osias e Martinho Moreira Franco

Teve sim, esse momento de não lhe ser tão difícil mover-se na escuridão quanto raciocinar dentro dela. Segundo disse, foi num quase su...

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Teve sim, esse momento de não lhe ser tão difícil mover-se na escuridão quanto raciocinar dentro dela. Segundo disse, foi num quase surto, quando se apercebera, por fim e de repente, que uma parte de seu eu viera precocemente se esvaindo naquele turbilhão de horas mortas — no meio de uma palidez de lajedos mergulhando em resfriamento profundo e crescente anulação de presença, mas até um último momento permanecendo capaz (aquela palidez) de fornecer algum contraste a olhos já então mais adaptados, denunciar uma lança espectral de gravatá, ou a sombra sem fundo de uma garganta de pedra —, e após o descortino do vulto lânguido e esguio de um lobo.

A história da família Rolim dá um romance. Mas essa não foi a opção do engenheiro e historiador paraibano Sérgio Rolim Mendonça ao escrev...

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A história da família Rolim dá um romance. Mas essa não foi a opção do engenheiro e historiador paraibano Sérgio Rolim Mendonça ao escrever sobre sua ascendência familiar em seu mais recente livro, A saga do Chanceler Rolin e seus descendentes, publicado, em caprichada e bonita edição, pela Editora Labrador, de São Paulo. Talento literário para isso, se fosse o caso, não lhe faltaria nem falta, à vista do que já mostrou quando da publicação de suas memórias (ou autobiografia),

Na província em que o garoto morava, ainda não havia televisão: o cinema e os gibis (as revistas em quadrinhos) formavam o imaginário de c...

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Na província em que o garoto morava, ainda não havia televisão: o cinema e os gibis (as revistas em quadrinhos) formavam o imaginário de crianças e adolescentes do seu tempo, e o faroeste era o gênero preferido daquela molecada.

Eu, em plena quarentena, ontem revi Valdenice, mal evitei os beijinhos pela própria pirronice(*). Até que ouvi o atchim e vi-me perto do f...

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Eu, em plena quarentena, ontem revi Valdenice, mal evitei os beijinhos pela própria pirronice(*). Até que ouvi o atchim e vi-me perto do fim.

Até os anos setenta Tambaú não era ainda o que se pode chamar de uma praia urbana. Configurava-se, principalmente, como um espaço de laz...

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Até os anos setenta Tambaú não era ainda o que se pode chamar de uma praia urbana. Configurava-se, principalmente, como um espaço de lazer, para se usufruir o seu mar tranquilo, considerado excelente para o banho. Poucas pessoas faziam do bairro a sua moradia. Os mais abastados possuíam domicilio na cidade e uma casa de veraneio em Tambaú.

Eu esperava o elevador com quatro sacolas de compras em cada mão e uma delas estava segura justamente pelo “dedo mindinho”, o mais fraquin...

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Eu esperava o elevador com quatro sacolas de compras em cada mão e uma delas estava segura justamente pelo “dedo mindinho”, o mais fraquinho de todos, e começava a doer, mas o elevador já ia chegar. Será que compensa colocar no chão e perder todas as alças já devidamente organizadas nos dedos? O elevador é uma incógnita, sempre na iminência de chegar, mas nunca chega, a não ser quando colocamos as sacolas no chão, nesse caso, chega imediatamente.

Em Pilar, todos os seus amigos o tratavam por Cláudio, o nome de batismo. Em João Pessoa, naqueles começos de 1960, ele era conhecido por ...

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Em Pilar, todos os seus amigos o tratavam por Cláudio, o nome de batismo. Em João Pessoa, naqueles começos de 1960, ele era conhecido por Marcelino, apelido adquirido da semelhança impressionante com o ator mirim Pablito Calvo. Este último se fizera mundialmente conhecido pelo filme “Marcelino, Pão e Vinho” (1955), a história comovente do órfão criado por frades católicos, em plena revolução mexicana.

A subestima não é grave erro apenas para os que tendem a avaliar desse modo as forças do inimigo, como exemplifica o dicionário Aurélio an...

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A subestima não é grave erro apenas para os que tendem a avaliar desse modo as forças do inimigo, como exemplifica o dicionário Aurélio antigo. Deixar de ler um livro que se recebe ou de passar-lhe as vistas, se não constitui erro grave, resulta às vezes em prejuízo. Menos para o autor do que a quem é dedicado.

Em A besta humana ( La bête humaine , 1890), Émile Zola põe na boca da personagem Séverine Roubaud os detalhes do assassinato do senhor ...

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Em A besta humana (La bête humaine, 1890), Émile Zola põe na boca da personagem Séverine Roubaud os detalhes do assassinato do senhor Grandmorin, presidente da companhia de trens, por seu marido, que fez dela cúmplice forçada. O crime acontece no interior de um trem, que se desloca de Paris ao Havre (Capítulo II), e só nos é mostrado fragmentariamente. O leitor tem conhecimento do acontecido, não tem dúvida a respeito dos culpados, mas faltam-lhe os detalhes do ocorrido.

A insônia é ladra impune. O sono é levado e o lesado fica ridiculamente rolando na cama, espichando os olhos para o céu, escutando o ronc...

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A insônia é ladra impune. O sono é levado e o lesado fica ridiculamente rolando na cama, espichando os olhos para o céu, escutando o ronco das motos e carros, pensando. Ou se debate ou abre um livro para ler, se é que não escolhe algum filme da sessão coruja. Não sabe o insone que ele ou ela o é.
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O momento que vivemos no país me levou ao Minory Report , que Spielberg lançou em 2002. O brasileiro Miguel Angelo Laporta Nicoelis , que ...

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O momento que vivemos no país me levou ao Minory Report, que Spielberg lançou em 2002. O brasileiro Miguel Angelo Laporta Nicoelis, que foi o primeiro cientista a receber, no mesmo ano, dois prêmios dos Institutos Nacionais de Saúde estadunidenses, o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science, e que lidera um grupo de pesquisadores da área de Neurociência na Universidade Duke, Durham (Estados Unidos), disse, ante os mais de 350 mil mortos pela covid 19 no Brasil, que “podemos chegar a 500 mil na metade do ano”.

Minority Report:

“No ano de 2054, há um sistema que permite que crimes sejam previstos com precisão, o que faz com que a taxa de assassinatos caia para zero”.

Nicolelis fala, portanto, como um dos três chamados Precogs, que "previsualizam" crimes , recebendo visões do futuro, uma delas, a de que Anderton (Tom Cruise) vai assassinar um homem chamado Leo Crow – que ele sequer conhece - em 36 horas.

Isso me remete, por sua vez, ao “Édipo Rei”, de Sófocles, em que o oráculo de Delfos prediz que ele matará o pai e se casará com a mãe, o que significa que – em 429 a.C e no ano 2054 – continuamos com o velho problema envolvendo Liberdade e Determinismo.

Anderton, no entanto, fica sabendo que um dos Precogs tem uma visão diferente dos outros dois, um "relatório minoritário" - o Minority Report do título - de um possível futuro alternativo.

A vida imita a arte:

Alessandro Vieira, Jorge Kajuru e outros senadores cobram de Rodrigo Pacheco – presidente do Senado - a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) , destinada a investigar as ações do governo no combate à pandemia de coronavírus.

Mas…

Pacheco – que deve o cargo a Bolsonaro - reiterou que o momento atual não favoreceria a abertura da comissão parlamentar de inquérito e que aguardaria a posição do STF sobre o pedido apresentado à Corte pelos senadores. E é informado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) sobre decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que determinou a instalação da CPI.

Falei em Édipo, em Precog, em Nicolelis, no STF, no Pacheco. Leiam isto:

Mateus 13, 13-15:

- Por essa razão eu lhes falo por parábolas: "Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem”.

Neles se cumpre a profecia de Isaías:

"Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria”...

“Sou um arquiteto igual a milhares, com o nome de William Blanco Trindade, que também se assina Billy Blanco , tirando de letra e música ...

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“Sou um arquiteto igual a milhares, com o nome de William Blanco Trindade, que também se assina Billy Blanco, tirando de letra e música as coisas da vida”

Assim o compositor Billy Blanco se apresentava na introdução do seu livro “Tirando de Letra e Música” (Editora Record, 1996). Nada mais correto. O arquiteto, que foi durante muitos anos da sua vida, era também um excepcional compositor que “tirava de letra e música as coisas da vida”, até porque, como ele costumava dizer,

Tarde em Tambaú Restos de nuvens São bailados de andorinhas. Não me comoveu A morte daquela noite. O galo cantou Reló...


Tarde em Tambaú Restos de nuvens São bailados de andorinhas. Não me comoveu A morte daquela noite. O galo cantou Relógio de meu pai. Na parede, inerte, Fala-me de todas as horas.