Visita Ontem, ao contemplar As lágrimas cristalinas da chuva sobre as romãs Me visitaste.

Chuva sobre romãs

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Visita
Ontem, ao contemplar As lágrimas cristalinas da chuva sobre as romãs Me visitaste. Foi um colóquio demorado, desfile de páginas queridas De um livro inviolado, que eu queria tanto reler Com outro olhar. Tu me olhaste E num segundo, rompemos o casulo do impossível, Translúcidas borboletas, voamos ...e tudo estava inteiro. O quintal reluzindo sob o sol de ouro, as mangueiras em flor A goiabeira aflita, já cansada, risos em cascata, Crianças em seus galhos, brincando, penduradas. O tapete de flores de jambeiro O cheiro da comida no fogo e o amor Belo, louco, exaltado, cantando a beleza de viver Entre abraços apaixonados Queixas inflamadas Chegadas e partidas. Há muitos anos... mas nessas coisas o tempo inexiste. Ainda ecoam pelos cômodos da casa, entre paredes Oásis que apesar do deserto da ausência resiste Palavras e promessas encantadas. Por isso, posso cantar o magnificat, grata pela vida Em êxtase, burlando a saudade Ela própria tornada cântico sagrado, nesta clara manhã Acompanhado do coro das lágrimas cristalinas Da chuva caindo sobre as romãs. Momento
E justamente agora É pura falta O que transita em mim Notas esparsas na pauta Vaga melodia Ritmo alterado E o sal dessa hora lavado No rosto e no gosto Da erma travessia Que se estende sem fim Porque me habitas
Porque me habitas, eu, sombra itinerante Ando buscando em infindável romaria O habitante da ilha desaparecida. O andarilho das estradas do meu ser O Maestro da orquestra do meu coração Que me ensinou a ouvir o som da vida. Ânsia que me consome Pouso, alegria e paz Que busco incessantemente, mas Sem saber se estou longe, ou se estou perto. Transida de uma saudade Que clama por transparência Que sendo bem, vai se tornando um mal Espinho crucial Fincado na ausência. Último ato
Então se instala o langor, mas o cérebro não para Voa, entre os suspiros mansos Do vento, nas oliveiras guardiães que se curvam. Passos, preces, prova, entrega. Intransferível batalha Sempre nova, de fragmentos dessa eternidade Colando-se às retinas exaustas, Esmagando corpo e alma já dilacerados. Morrer um pouco todos os dias A cada instante É apenas ensaio para a hora final. O denso, o claro e o escuro se mesclam Nessa bruma impenetrável, contra a adaga que rasga De um a outro lado, despudoradamente Sob o gosto do vinho avinagrado Em cálice de agonia. E não basta ainda Resta caber na moldura sob medida Tela crua, pés e mãos atados, pregados. E o sono que acolhe, em discrição profunda O último ato.

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  1. Belas poesias👊👊👊👊👊👊
    Parabéns👊👊👊👊👊👊👊👊👊
    Milfa Valerio👊👊👊👊👊👊👊
    Paulo Roberto Rocha

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