A Semana Santa há de ser sempre tempo de lembrar as lições cristãs mais duras. Justamente as que recusamos praticá-las. Falo daquelas que Jesus Cristo praticou com altivez e resignação, como sacrificar-se pelos seus semelhantes. Ou expulsar os vendilhões do templo. Ou desafiar alguém a atirar a primeira pedra se não tivesse pecado.
Quem há de dar a outra face ao ser agredido, num tempo em que a vingança faz parte da personalidade humana cada vez mais?
Jan Steen
Só via era o povo chegando com os garrafões de vinhos. Cunhados, primos, irmãos, irmãs…
Na quinta-feira já começavam as homenagens a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Da forma mais profana possível, porque no Brasil tudo termina em festa.
Muito vinho, muito peixe, uma música suave e muita conversa. O peixe geralmente era Tucunaré ou Curimatã, quando em Cajazeiras (todos de água doce), ou outros que não lembro o nome, quando em João Pessoa (todos de água salgada). O vinho ainda eram os famosos garrafões Dom Bosco, Carreteiro e outros parentes tão pouco nobres quanto eles.
Jan Steen
Mas de tão simples, era tudo encantador, porque sobrava alegria e a família estava mais uma vez reunida.
Tempo em que o peixe era sagrado, não apenas para os pecados da gula. Como se estivéssemos na Roma ou Grécia antiga, em rituais de paz, alegria e confraternização.
Mas atire a primeira pedra quem nunca pecou, eu dizia. Difícil alguém ter coragem de fazer isso. Todos pecamos, sim, se é certa a definição de pecado que está na Bíblia. Mas pecamos principalmente pela forma como agimos no dia-a-dia. Vejo tantos religiosos, que frequentam cultos e missas intolerantes, preconceituosos, arrogantes, egoístas. Essas pessoas são aparentemente cristãs. Pregam a palavra de Deus e adoram condenar os outros. Pior é que elas se impõem na sociedade pelas atitudes que alardeiam praticar, não por causa das que pratica de fato.
Jan Steen
Quer vinho, venha…
Era a máxima repetida na homenagem a Santa Ceia, enquanto na cozinha se preparava mais peixes e bacalhau.