Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que perten...

A louça branca de porcelana

saudade lembranca valores
Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que pertenceu a sua mãe. Essa história me tocou e, nostálgica e tristemente, fiquei pensando num tesouro, uma relíquia, que tínhamos em nossa casa.

Em meio a tantas dificuldades para minha família se alimentar, além de vestir e manter sete filhos pequenos, causava-me estranheza a existência daquela louça branca de porcelana, delicada e fina, guardada a sete chaves, num velho móvel tipo Luiz XV.

saudade lembranca valores
@schmidt
A parafernália, comprada em suaves e intermináveis prestações, tinha 120 apetrechos! Era tanta coisa, em tantos formatos e tamanhos, que nos enchia os olhos acompanhar com qual cuidado ela era manuseada e colocada em cada lugar.

Ali onde era guardada, não podíamos ir. Era ambiente sagrado. Comer nos pratos e tomar café naquelas xícaras bordadas com pequenas flores cor de rosa e verde, em cujas bordas havia frisos dourados, nem pensar!

Porém, como se por um milagre, tínhamos a chance de ver o aparelho em uso, quando, principalmente, recebíamos visitas, quase sempre artistas que vinham se apresentar no cinema da cidade, administrado por meu pai. Eu ficava olhando de longe, observando a mesa ser posta, em meio ao contraste provocado pela velha mesa encardida, com suas pesadas cadeiras sem graça e desiguais.

saudade lembranca valores
@schmidt
Eram momentos mágicos e, ao mesmo tempo, de extrema concentração por parte de minha mãe e de quem a ajudava a arrumar tudo. Após o almoço ou jantar oferecido, vinha o momento mais complicado: a lavagem, a secagem e a volta dos utensílios ao seu lugar de sempre, até que fossem outra vez requisitados.

Com orgulho e comoção, minha mãe dizia que já tinha recebido inúmeros famosos de renome à época, como Luiz Gonzaga, Marinês, Abdias, Teixeirinha, Alcides Gerardi, entre outros.

Hoje, o que resta do jogo de porcelana, agora amarelecida, permanece lá, intocado, na mesma inércia e estado de alumbramento, sem nunca ter pertencido nem servido, de fato, a ela.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também