O Fundamento da Doutrina da Ciência , de 1794/95. é um dos livros que estruturou o Idealismo Alemão. Nessa obra, seu autor, o filóso...

Idealismo da subjetividade

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O Fundamento da Doutrina da Ciência, de 1794/95. é um dos livros que estruturou o Idealismo Alemão. Nessa obra, seu autor, o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte (1762 - 1814), analisa a subjetividade e afirma que o “Eu” é necessário para a compreensão filosófica da relação cognitiva e prática com o mundo. Ele sugeriu a superar as contradições entre ciência e moral, entre sensibilidade e entendimento. Suas teses influenciaram os ideais do Primeiro Romantismo alemão, que priorizava a humildade, bem como de conviver com a dignidade dos sofrimentos construída na sensibilidade; e, impulsionado pela intuição, buscava na arte a relação harmoniosa do ser humano com o Universo. Os românticos desejavam reconhecer todas as dimensões do ser, sendo ele constituído pelo sentimento e pelo afeto, com isso, eles valorizavam o conhecimento do domínio
Fonte: Biblioteca Austríaca
da interioridade humana em sua singularidade. Esse romantismo não só rompe com a soberania da razão, mas também foi contra o racionalismo exagerado e irritante, numa época marcada pelo terror das sangrentas revoluções no final do século 18.

Fichte argumentava que liberdade e necessidade não podem coexistir: ou existe a liberdade, ou a necessidade natural. Ele priorizava a liberdade e afirmava que inicialmente ela não possui nenhuma particularidade prática. Admitia que isso só é compreendido quando o “eu” se lança na própria interioridade. O filósofo alemão explicava a realidade em sua totalidade, sem separar ser e agir. Por isso, encontrou um primeiro princípio dinâmico que o chamou de o “eu Puro”, enquanto autoconsciência, que é dinâmico; também é “ação efetiva”, que é fato, mas não pode ser confundido com o “eu empírico”. Fichte quando explicava esse processo, ao se dirige ao outro, tratando-os por tu, destacava este argumento: “Teu pensar é um agir”. Ao dirigir-se a si mesmo, ele afirmava que “quando penso eu, penso algo definido, porque minha consciência está determinada por algo. Nesse movimento de pensamento, sou pensante; o pensado parece ser algo exterior a mim. Mas, ao pensar em ti mesmo, és também, ao mesmo tempo, o pensado; nesse caso, pensante e pensado devem ser um só; teu agir no pensar deve retornar a ti mesmo, ao pensante”. Esse argumento fundamenta este primeiro princípio, incondicionado: “O eu é o que põe a si mesmo, e nada mais”.

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Em seu livro A Doutrina da Ciência, In. Col. Os Pensadores, Fichte (1980, p. 41-42) afirma que: “Somente posso chegar ao “eu” por meio do ato de pensar a mim mesmo. Desse modo, o pensamento do “eu” consiste no agir sobre si do próprio “eu”; e, inversamente, um tal agir sobre si mesmo dá o pensamento do “eu”, e pura e simplesmente nenhum outro pensamento”.

Além disso, o “eu” é o domínio, o ambiente que tudo abarca, no plano teórico, prático, cultural e religioso. Fichte admite que o “eu” é aquilo que o homem traz em si de divino e absoluto. Por ser parte integrante e indissociável e da condição do que se refere a si próprio da consciência, o filósofo desvela no próprio “eu” o transcendente, quer dizer, que ultrapassa a natureza física das coisas (metafísico). Pois se Fichte se detivesse no primeiro princípio (enquanto autoconsciência) - o “eu” colocando-se a si próprio como absoluto -, ele não conseguiria romper o movimento puramente lógico-dialético do “eu”. Por isso, ele passa ao segundo momento ao afirmar que o “eu” coloca o não-eu no “eu”. O não-eu, a saber, o universo e o mundo da natureza, com seus astros e seres vivos ou mortos, seria apenas uma derivação, um subproduto da atividade do “eu puro”. Se não existe nada fora do “eu”, como compreender a consciência empírica, individual, que existe no mundo da necessidade e das paixões? A resposta encontrada por Fichte consiste na transição do mundo teórico ao mundo da prática, qual seja, ao “eu puro” prático.
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Berlim / Gendarmenmarkt
Mesmo que a compreensão da liberdade, como um exercício que pressupõe resistências, seja promissora em relação à psicologia moral. Ela sempre guarda um resquício idealista e romântico.

Ao final do século 18, vários países perderam suas identidades nacionais que foram destruídas pelas revoluções, em especial a francesa de 1789 a 1799, que muito degastou as relações de paz entre os Estados e nações. Naquela época de ódio, Fichte partilhava a nostalgia da beleza da cultura e da erudição germânica com os pré-românticos alemães daquele século. Diante da perda da unidade da identidade alemã desde os conflitos europeus na baixa idade média, a fim de reconstruir a unicidade nacional do seu país, ele preservava as canções, as poesias, a literatura e as obras de arte que continha a ancestralidade do povo germânico e resgatava a relação harmoniosa do ser humano com a natureza e a vivência da liberdade. Ele buscava dar um sentido prático próprio à capacidade da imaginação e acreditava nas produções pré-conscientes do “eu puro” por possuírem uma necessidade transcendental. No eu individual, segundo Fichte (1980, p. 89), afirmava que: “A força de idealizar estimula para superar as determinações e resistências do mundo empírico. O procedimento, portanto, está na dimensão moral, na atividade infinita e ideal do “eu puro”. Considerando esse argumento, observa-se que o agir fichteano precede o ser. Mas acerca da infinitude da atividade ideal do “eu”. Fichte apontava para a razão prática a sua progressiva e infinita capacidade de se aperfeiçoar nos valores humanos ao longo da vida.

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Fichte apresentava o “eu” como o centro vivo e pensante, constituído de grande força criativa, que chega ao extremo de considerar o mundo exterior como um subproduto da força da imaginação do “eu”. Por mais que Fichte busque a unidade na sua Filosofia, na Política, ou na Religião da razão subjetiva, ele se detém ainda no conflito entre a limitação do real e a infinitude do ideal. Afirma que “Resta-lhe pressupor que deve haver algo de absoluto no interior de cada consciência individual, sendo esse algo tão vago o todo único, o divino que habitaria todos os homens” (FICHTE, 1980, p. 90).

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