Gonzaga Rodrigues selecionou uma parte de sua produção literária, composta de crônicas, para nos brindar por ocasião dos seus 90 anos. Como na narrativa das Bodas de Caná, quando foi servido o melhor vinho na festa de casamento, como o primeiro sinal público de Jesus, o mestre-sala ficou contente ao ver os noivos e convidados alegres. O livro que Gonzaga nos oferta como banquete é comparável às iguarias saborosas e o melhor vinho daquele casamento descrito no Livro Sagrado.
Leitor assíduo de crônicas em jornais, nunca releguei os textos de Nathanael Alves a cada manhã, e conduzia comigo recortes dos escritos de Gonzaga para a releitura em outras oportunidades, mas nada se compara a leitura impressa em formato de livro que agora temos em mãos.
Gonzaga Rodrigues TV Câmara JP/PB
Desde 1954, quando assinou em O Norte seu primeiro texto, substituindo o mestre Carlos Romero, ele produz crônicas com fecundo espírito, pois revela emoções e sentimento da terra. Ele é cronista que escreve com os pés e os olhos na terra, porque carrega a memória como fonte inesgotável para sua criação.
Gonzaga Rodrigues Fundação Joaquim Nabuco
Para este novo livro, ele me fez merecedor da seleção dos textos junto com seu filho Paulo Emmanuel, o que permitiu a releitura como bálsamo na animação espiritual.
Paulo Emmanuel Rodrigues Hélio Costa
Mesmo que tenhamos conhecido os textos em outras oportunidades, publicados em jornais, muitos ficaram dispersos na memória, mas agora estes ganham espaço em livro para melhor meditar a leitura. Era preciso a seleção das crônicas para sentir as emoções conjugadas a partir de cada texto, semelhantes aos outros livros dele, que merecem igual destaque.
José Nunes e Gonzaga Acervo do autor
A releitura das crônicas refaz os caminhos das antigas páginas dos jornais, perdidas no tempo. O livro trouxe a emoção da primeira leitura, agora revelada com maior vigor.
Desde os primeiros escritos publicados em jornais a partir de 1954, Gonzaga buscou nas paisagens da povoação a pessoa que está na memória afetiva. Como no poema de Fernando Pessoa, ele parecer nos dizer:
“A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou”.
Nota: O livro "Com os olhos no chão" será lançado dia 20, na Academia Paraibana de Letras.