Era um tempo (no auge do Plano Real) em que a moeda brasileira estava valendo praticamente o mesmo que o dólar. Foi quando empreendemos, Geraldo Magela, Franklin da Organtec e eu, a primeira cruzada aos Estados Unidos. Naquele período do ano, havia uma febre de consumo entre os brasileiros que desembarcavam em Miami.
Assim, nos hospedamos no Everglades Hotel (que não existe mais), em frente ao shopping Bay Side (que ainda existe) e bem ao lado de downtown, que é centro comercial da cidade. Na verdade, uma efervescência de latinos de todos os matizes. Pela manhã, após o (obrigatório) café cubano nas imediações do hotel, partimos para a expedição em downtown.
Era um dia de sol. A manhã foi intensa enquanto palmilhamos dezenas de lojas. Era possível conferir uma infinidade de produtos que não existiam à venda no Brasil, especialmente na área de informática. E tudo a preço bem camarada. Um notebook Compaq, por exemplo, estava à venda por US$ 600, ou cerca de R$ 600, uma pechincha. No Brasil, valia pelo menos uns R$ 3 mil.
Lá pelo meio da manhã, carregados das primeiras compras, decidimos fazer um lanche. Fomos atraídos por um quiosque de rua, todo em vidro, onde uma senhora, abrigada em seu ar condicionado particular, despachava os clientes com admiráveis sanduíches. Bem, dos três eu era o jornalista e, para Franklin e Magela, eu devia fazer a comunicação com a senhora.
Eu comecei pedindo os sanduíches, arriscando-me num inglês tão precário, que ela apenas franzia a testa, numa clara demonstração de nada entender. Tomei uma decisão: vamos tentar o espanhol. Novamente, a cena se repetia. Os demais clientes da fila impacientes e eu tentando explicar qual sanduíche queria e com qual molho. Novamente, a comunicação não fluía.
Foi quando, para surpresa geral, a senhora me indagou, com ironia humilhante: “Não é melhor o senhor falar em português, não?” Ela era baiana. Não é preciso dizer que, ao olhar para trás, toda a fila estava numa gargalhada só.