Os tímidos se ocultam dos holofotes e se escondem de ovações. Li em ”O Homem Medíocre”, do filósofo argentino José Ingenieros, o libe...

O valor dos tímidos

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Os tímidos se ocultam dos holofotes e se escondem de ovações. Li em ”O Homem Medíocre”, do filósofo argentino José Ingenieros, o libelo contumaz a descrever os tipos que não se aquietam enquanto não recebem o incenso de elogio fácil. Ele cita do mais popular humano aos entronizados no poder, nas artes, na política, enfim, nas diversas posições ocupadas pelos pobres mortais. É um estudo de fôlego.

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Celyn Kang
O tímido não tem a noção de “grande”, mas se esgota na produção de seu dom, que, muitas vezes, não aparece, sempiternamente. A genialidade consumida e consumada em si mesma, e, por conta de tal comportamento, não emerge dos cubículos particulares onde se agasalha da flacidez de um mundo pernóstico; escapa-lhes o fulgor ou sinal de alguma produção, encaram tudo com a naturalidade sem medida. Escritores, pintores, escultores, artistas em geral, milhares nunca romperiam as “ilhotas intelectuais” formadas em meio a mares soberanos. Nos dias atuais, a mídia (salvo exceções) faz o sucesso, diviniza ou demoniza quem a ela se expõe; assim também a crítica sem escrúpulo, o balbucio engalanado pela exaltação artificial, a força de elogios subalternos. É de estarrecer.

Mas os tímidos são contraponto de tais espetacularizações tão bem estudadas por Mario Vargas Llosa, onde o escritor peruano aborda a chamada “civilização dos espetáculos”. Este modismo preponderante no chamado pós-modernismo, quando toma palcos e altos níveis quem procura assenhorar-se do efêmero como se fora permanente.

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Celyn Kang
Bem-aventurados os tímidos deveria constar nas bem-aventuranças do Evangelho. Se explorarmos bem o discurso de Jesus talvez encontremos algo parecido ou indireto. Bem-aventurado significa feliz. Ou seja, os que são esquecidos, desprezados, não reconhecidos, postos à margem. Desde o começo da História e para todo o sempre, haverá aqueles que se resguardam da bajulação, de serem subservientes, objetivando um lugar no imaginário panteão do ilusório.

Tudo passa, como afirma Santa Teresa de Jesus (a espanhola carmelita) na sua famosa oração, considerada uma das maiores mulheres já nascidas no meio de nós. Todos nós somos operários, trabalhando os detalhes, altos e baixos relevos de nossas vidas transitórias. Clóvis dos Santos Lima, meu mestre de Direito do Trabalho, repetia sempre: “os mausoléus estão cheios de imortais”. Valemos pelo que fazemos em favor do bem comum e reconhecemos que, apenas, contribuímos para o crescimento humano. Isto no anonimato, sem estrelismo, sem opulência.

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