A dificuldade de viver com qualidade, que se mantém frequentemente na Coreia do Norte, se opõe à imensidão bélica que desfila para o di...

Nós Ossos que aqui estamos

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A dificuldade de viver com qualidade, que se mantém frequentemente na Coreia do Norte, se opõe à imensidão bélica que desfila para o ditador e sua família. Ele impõe um governo com rédeas curtas e vidas vazias.

Em oposição aos maus tratos a esse povo, seus vizinhos da Coreia do Sul seguem em curso um belo gesto Humanitário, presenteando os famintos do norte com o envio de arroz em garrafas pet jogadas na correnteza. O rio as transporta até o norte por intermédio de suas artérias gentis e clandestinas, sem cobrança de frete e impostos, os quais engordam Kim Jong-un. Além do arroz, dentro dos pequenos barcos, segue escondido um pen-drive, em que estão gravados ‘shows’ de TV para diversão de seus amigos mal alimentados e proibidos de assistir, por ordem presidencial.

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RefugeesNK

A vida em sociedade deveria ser tão gratuita quanto a morte, que, por vezes, surge causada pela fome ou depressão. A tristeza de uma existência sem cor e com poucas oportunidades transforma um final de vida sem sentido e vazio. Com que valor a velhice será recebida nesses termos de pouca riqueza se, ao final de nossos tempos, o resultado é idêntico a todas as criaturas que pisoteiam os mortos de fome?

Na cidade de Évora, em Portugal, a "Capela dos Ossos", um dos mais conhecidos monumentos daquele lugar, nos lembra, com um aviso na entrada, sobre a transitoriedade da vida e a nossa breve existência:

"Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos"
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Xiquinho Silva
Por vezes, uma tampa de mármore encerra a vida iluminada e persistente; outras tantas, a madeira deixa a marca para onde nos reservam voar em algum espaço sem ninguém ou, talvez, com muitos que já ocupam o mesmo horizonte.

Gostaria de ser assertivo quanto aos meus dias de felicidade futura e entender quanto tempo ainda tenho para respirar. Mais ou menos como fizeram os astecas, que construíram um mapa com seu destino, marcando não apenas o ponto em que seu mundo havia começado, mas também quando ele iria acabar. Gravado em complexos relevos em uma pedra, o mapa simbolizava a destruição dos quatro mundos anteriores. A quinta e última Era de sua civilização terminaria com 535 anos de vida. Eles erraram por dois anos, somente. A pedra ficou conhecida como "Calendário Asteca".

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Wikimedia: El Comandante
Onde estão as respostas repetidas e seculares que insistem em aparecer em todas as gerações? E as manifestações de qualquer origem que possam convencer nosso desejo de nos manter nesse convívio humano e fazer rir nossa alma?

O que pode nos ajudar a entender é utilizarmos do bom humor como um ímã. Assim, uma palavra ao vento vai embora sem provocar danos. Escalamos para sobreviver, mas soltamos a mão eventualmente, que é a mesma que nos pega sem sentido, sem futuro.

O agora foi nossa escola, tão clandestino como o relógio que parou de marcar a hora que sobrevivemos com sangue no asfalto ou quando uma asa de anjo acabou por levar tudo o que tivemos. Talvez eu tivesse muito pra ver. Por isso, eventualmente me pergunto: será mesmo que vivemos?

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