Em sua autobiografia, intitulada Poesia e Verdade (1811), o poeta, polímata e estadista Johann Wolfgang von Goethe (1749–1832) conta o que o levou a desenvolver uma estética da sua vida pública e privada. A obra deu originem a dois gêneros literários: a autobiografia moderna e o romance de formação. O poeta alemão defende que a arte (e mais especificamente a poesia nacional) deve estar enraizada nos acontecimentos da vida dos povos. A tese destaca a diferença entre o artista, que expressa as identidades e
as necessidades do seu povo, e aqueles que estão sempre prontos a alienar-se na ilusão de uma multidão.
Analisando a relação entre a arte e a realidade social, Goethe mostra como o artista depende dos conflitos humanos para criar. Ele ressalta a ligação entre a sua obra e a história do seu povo, assim como da própria nação. Não aceita que a submissão seja uma condição para se tornar um artista original e legítimo. O maior perigo para o talento é sucumbir aos desejos banais da multidão ou aos interesses políticos falsos. Em 1818, o poeta escreveu que o talento inato é crucial para a criação, porém, o artista necessita de circunstâncias favoráveis para o seu desenvolvimento artístico. Por essa proposição, a possibilidade de surgimento de gênios ou artistas criativos não é afastada em nenhum momento histórico. No entanto, nem toda época é capaz de desenvolvê-los nem de cultivá-los.
A estética goetheana sustenta que a melhor condição para potencializar a arte é a liberdade. Também deve ser exposto e enfatizado, objetivamente, o contraste entre os valores da dignidade e a brutalidade e a loucura do ódio da época em que o artista vive. Perante um regime opressor e de terror, geralmente, o artista se retrai, sentindo-se frustrado e inútil. Há o risco de que sua subjetividade evidencie a decadência de seu tempo. Contra a tirania da época, o poeta alemão se destacava por ser diferente de seus contemporâneos, já que estes eram influenciados subjetivamente. Com sua abordagem objetiva, Goethe estava em desvantagem e solitário. Sua obra descreve o romantismo como uma doença espiritual devido ao subjetivismo presente, concluindo que “o clássico é são; o romântico, doente”.
As análises de Goethe sobre a arte são baseadas na ideia de receptividade entre artistas e culturas. Segundo ele, “toda arte se constrói sobre uma base de receptividade”. A partir desta tese, compreende-se que, na verdadeira arte, tudo — inclusive o que é repetido — torna-se único, e que os artistas são normalmente influenciados por ideias de outros autores. Contudo, se o artista for genuíno, ele transforma essas influências em algo original, em alguma coisa inovadora. Para alcançar isso, Goethe aconselha que o artista estude a natureza e a utilize como base para incorporar e representar, em suas obras, seus fenômenos. Essa é uma das principais teses da estética goetheana. Nela, podemos observar que a arte deve ser uma expressão da natureza, ao mesmo tempo em que é uma obra do espírito, o qual também é obra da natureza. A relação estética, de criticidade e de verdade, entre a arte e a natureza, revela-se tanto na percepção interna quanto externa do artista. No pensamento de Goethe, não é possível conceber a realidade como sendo isenta de poesia, pois a sensibilidade artística descobre um sentido poético da existência no cotidiano. Existe uma relação única entre o artista e a natureza.
Goethe afirma que: “o artista trabalha e produz utilizando os materiais emprestados pela natureza, através dos quais suas obras se tornam compreensíveis; ao mesmo tempo, subordina suas ideias aos materiais emprestados pela natureza, obrigando-os a servirem às suas próprias intenções”. O artista é capaz de conferir uma forma animada a um objeto inanimado da natureza. No entanto, ele não deve imitar a natureza. Ele também declara: “Nenhum artista deseja que suas obras sejam comparadas às da natureza”. Observa-se que a maior realização da arte é o estilo, e os objetos estéticos surgem da natureza e da imaginação do artista. Esses argumentos reforçam que a arte deve ser uma expressão de liberdade e simplicidade.
O estilo é uma síntese da reprodução dos objetos naturais com a fantasia do artista, refletindo a inovação artística. Se a arte é criação e segue suas próprias leis, então a obra que pertence a um estilo tem como finalidade se aproximar da perfeição. Assim, a arte expõe seus princípios e ações para estetizar a existência e a verdade.