A mística e a poesia andam juntas, pois vêm da mesma fonte, que é Deus. O poeta é chamado a estabelecer um diálogo com Deus para salvar...

Eudésia: fé e poesia revisada

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A mística e a poesia andam juntas, pois vêm da mesma fonte, que é Deus. O poeta é chamado a estabelecer um diálogo com Deus para salvar a carne e a eternidade da alma. A fé é um grande remédio para aliviar a dor quando não há mais esperança.

A poesia e a mística, são dons de Deus que ele dá a quem a escolhe. A poesia é a outra margem do rio, o rio da vida.

Desejo falar de Eudésia Vieira que manifestava sua fé, e buscava aprimorar seu viver a partir da mística que emana dos ensinamentos do Evangelho e dos primeiros seguidores de Jesus.

Quem foi Eudésia Vieira? Natural da cidade de Santa Rita, Eudésia Vieira nasceu no dia 08 de abril de 1884. Foi professora primária e, depois dos 30 anos, mãe, se formou em Medicina, sendo primeira médica da Paraíba. Jornalista, historiadora e poetisa, foi uma mulher com pensamento avançado para seu tempo, sempre lutando pela liberdade de expressão e expondo firmes posicionamentos em artigos e conferências.

Depois de viver os primeiros anos de vida frequentando a Igreja Luterana, por influência de sua primeira professora, converteu-se à Igreja Católica, e tornou-se devota de Nossa Senhora de Caná.

A atuação no campo da Fé, dedicação à Arte e à Medicina conviveram pacificamente. Em décadas reunindo essas três atividades, ela produziu bons frutos. Na vivência da fé, muitas vezes testemunhada, encontrou ingrediente que a tornou mais sensível ao manejo do bisturi e da caneta.

Numa oração à Virgem de Caná, divulgada entre seus conterrâneos, Eudésia exaltou as virtudes de Nossa Senhora, e pediu proteção para as famílias. Como poetisa, também escreveu poemas tendo como tema a exaltação à fé e a esperança. Também compôs o hino de Nossa Senhora da Penha, que foi musicado por Padre José Coutinho. A pedido, escreveu a letra para a comemoração do cinquentenário da instalação da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Serraria, executado ainda hoje em momentos festivos.

Seus poemas se destacam ao tempo em que foram lançados, estando a exigir uma nova versão impressa para que as gerações atuais possam descobrir o sentimento de uma pessoa que, com palavras simples, sem rebuscamento, soube abrir seu coração para expressar a força do transcendental na nossa vida. Em seus poemas, atuando na medicina ou exercendo as atividades de historiadora, mostrou que é possível conquistar espaços e ajudar na mudança de vida da comunidade onde residimos. Eudésia usava palavras que expressava o sentimento mais puro, abria seu coração quando falava e escrevia, por isso seus textos eram bastante apreciados. Mostrava também que era capaz de sentir grandes emoções, talvez mais sinceros e mais próximos da realidade que expressam o coração.

Começou seu trabalho de professora, e logo colocou em prática atividades culturais que marcariam a história da cidade onde residia. Incentivou a prática da leitura entre as crianças e jovens.

Quando morou em Serraria como professora, ao final da primeira década do século XX, agitou a cultura daquela cidade brejeira, compôs versos e editou jornal literário.

A poesia, a pesquisa histórica, a medicina e o movimento feminista na Paraíba têm na pessoa da professora Eudésia Vieira, uma de suas mais legítimas representantes.

Durante muitos anos, ela dedicou-se aos estudos da história da Paraíba e de sua gente, sendo pioneira na luta para colocar a mulher em lugar de destaque na sociedade, num período em que isso parecia impossível.

Em todos os momentos soube, como poucos, conciliar o trabalho intelectual com as atividades que desempenhou durante sua vida, seja como professora, médica ou dona de casa.

A própria Eudésia Vieira contou, sem seu Diário, essa experiência religiosa fora da Igreja Católica, a qual não pertenciam seus pais.

Mesmo que não tenha chegado ao terreno da linguagem profunda da mística de Santa Tereza D’ávila 1614-1622, como Cecilia Meireles 1901-1964, Simone Weil (1909-1943), Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), e mais recente, Adélia Prado (n.1935) e Mariana Ianelli (n.1979), e tantas outras poetisas, a paraibana Eudésia soube revelar a alma mais oura do mundo submerso no distante sentido da vida. O eu-lírico buscando sempre a Deus, mesmo que não se possa ver a face de Deus. Eudésia, como Murilo Mendes, eram médicos, sempre buscando a Deus.

A poesia em toda sua dimensão, a poesia mística, leva luz eterna às pessoas, mesmo os não crentes.

Com sua poesia, às vezes lírica, expressa sentimento capaz de emocionar o mais rude coração. A fé cristã, sem dúvida, a tornou uma médica humanista, mais próxima do povo.

AVE MARIA! Ave, Maria, Mãe graciosa Doce harmonia Misteriosa. Teu nome santo, De mil doçuras, E' eterno encanto Das almas puras Eu te bendigo, Cheia de graça, Risonho abrigo, Sagrada taça. Onde sem susto Deus criador Deitou o augusto Vinho do Amor 0 santo engaste Dos céus — Jesus Que contemplaste Morto na cruz Então bastante Sofreu tu'alma Flor deslumbrante Mimosa palma E no Calvário Teu coração Foi o sacrário Da redenção Ave, Maria Doce piedade Meiga ambrósia Da castidade Eu te saúdo, Leda e contente, Meu forte escudo Resplandecente. (Fonte: Coletânea de Poetas Paraibanos, Luiz Pinto, 1953, editora Minerva)

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  1. Oportuno e justo resgate de uma grande paraibana. Parabéns, Nunes. Francisco Gil Messias.

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