O título é recurso que me ocorre, tirado de uma página de Severino Ramos dedicada à solidão povoada vivida por José Américo quando se ...

Solidão povoada

O título é recurso que me ocorre, tirado de uma página de Severino Ramos dedicada à solidão povoada vivida por José Américo quando se recolhe àquela Tambaú do tempo e do livro de Walfredo Rodriguez.

É que me chegam dois livros que passaram à frente da rotina que venho merecendo a Deus em manter leitura dividida entre os livros novos e os que venho conservando, eles pacientes, resignados, deixando-me entrar e perseverar na leitura. Alguns que entrei sem poder sair, outros, muitos outros, em que me vi perdido.

Um dos que chegaram versa sobre a dependência, o apego do seu autor ao livro, seja o de Montaigne ou dos que vêm alcançando ou se mantendo na glória do seu labor. É uma brochura de 130 páginas, um mimo de gráfica, que se torna precioso por nos repassar do livro o convívio mais que proveitoso, amoroso mesmo, do poeta e escritor Bruno Gaudêncio. Não dá pra ver dos dois personagens, livro ou autor, quem mais sai lucrando. Quantos de nós, presas do mesmo vício, não nos sentimos personagens desse “A pele da minha casa”?

Guardo de Bruno Gaudêncio, ele bem jovem, uma atenção que outros gestos e favores do gênero não conseguem arrefecer minha gratidão. Achei de lançar em Campina Grande, quinze anos atrás, uma segunda edição de meu “Retrato de Memória”, e para não pedir os solenes favores da Academia Campinense de Letras nem contar, como antigamente, com o acolhimento da livraria de Pedrosa, consegui programar uma tarde de autógrafos no sebo já tradicional de meu amigo Ronaldo, na praça Clementino Procópio, plataforma das minhas buscas juvenis de futuro. Contei para isso com a adesão de Juarez Farias, que presidia a nossa Academia, meio campinense como eu, e partimos juntos com trinta exemplares e alguma fé nos
quase cinquenta anos de uma crônica na qual Campina nunca ficou de fora.

No caminho, Juarez me pergunta: “Quantos livros estás levando? / — Uns trinta. / — Devia levar mais — achou.

Chegamos com uma antecedência de hora, a mesinha de autógrafo num vago da livraria, e como ainda não tivesse aparecido nenhum convidado ou freguês atraído pelos avisos para o evento, fomos tomar nosso café no Calçadão, lá entrando já meio despercebidos. De olho no relógio, voltamos e lá continuava a mesinha, o livreiro meio sem jeito, além de um freguês a mexer nas estantes sem compromisso com a nossa festa. Passou da hora marcada, deu quatro e meia e, mandados pela padroeira da cidade, santa de minha devoção, chegam, como se adivinhassem, o professor José Mário Branco e o jovem poeta Bruno Gaudêncio. Abraçamo-nos, conversamos um pouco, demos um tempinho até que pude me convencer e sentir na pele o que a multidão não podia jamais me dar: a constância da afinidade, dos sentimentos. Disse algumas palavras em tom de conversa e quinze anos depois ainda me sinto em falta com esses dois generosos e fiéis amantes do livro, por via dos quais nos sentimos da mesma família humana.

Bruno Gaudêncio
José Mário da Silva Branco

Outro que passou à frente dos livros recentes recebidos vem das mãos de Fabiano Gonzaga que, indo ao Rio de Janeiro e bem sabendo tr\ caso o ânimo das pernas e do fôlego me ajudassem tr~ o quanto eu gostaria de acompanhá-lo, me traz um livro-álbum de presente, esplendor de arte gráfica que faz jus à real grandeza do Gabinete Português de Leitura! E fui com ele à rede. Quantas vezes andei no Rio, andar com os pés, quantas vagueei bestamente sem atinar com o caminho desse paraíso!

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