Desde a candidatura, ele se impôs como alguém que trazia consigo todos os requisitos para pleitear um lugar de sócio efetivo na Casa das Letras. Uma vez inscrito, não teve concorrente, como se estivesse fixada uma compreensão geral de que seu mérito já o consagrara. A eleição, rito necessário, trouxe o referendo da unanimidade.
Essa não é uma recepção comum para o ingresso na APL, sem disputa ou discrepância de aprovação. Como falou o Presidente Ramalho Leite, no encerramento da solenidade de posse, somente a chuva torrencial se opôs ao novo Acadêmico. Mas foi ignorada pela presença de um grande e qualificado auditório, repleto de admiradores. Também os confrades se fizeram participantes, em número significativo, muito raro para qualquer assembleia.
Posse do acadêmico Francisco Gil Messias na APL @messina.palmeira
Na festa da posse, o mais importante é o discurso. Não pode ser de improviso ou banal. Precisa ser compatível com a grandeza do momento, preparado com a responsável intenção de definir o orador na perspectiva do presente e para a posteridade.
Gil Messias (dir) e seu filho João Lucas
@messina.palmeira
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Gil revive a presença de seu amigo, professor e acadêmico Jackson Carvalho, para ser justo e agradecido à primeira pessoa que o incentivou a pensar na vida acadêmica como um objetivo possível. O seu discurso foi tecido pelo sentimento mais verdadeiro e pela emoção indispensável, também por traços característicos de sua forma de ser, com destaque para a fineza, para a ética e para a afirmação.
Na exaltação da crônica, espécie literária a que também se dedica, escolheu como exemplos da mais apurada realização os conterrâneos Luiz Augusto Crispim, Gonzaga Rodrigues, Frutuoso Chaves e Carlos Romero — realmente magistrais.
Luiz Augusto Crispim, Gonzaga Rodrigues, Frutuoso Chaves e Carlos Romero
Em tudo quanto referiu, predominou a visão criteriosa de quem não queria faltar ou se exceder. Sabia que, em suas palavras, firmava uma profissão de fé.
Quando se referiu à APL, foi brilhante ao valorizá-la em sua transcendência, mais do que em seu caráter institucional. E concluiu, de forma inovadora, que imortal é a Casa das Letras, reiterando a compreensão de que cada sócio “é um ponto no infinito contínuo de gerações”. Assim, todos são transitórios. Somente a Academia permanece.
Academia Paraibana de Letras (J. Pessoa-PB) Marcos Elias de Oliveira Júnior
O Humanismo se multiplica em várias expressões, todas se complementam na convergência e na substância de seus conceitos. Em sua concepção cósmica e poética, Saint-Exupéry conceitua o humanismo como a corrente de pensamento que estabelece para o homem “suas hierarquias verdadeiras”. Compatível com esse entendimento, estão as admiráveis lições que escreveu: “Antes de perguntar ao homem se ele é próspero,
Saint-Exupéry Ed. Maralto
Foi com essa visão de mundo que Gil se confessou comprometido. Uma afirmação de resistência e coragem, se considerarmos que vivemos um momento histórico da superficialidade, da pressa, do descartável, da insensibilidade e da irresponsabilidade. Isso, se não acrescentamos a crueldade. É o que vivemos: realidade de multidões enlouquecidas, hipnotizadas pelo vazio ou por afirmações aberrantes.
Cumprindo o protocolo acadêmico, o orador fez o elogio do patrono e dos ocupantes da Cadeira 24. Ao imortal Evaldo Gonçalves, que o antecedeu, dedicou apropriadamente uma atenção mais detalhada.
Trouxe de volta o saudoso confrade em seus aspectos mais característicos, enfatizando as atividades a que se dedicou e o espírito que prevaleceu em todas elas: a visão de mundo
Evaldo Gonçalves Druzz on line
Ao tentar definir Evaldo Gonçalves como político, Gil Messias se advertiu da cobrança indevida desse “tempo de partidos/tempo de homens partidos”. E fez a ressalva: “Não falo para agradar”. Falava de um homem inteligente, responsável, íntegro, cordial, amoroso, leal e grato, que nenhum rótulo pode caracterizar, representar ou sintetizar. Merecedor de todos os elogios.
Foi uma noite de júbilo ver o imortal Evaldo Gonçalves emergir daquelas altivas palavras, na integridade de sua cativante alegria e na prática humanística de uma vida dedicada ao ideal de “haver colocado sua pedra para a construção do mundo”, no espaço familiar, sociopolítico e intelectual.