Toca a minha mão, ela que atravessou tempos imemoriais e realizou trabalhos. Abençoou, defendeu, matou para viver. Toc...

Deixa-me tocar tua alma com o sorriso das manhãs ensolaradas

poesia paraibana antonio aurelio cassiano
 
 
 
Toca a minha mão, ela que atravessou tempos imemoriais e realizou trabalhos. Abençoou, defendeu, matou para viver. Toca-me o sexo, agora já só para a higiene, que não me posso mais fazer. Mas deixa que te diga: ele já fez filhos, reproduziu vida e gozou... Toca-me a face, murcha, marcada, e que até um dia já foi bela. Mas toca-me o mais importante: o que ainda me há de memória e este velho coração. É nele que estão as alegrias e as dores de afetos e desafetos. E, de resto, deixa-me tocar tua alma com o sorriso das manhãs ensolaradas. Quando o ciclo cessar, olhe para a lua, mas veja ainda além: haverá nas noites escuras o brilho de uma estrela. Ela não será eu, mas sim o brilho de uma muito antiga, que, como eu, também já morreu.




Dança, verde luz, esperança no ar. Cata cada recanto de gente e faz nele casulo grávido de asas. Asas em par, para habitar o céu. Asas donas de olhos que olhem pela Terra. Dança, luz, para alegria dos homens miseráveis. E que teu nome seja revelado a nós, pelos nós nas nossas gargantas. E não mais do choro existencial, não mais somente pela esperança, mas por um azul da cor do céu.




A casa clara, a claraboia, o sol da manhã. Luz na torneira, minha mão no sexo. Só. Eu tão gigante até o suspiro final. Arrestado o saldo da conta da vida, mão na testa em Shakespeare. Mas há um jardim que plantei entre o sol e a chuva e, por causa disso, não tenho medo.




Meu doce desejo: esperma arrancado à mão. Delírio de um tempo justo. Tempo, mais tempo, e outra vez. As cordas bambas de um violão e um som amargo. Mas é preciso saber a cor dos homens na corda da existência. Eles são blues: menos cor e mais dor de negros escravizados. E eu, projeto inacabado do que ama desmesuradamente.




Memórias de vinho, textura de pele. A ilusão da morte, a mão na maçaneta do amanhã. Desejos de beijos e cajus com cachaça. Somos, definitivamente, mágicos. Mas a dor de Cristo na cruz é a fala muda do besouro de Kafka: o que veio pra salvar e morreu.




Um cacho maduro, mãos em concha. Beijo doce, abelha justaposta na fonte do ser. Um caminho de pelos e o peito. O dedo de Deus tocando Adão e a língua.




De conhecer A cor do rempo E Mergulhar De não mais esperar E tomar a esquina Como casa E ruar o riso E decompor a pessoa E virar Espírito Ser mais que si Para compreender Todas as passagens

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