Toca a minha mão,
ela que atravessou tempos
imemoriais
e realizou trabalhos.
Abençoou,
defendeu,
matou para viver.
Toca-me
o sexo,
agora já só para a higiene,
que não me posso mais fazer.
Mas deixa que te diga:
ele já fez filhos,
reproduziu vida
e gozou...
Toca-me a face,
murcha,
marcada,
e que até um dia já foi bela.
Mas toca-me o mais importante:
o que ainda me há de memória
e este velho coração.
É nele que estão
as alegrias
e as dores
de afetos e desafetos.
E, de resto,
deixa-me tocar tua alma
com o sorriso das manhãs ensolaradas.
Quando o ciclo cessar,
olhe para a lua,
mas veja ainda além:
haverá nas noites escuras
o brilho de uma estrela.
Ela não será eu,
mas sim o brilho de uma muito antiga,
que, como eu,
também já morreu.
Dança,
verde luz,
esperança no ar.
Cata cada
recanto de gente
e faz nele casulo grávido
de asas.
Asas em par,
para habitar o céu.
Asas donas de olhos
que olhem pela Terra.
Dança,
luz,
para alegria
dos homens miseráveis.
E que teu nome
seja revelado
a nós,
pelos nós
nas nossas gargantas.
E não mais do choro
existencial,
não mais somente pela esperança,
mas por um azul
da cor do céu.
A casa clara,
a claraboia,
o sol da manhã.
Luz na torneira,
minha mão
no sexo.
Só.
Eu tão gigante
até o suspiro final.
Arrestado
o saldo da conta da vida,
mão na testa
em Shakespeare.
Mas há um jardim que plantei
entre o sol e a chuva
e, por causa disso,
não tenho medo.
Meu doce desejo:
esperma
arrancado à mão.
Delírio
de um tempo
justo.
Tempo,
mais tempo,
e outra vez.
As cordas bambas
de um violão
e um som amargo.
Mas é preciso saber
a cor dos homens
na corda da existência.
Eles são blues:
menos cor
e mais dor
de negros escravizados.
E eu,
projeto inacabado
do que ama
desmesuradamente.
Memórias
de vinho,
textura de pele.
A ilusão da morte,
a mão
na maçaneta do amanhã.
Desejos
de beijos
e cajus com cachaça.
Somos,
definitivamente,
mágicos.
Mas a dor de Cristo na cruz
é a fala muda do besouro de Kafka:
o que veio pra salvar
e morreu.
Um cacho
maduro,
mãos em concha.
Beijo doce,
abelha justaposta
na fonte do ser.
Um caminho
de pelos
e o peito.
O dedo de Deus
tocando Adão
e a língua.
De conhecer
A cor do rempo
E Mergulhar
De não mais esperar
E tomar a esquina
Como casa
E ruar o riso
E decompor a pessoa
E virar Espírito
Ser mais que si
Para compreender
Todas as passagens














