Simulacro refere-se a algo irreal que se tornou tão parecido com o real que não é possível distinguir qual é o verdadeiro. A teoria do simulacro – desenvolvida pelo filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard (1929–2007), em seu livro Simulacros e Simulação, publicado em 1981 – constitui uma reflexão sobre a sociedade contemporânea. Uma de suas teses defende que o real e sua representação tornaram-se indiscerníveis. Isso deu início a um sistema de imagens e signos no qual a realidade concreta desaparece, dissolvendo-se na proliferação de reproduções ou narrativas que já não remetem a uma origem estável. Nessa perspectiva, muitas pessoas vivem imersas em uma falsidade, na qual a própria noção de verdade se converte em um efeito produzido pelas representações enganosas.
Para Baudrillard, o simulacro não remete a nenhuma realidade anterior e não possui originalidade. Esse conceito é necessário para compreender o funcionamento simbólico da sociedade contemporânea e como algumas pessoas constroem uma imagem falsa de si mesmas, na qual discursos e falas produzem uma autossuficiência egoísta, experimentada como mais verdadeira do que o próprio real. Esse processo se articula com a noção de simulação, que Baudrillard distingue da representação. Representar é presumir um vínculo, ainda que frágil, com a realidade. Simular é instaurar um sistema de signos que já não necessita de referente externo.
A simulação não copia o real, mas cria cenários, relacionamentos, experiências, paixões e emoções que passam a ser vividos como autênticos, ainda que sejam artificiais. A simulação, portanto, constitui o mecanismo que sustenta a emergência do simulacro. É nesse processo que se manifesta a hiper-realidade baudrillardiana, uma dimensão que ultrapassa a realidade empírica e adquire maior intensidade do que o próprio real. Trata-se da substituição do espaço social concreto por outro, saturado de imagens enganosas e de discursos sedutores, porém falsos.
Esse fenômeno manifesta-se também na disputa pelo poder: discursos vazios e manipuladores autoritários alimentam a indiferença às instituições. Reduzidos a slogans, funcionam como gatilhos emocionais, e a linguagem, em sua dimensão hiper-real, cria ideais artificiais, nos quais a aparência anula a verdade e o bem-estar social.
Na hiper-realidade, o sujeito não distingue o que é originário e o que é falsificado. Ele se relaciona com representações como se estas fossem a própria essência do social ou de si mesmo. Baudrillard identifica três fases evolutivas do simulacro, cada qual correspondendo a uma etapa histórica e cultural.
Na primeira, característica da pré-modernidade, a imagem é concebida como reflexo da realidade, e sua autenticidade é medida pela proximidade com o modelo real. Aqui, a imagem ainda é um marcador artificial.
A segunda é própria da modernidade, e emerge com a possibilidade de reprodução em massa. Com a expansão da indústria cultural e das mercadorias, a cópia prolifera e começa a ameaçar a singularidade do original. Já não há aura inimitável, mas múltiplas reproduções que coexistem com o original e acabam por se tornar igualmente reais, passando a competir com o real na produção de sentido.
Na terceira, própria da pós-modernidade, a distinção entre real e representação desaparece de modo radical. O simulacro precede o original: já não há modelo anterior, mas apenas cadeias de signos que se referem a si mesmos, em que a imagem não apenas substitui o real, mas o anula. Nesse processo, conceitos como autenticidade, essência ou originalidade perdem sua relevância, pois o sujeito já não vive em um mundo de coisas, mas em um universo de signos.
As implicações desse diagnóstico são visíveis em múltiplos aspectos da vida social e interpessoal, especialmente nas redes sociais e na criação simbólica de personas idealizadas. O “eu” projetado na realidade virtual adquire mais consistência do que a própria vida real, enquanto as mentiras operam como simulacros, moldando percepções tanto pela fuga da vida concreta quanto pela necessidade de aprovação.
Baudrillard mostra que viver na era da hiper-realidade significa habitar um espaço em que a distinção entre o verdadeiro e o falso, o real e o imaginário, o original e a cópia torna-se cada vez mais irrelevante. Sua teoria constitui uma reflexão sobre os limites entre realidade e ficção, e leva a perceber que a realidade concreta das pessoas já não se organiza em torno daquilo que é, mas daquilo que parece ser — a própria necessidade de mentir para si e para os outros.













