Versinho Lilás

Dica de leitura

Título:	VERSINHO LILÁS
Autora	Ana Lúcia Franco

A poesia de Versinho Lilás nasce de um território esquecido por muitos adultos: a infância como pátria poética, e não apenas fase cronológica. Na estreia literária de Ana Lúcia Franco, o verso é curto, solto, respirado no ritmo da fala infantil descomprometido com a pontuação tradicional, mas profundamente comprometido com a emoção genuína. Essa escolha formal não é gratuita: é estética e também sensorial. A leitura flui como quem ouve uma criança contar o mundo, sem pausas gráficas, mas cheia de pequenas paradas do coração.

Celyn Kang

A obra se estrutura em capítulos temáticos que funcionam como constelações autônomas, porém interligadas por um mesmo céu afetivo. No primeiro movimento do livro, a descoberta a menina que nomeia o mundo enquanto inventa novos sentidos para ele. No segundo, a natureza deja de ser ambientação e se torna interlocutora: jardins, pássaros e insetos expandem a experiência humana e sublinham uma filosofia sensível de coexistência.

É na galeria de personagens, contudo, que a poética de Ana Lúcia se revela ainda mais potente. Brubru sintetiza o entrelugar da infância e do crescimento; Aninha faz do mínimo um acontecimento mágico; Maria surge como memória afetuosa, presença que, mesmo na ausência, permanece luminosa. Há aqui um lirismo que não idealiza a vida, mas a enternece.

A linguagem é o grande acerto técnico do livro: metáforas orgânicas, aliterações delicadas e imagens que se aproximam da cantiga e do conto oral dão corpo a uma poesia cuja simplicidade é apenas aparente. Em versos como “tanto de mim / em cada jardim / que ouso florescer”, a poeta demonstra que a dificuldade não está em dizer muito e sim em dizer essencialmente.

Celyn Kang

Outro mérito da obra é tratar a infância como postura filosófica. Não se trata do passado como nostalgia, mas como método de presença no mundo. A imaginação aqui é ferramenta ontológica: é ela que transforma amarelinha em contato com as nuvens e formigas em protagonistas de epifanias. A memória afetiva o colo da avó, a brincadeira, a saudade surge sem melodrama, mas com verdade.

No encerramento, veio a pergunta que dá gravidade à leveza do livro: “Por que a gente cresce?” Não há resposta ofertada; a pergunta em si é a revelação. Ana Lúcia Franco não escreve para resolver mistérios, mas para reacendê-los. O livro termina como começa: expandindo.

Intelectual por formação em Direito e Filosofia e sensível por essência, a autora, à frente da Stella Editorial, estreia reafirmando que poesia pode ser casa, ponte e janela. Versinho Lilás é um convite: não para voltar a ser criança, mas para nunca deixar de vê-la como uma lente possível talvez a mais urgente.

Uma obra que reedita a infância sem aprisioná-la; que afaga, filosofa e floresce.

Ana Lúcia Franco

Sobre a autora:

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Ana Lúcia Franco, formada em Direito e Filosofia e editora da Stella Editorial, estreia com uma obra que transforma lembranças, personagens e pequenos gestos em poesia. Um livro para quem deseja reaprender a olhar o cotidiano com curiosidade e encanto.

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