Ei, psiu... Você já perdeu a cabeça por amor? Eu, não. E, permita-me a discordância, caso seja afirmativa a sua resposta. Você nunca perdeu a sua cabeça por conta disso nem por nada. Quando muito, pode ter perdido, ocasionalmente, o juízo, ou o sossego. Na verdade, minhas e meus camaradas, nenhum de nós sabe o que seja, de fato, uma perda dessas.
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Nunca deixarei de recomendar o isolamento aos autores de textos, poemas, ensaios, telas, peças literárias, ou não. O que não recomendo é a quarta dose porque, a partir daí, a coisa deixa de ser degustação. Vira pileque, com suas consequências. Eis-me, portanto, ainda em condição plena para refletir sobre tragédias amorosas, a poucos passos da Árvore de Natal e da toalha que recobre a mesa com figuras e cores da época.
Perdão, Papai Noel, tomei um caminho sem volta. Mas, pensando bem, você também não é um bom exemplo. Já falei por aqui dos seus dias de vendedor de cerveja,
Vamos, agora, ao tema que me traz ao teclado: o canibalismo sexual, este é o termo exatíssimo. Veementemente, porém, a todos ressalto que não falo de gente, mas de bichos. Os que disso bem entendem são os insetos e aracnídeos. Creiam: naquele mundo macho nenhum pode contar vantagem. Impossível, entre eles, a conversa do gênero: “Está vendo aquela garota? Já peguei muitooo”... Isso é coisa dos pabulosos, fanfarrões, gabolas, todos mamíferos, bípedes e cretinos.
Na vida como ela é, o marido da aranha, por mais macho que seja, sabe que não sairá vivo daqueles lençóis de seda, daquela fibra natural que endurece sem perder a maciez nem a elasticidade, da obra prima assim produzida por aquela a quem ele já pode ter como viúva. “Viúva Negra”, diz-se.
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Quando se trata da aranha “Latrodectus hasselti”, australiana da gema, o suicídio dos machos torna-se até compreensível – ao meu tosco ponto de vista – porquanto eles perdem o pênis na cópula. Que graça teria a vida depois disso, para quem se ache jovem, forte e aventureiro? Eu soube, de leituras outras, que um ou outro macho da aranha “Meta”
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Os dos gêneros “Gasteracantha”, “Eriophora” e “Micratena”, até fazem serenata para aquelas das quais desejam tais favores sem garantia de sucesso, evidentemente. Interligam um fio à teia das fêmeas e o tocam como se instrumento fosse. A depender de cada talento, elas se posicionam a fim de recebê-los. Depois, os comem, no sentido lato do termo. Os zangões, coitados, são meros objetos sexuais: morrem logo depois de estarem com a rainha em cujo corpo deixam os cachos. No outono, as abelhas operárias expulsam os machos, posto que se tornam um fardo para a colmeia.
Tudo bem, tudo bem. Alguém poderá me interpelar com argumentos científicos: “Ô, sua topeira, a Natureza preparou os bichos para a sobrevivência e evolução de cada espécie. Na maior parte dos casos, os corpos dos machos servem às boas posturas e como fonte extra de alimento para aquela que dos ovos vai cuidar até o fim das eclosões”. E eu pergunto: que graça tem a coisa vista dessa maneira?
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Aliás, ocorre-me, em muito bom tempo, que também existe, embora mais raramente, o império das fêmeas entre os mamíferos. Perguntem às hienas. O acasalamento delas desafia o malabarismo por conta da anatomia reprodutora única e desafiadora. Elas não possuem abertura vaginal. Têm, ao invés disso, pseudopênis, assim denominados pelos estudiosos do ramo. O parto das criaturas dessa espécie é processo, então, complicadíssimo para as mães e seus filhotes. As mortes decorrentes da dilaceração do canal por onde cada ninhada vem ao mundo é fenômeno bem frequente entre esses animais. Ali, contudo, a hierarquia é matriarcal, rígida e competitiva. Os machos, menores e mais franzinos, tomam, diariamente, um coro danado.
E os polvos, hein? Entre estes o acasalamento é uma tragédia em dose dupla. Os machos são devorados logo depois da entrega do esperma por
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Meu irrestrito respeito ao louva-a-deus macho. Macho mesmo. Pesquisem e vejam que não é piada. A primeira coisa que sua amada faz, iniciado o acasalamento, é arrancar-lhe a cabeça. Mesmo assim, decapitado, o bicho tenta e consegue terminar o serviço.
Michael Douglas, você que fez o advogado Dan Gallagher naquele suspense danado de 1988, apesar das indicações ao Oscar, está longe de saber o que seja, de fato, uma atração fatal. Nem você sabe disso nem aquela doida da Alex Forrest, a quem a competência da atriz Glenn Close deu corpo e alma. Quer saber mesmo dessa coisa, pergunte aos bichos.
























