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A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cere...

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A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cerebral e frio, opondo-lhe o artesanato conciso ao derramamento dos românticos e ao anseio de religiosidade presente nos simbolistas. Por essa ótica, é difícil concebê-lo como um melancólico a lamentar o seu objeto perdido. A verdade, no entanto, é que em Bilac a representação melancólica perpassa diversas composições.

Espólio Do que vivi, estou morto. Mas, no porvir, ressurreto. Haverá sempre algum porto onde ancorar meu desejo. Ao recua...

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Espólio
Do que vivi, estou morto. Mas, no porvir, ressurreto. Haverá sempre algum porto onde ancorar meu desejo. Ao recuar, continuo. Na falta, me complemento. Na dispersão, me situo. Do “não”, extraio o consenso.

Em que medida o elemento autobiográfico se insere na poesia de Augusto, autor de um único livro sintomaticamente intitulado Eu? Para res...

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Em que medida o elemento autobiográfico se insere na poesia de Augusto, autor de um único livro sintomaticamente intitulado Eu? Para responder a essa pergunta, tecerei breves considerações sobre a autobiografia, onde se conta a história de um eu, e sobre o gênero lírico, que também diz respeito à entidade subjetiva. Nosso propósito é apontar e discutir algumas passagens, ligadas à vivência do indivíduo Augusto dos Anjos, que de alguma forma se integram ao seu lirismo – fundado, como se sabe, numa visão muito particular da própria subjetividade e do mundo.

Na turma, todos queriam ser escritores. Rabiscavam contos, poemas ou trechos de romances e mostravam uns aos outros em mesas de bar ou nu...

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Na turma, todos queriam ser escritores. Rabiscavam contos, poemas ou trechos de romances e mostravam uns aos outros em mesas de bar ou num dos bancos da praça. Enquanto um lia, o autor esperava ansioso o veredicto.

O menino e o velho A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda des...

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O menino e o velho
A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda despedida, corresponde também um recomeço. E a todo olhar brilhante de alegria subjaz uma nota de tristeza; como ao feio, que às vezes horroriza, deve mesclar-se um fundo de beleza.

A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psico...

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A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psicológica, entre outros atributos, fazem com que os críticos a vinculem aos mais variados sistemas e crenças. Há quem veja o poeta como ateu, místico, espírita, filósofo e até, paradoxalmente, como um seguidor do ideário positivista.

Esse livro de Francine Prose resgata a velha definição de que a literatura é a “arte da palavra”. O grande compromisso de quem escreve é c...

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Esse livro de Francine Prose resgata a velha definição de que a literatura é a “arte da palavra”. O grande compromisso de quem escreve é com a matéria verbal, que se deve explorar em todas as suas possibilidades.

Muitos, sobretudo no meio acadêmico, parecem se esquecer disso. Utilizam o texto como pretexto para a veiculação de mensagens, conceitos e dogmas ligados a outros domínios do saber. Ou como instrumento de pregação ideológica. Tais pessoas, observa a autora, não amam a literatura. O que significa ler como um escritor?

Uma amiga tem chorado e dormido mal nos últimos dias. Não, o motivo não é a covid-19, que provoca temor e ansiedade mas já não arranca lág...

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Uma amiga tem chorado e dormido mal nos últimos dias. Não, o motivo não é a covid-19, que provoca temor e ansiedade mas já não arranca lágrimas a não ser daqueles que perderam seus entes queridos. O motivo é a morte do menino Henry, que foi supostamente torturado e assassinado pelo Dr. Jairinho (a imprensa bem que podia cortar esse diminutivo, que soa irônico).

O mito é uma criação fantasiosa que procura explicar aspectos da natureza ou da condição humana. Nossos antepassados os cultivavam para da...

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O mito é uma criação fantasiosa que procura explicar aspectos da natureza ou da condição humana. Nossos antepassados os cultivavam para dar sentido ao mundo. Esse reinado da imaginação durou séculos, até ser destronado primeiro pela filosofia, depois pela ciência.

Dizem que a paixão cega, por isso é recomendável antes de se apaixonar fazer um rigoroso exame de vista. Isso não assegura que você vá esc...

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Dizem que a paixão cega, por isso é recomendável antes de se apaixonar fazer um rigoroso exame de vista. Isso não assegura que você vá escolher a pessoa certa, mas pelo menos impede que sua decisão decorra de uma ilusão de óptica. Embora o amor seja algo que “arde sem se ver”, é bom saber em que fogueira está se metendo.

Enfim, estão chegando as vacinas. Desde o início se sabia que elas eram a melhor forma de enfrentar o...

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Enfim, estão chegando as vacinas. Desde o início se sabia que elas eram a melhor forma de enfrentar o coronavírus, mas o governo se recusava a reconhecer isso. Preferia apostar em medicamentos de efeitos duvidosos e até danosos à saúde. O resultado foram longas negociações que deixavam o povo exasperado e medroso.

Clarice Lispector escreveu que “Deus é de quem conseguir pegá-Lo”. Já o diabo, acrescento, é de quem ele pegar. Daí que nesta vida seja ma...

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Clarice Lispector escreveu que “Deus é de quem conseguir pegá-Lo”. Já o diabo, acrescento, é de quem ele pegar. Daí que nesta vida seja mais importante fugir do diabo, que conhece a presa e tem o propósito deliberado de fisgá-la. O mal não faz questão de que nos arrependamos, desde que em algum momento tenhamos sucumbido aos seus ardis. Rousseau sabia disso quando escreveu, nas “Confissões”, que devíamos “evitar a primeira vez”.

Mas como aceitar esse conselho numa época que vê na experiência o único critério para o aprendizado e o melhor guia para as ações? Um dos bordões mais entoados hoje é o de que “caminhando se faz o caminho”. Só se deveria então escolher alguma coisa depois de experimentá-la.

Ao propor que evitemos a primeira vez Rousseu não estaria postulando uma moralidade apriorística e abstrata, que nos privaria de um juízo fundamentado e preciso porque seria alheia ao nosso eu? Se evito a primeira vez, o faço com base na experiência dos outros... Seria irônico isso num autor que incutiu no ser humano a noção de subjetividade.

Uma das passagens marcantes das “Confissões” é aquela em que Rousseau recebe um castigo ao descumprir determinada regra e se sente injustiçado por “ser outro”, ou seja, ter uma individualidade. “Se não sou melhor, sou outro” – é mais ou menos isso que ele escreve. Assim, não poderia agir como todo o mundo. Isso que hoje está banalizado em comerciais e certos livros de autoajuda – o encorajamento a que cada um “seja o que é” e faça a diferença – começou com o iluminista suíço.

Rousseau me serviu há anos de inspiração numa conversa que tive com a minha filha mais velha. Falávamos de drogas; se bem confiasse nela, eu queria mais argumentos para convencê-la de que, particularmente nesse domínio, era preciso evitar a primeira vez.

Ponderei-lhe, didático: “Imagine que você queira experimentar drogas por curiosidade. Duas coisas podem acontecer: ou você gosta, acha que vale a pena; ou não gosta e se dispõe a jamais fazer de novo. Comecemos pelo segundo caso: como você não gostou, perdeu tempo experimentando. O melhor mesmo era ter evitado. Vejamos agora o primeiro, ou seja, o caso em que você ache a droga um barato. Isso seria terrível, pois você ia querer repetir a dose.” Fiz uma pausa e resumi: “Esse é o tipo de experiência que não vale a pena tentar”.

É falsa a ideia de que devemos “experimentar tudo”; a algumas coisas devemos renunciar até por instinto de conservação. Um dos segredos de bem viver é discernir entre o que vale a pena ser experimentado e o que deve, de antemão, ser objeto de renúncia. Para isso não existe fórmula, a não ser a do bom-senso.

O Filósofo está apaixonado. Demorou muito para admitir isso, mas agora não pode mais se enganar. Seria desconhecer as evidências, menospre...

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O Filósofo está apaixonado. Demorou muito para admitir isso, mas agora não pode mais se enganar. Seria desconhecer as evidências, menosprezar o alcance das suas faculdades cognitivas. Depois de longas prospecções interiores, reconhece que está amando. Não permitiria, contudo, que os arroubos da paixão lhe turvassem o entendimento. Afinal era um filósofo, um homem acostumado a meditar sobre as grandes questões do universo.

Augusto dos Anjos notabilizou-se por tematizar a morte e a melancolia, registrando em suas imagens, vazadas num vocabulário áspero e diss...

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Augusto dos Anjos notabilizou-se por tematizar a morte e a melancolia, registrando em suas imagens, vazadas num vocabulário áspero e dissonante, o universo da doença e da putrefação. O poeta firmou-se no imaginário de seus críticos e leitores como um homem essencialmente triste, mesmo doente, para quem “a alegria é uma doença e a tristeza a (sua) única saúde.”.

Em que é que eu pensava enquanto conduzia Juliana ao altar? Foi mais ou menos isso que alguém me perguntou na recepção que houve depois. E...

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Em que é que eu pensava enquanto conduzia Juliana ao altar? Foi mais ou menos isso que alguém me perguntou na recepção que houve depois. Eu respondi que já não me lembrava, mas a verdade é que não pensei em nada. Queria chegar logo ao final do cortejo e me livrar das fisgadas daquelas dezenas de pares de olhos.

Em 1994 veio a público, pela Nova Aguilar, a Obra Completa de Augusto dos Anjos . Organizada por Alexei Bueno , ela reunia pela primeira v...

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Em 1994 veio a público, pela Nova Aguilar, a Obra Completa de Augusto dos Anjos. Organizada por Alexei Bueno, ela reunia pela primeira vez toda a produção do paraibano. Nas palavras do organizador, o volume “constitui o depósito formal de tudo que (Augusto) produziu, do mais contingente ao mais sublime”. Ou seja: não apenas o “Eu” e as outras poesias, coligidas por Órris Soares, como também os Poemas Esquecidos, a Prosa Dispersa, a Correspondência e os chamados versos de circunstância.

Carnaval, ele com vontade de ir para a rua, e a mulher doente no quarto ao lado. Da sala ouvia a tosse — curru, curru, curru... Era a noit...

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Carnaval, ele com vontade de ir para a rua, e a mulher doente no quarto ao lado. Da sala ouvia a tosse — curru, curru, curru... Era a noite em que sairia com a turma. Podia ouvir o esquentar dos instrumentos e as vozes dos que se dirigiam à concentração. Daí a pouco passariam em frente à sua casa e gritariam, chamando-o. Assim faziam com quem não saía da toca para brincar. O combinado era convocar um por um. Diriam:

Jornalismo não é literatura, mas sempre houve a tentação de se confundir um com a outra. A diferença entre os dois reside basicamente na f...

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Jornalismo não é literatura, mas sempre houve a tentação de se confundir um com a outra. A diferença entre os dois reside basicamente na forma como utilizam a língua. No jornal a palavra é veículo, e não fim. Ao contrário do que acontece no texto literário, ela “se apaga” para deixar transparecer o fato ou a opinião.

Um dos efeitos da melancolia é enfraquecer os vínculos associativos que propiciam a representação verbal. O melancólico expressa-se com di...

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Um dos efeitos da melancolia é enfraquecer os vínculos associativos que propiciam a representação verbal. O melancólico expressa-se com dificuldade, como se lhe fosse difícil estabelecer o nexo entre significante e significado. A sua fala é lenta e marcada por claros, ambiguidades, repetições fônicas e lexicais que revelam uma espécie de desestruturação do discurso.

O acaso escapa a qualquer tentativa de explicação. Mesmo assim procuramos lhe dar um sentido, e a arte é um dos meios que utilizamos para ...

O acaso escapa a qualquer tentativa de explicação. Mesmo assim procuramos lhe dar um sentido, e a arte é um dos meios que utilizamos para isso. O outro é a religião. Existe ainda um terceiro: a ciência — mas esta, embora nos traga evidências confiáveis, não tem a amplitude das outras duas. A ciência não envolve (ou envolve muito pouco) nossas fantasias e emoções. Não há poesia em fazer exames laboratoriais ou em tomar remédios, apesar dos bons efeitos que tais recursos propiciam.