Era um tempo (no auge do Plano Real) em que a moeda brasileira estava valendo praticamente o mesmo que o dólar. Foi quando empreendemos, Geraldo Magela, Franklin da Organtec e eu, a primeira cruzada aos Estados Unidos. Naquele período do ano, havia uma febre de consumo entre os brasileiros que desembarcavam em Miami.
Uma viagem ao Chile é sempre inesquecível. É um país de intensa poesia. Até no nome. Chile deriva de Chilli, uma palavra de povos andinos, que significa onde a terra termina. Não é de estranhar que tenha produzido dois dos maiores poetas latino-americanos, Pablo Neruda e Gabriela Mistral. Ambos Laureados com o prêmio Nobel da Literatura.
Ir a Viña del Mar, Valparaiso, Atacama é marcante. E o que dizer de passear à noite pela rua Suécia, ou pelo BellaVista, acomodar-se no bar Como Água Para Chocolate? Puro deleite, incompleto, porém, se não for ao Mercado Central para degustar um côngrio com um vinho carmenere no restaurante El Galeon, sob a exibição estridente de suas centollas gigantes.
Todos os sentimentos do mundo proclamam a sua poética, sobremodo quando alguém se põe em frente à obra de Augusto dos Augusto. E, em poucos lugares, essa sensação é mais presente do que Leopoldina, em Minas Gerais. Ali, há um Augusto imortal e, ao mesmo tempo, de uma intrigante ubiquidade.
Por isso, estar em Leopoldina, diante de seu túmulo e, especialmente, do tamarindo que hoje lhe dá uma sombra de conforto, foi como experimentar também as emoções desse sentimento de paraibaneidade, em torno da vida e obra de Augusto, numa irmandade com todos quantos adotaram o nosso poeta maior entre os seus.
Intriga que algumas pessoas tenham as habilitações vocacionadas para o processo de criação literária, ainda que eventualmente não exerçam essa militância, enquanto tantas outras jamais conseguirão transitar no universo dessa concepção, por absoluta ausência de mecanismos criativos, ainda que eventualmente se apropriem e dominem as ferramentas necessárias à manufatura do texto literário.
O fato é que devem existir cerca de oito bilhões de pessoas no mundo, neste início da década de 2020. Somos
bilhões de pessoas distribuídas em cerca de 200 países
(ONU, 2020), uma diversidade imensa de nações, considerando que, há cerca de um século, havia menos de 60 países
legalmente constituídos.
Quando recebi a notícia, no primeiro momento, nem cheguei a sentir tanto. Um vago incômodo, certa compaixão, admito. Mas, depois, quando, aos poucos, comecei, até involuntariamente, recuperar a memória daqueles tempos de nossa convivência juvenil, então comecei a me sentir realmente muito chocado.
Nós estamos condenados a sermos plurais. Mais que isso: estamos condenados à convivência com o diverso. Trata-se de um imperativo da natureza que nos torna singulares. A convivência com o divergente nos leva ao divino. Não fora, por exemplo, o diverso, certamente Karl Marx não teria se notabilizado com sua obra, não haveria o marxismo e todas as suas implicações para a História recente da humanidade. Pois a verdade é que ninguém, naquele momento, poderia ser mais diverso do que Marx. Apenas para citar um exemplo, digamos, mais irônico.