No sábado, dia 17/06, quando entrei no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, onde aconteceu a festinha junina da Escola Sempre Viva, para ver minha neta, Luísa, dançar a dancinha do sapo, me deparei com um espaço que me fez rodopiar pelas linhas da vida. Lembrei imediatamente do livro O Lugar, da premiada (Nobel Literatura 2022), a francesa Annie Ernaux, cujo tema é a relação com seu pai, a distância de classe, a sua posse como professora, e o amor que se quebrou. Mas as minhas lembranças eram outras. Não tinham um apanhado sociológico, mas a memória de épocas marcantes dos meus anos.
Claude e Ana Adelaide Acervo da autora
Anos depois, voltei ao Seminário. Dessa vez já com meu companheiro Juca, e para acompanhar/assistir às plenárias do Partido dos Trabalhadores. Quantos domingos participando de eleições partidárias, votações, lá nos anos 90, e presenciando discussões acaloradas, em que ele protagonizava, com o seu saber político, as várias tendências do PT. A cada uma dessas visitas, onde o hoje Deputado Federal, Padre Luiz Couto, se hospedava, eu circulava pelos jardins, pelos corredores, com os olhos de quem, um dia, tinha ouvido Jesus Alegria dos Homens dedilhado num órgão e a visão de um bolo de noiva com champanhe em taças redondas para um brinde de Viva os Noivos!
Seminário Arquidiocesano (PB) João Daniel
Lucas, Luiza e Ana Adelaide Peixoto / São João da Escola Sempre Viva
Acervo da autora
Enquanto esperavam, as crianças se enfileiravam. Vi uma noiva toda sapeca, de pintinhas no rosto, top e saia abaixo do umbigo, e um véuzinho serelepe. Os pais posicionados na frente, por vez, para registrarem aquele momento dançante, e muitos com os olhos marejados. Os meus ficaram quando vi Luísa de matuta a se requebrar na dança do sapo.
Acervo da autora
O palhaço Adilson, veterano na Escola, foi o mestre de palco e apresentador. Soltava lera com cada um que passava; reclamava do calor; e orientava aqueles menores que choravam arrependidos de um dia ter ensaiado. Na mesa, canjica, bolo de milho e um famoso patê vegetariano, que é o carro chefe dos lanches da Sempre Viva.
Adilson Lucena @pipi.adilsonlucena
Ana Adelaide Acervo da autora
Com o meu vestido de noiva na memória, as bandeiras de um partido que elegeu o nosso presidente, e um pagode russo de Luiz Gonzaga, voltei para casa abastecida, e ao contrário do pai de Ernaux, sabendo direitinho o que era belo, o valor das coisas, e a sacralização dessas mesmas coisas.