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    Cansaço Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me pre...

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Cansaço
Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me presta, não me cabe o alforje de palavras, a pretensão de um discurso; supor que a obviedade de um soluço ocupe mais que um segundo de um tempo que se desfaz e não cabe nesse cabedal polvilhado de tolices;

    Um resto de sol no desalento Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, r...

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Um resto de sol no desalento
Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, rir do descomunal segredo da vida ... Mas não nessa noite gelada

No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González Compondo o sítio arqueológico A vastidão é uma pedra ...

poesia capixaba livro glacial jorge elias neto
No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González



Compondo o sítio arqueológico
poesia capixaba livro glacial jorge elias neto
A vastidão é uma pedra redonda e fria. Grande esfera onde deslizam e desabam as criaturas. O horizonte ‒ gelo intransponível. Daí esse tatear – essa procura. A obscura arqueologia de esconder-se.

  Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos...

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Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio
Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos.

  70 metros* Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um tor...

jorge elias neto poesia capixaba
 
70 metros*
Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um torcicolo súbito diante da emanação do absurdo. Ver do alto a evolução das águas: sem o murmúrio do bocejo das ondas, sem o grito ruidoso do rasgar do mar. Imagino os que trafegam às minhas costas ... Nas gaiolas de metal, guardam as intenções dos gestos.

  Uma carteira e seus sentidos às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entr...

 
Uma carteira e seus sentidos
às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entre na dimensão do absurdo – no que se contorce – e resvala, e desperta, e nos cala. Observe essa carteira vazia –ruidosa– maculada. Ventre da omissão confusa – que nos paralisa – e enoja, e perpassa , e retalha. Observe essa carteira vazia – poderosa – enfeitada. Lembre-se da profusão do sangue – que se dispersa – e tinge, e respinga, e nos entala. Observe essa carteira vazia – fervorosa – devotada. Sinta a celebração da loucura – que consente – e trucida, e cega, e nos abala. Observe essa carteira vazia – tenebrosa – malfadada. Sinta a emanação do ódio – que se alastra – e devora, e abraça, e nos trespassa. Observe essa carteira vazia – silenciosa – abandonada. Crente na devassidão do mundo – que surpreende – e ignora, e reproduz, e nos arrasa. Observe essa carteira vazia – deliciosa – delicada. Prenhe de ilusão confusa – que consente – e insinua, e seduz, e nos agarra. Observe essa carteira vazia – espaçosa – desejada. Ciente na criação do sonho – que compreende – e ama, e perdoa, e nos concede a graça.


 
O poema acima de mim
Se disser tudo, me restará a última mentira. Mas, rente ao chão, toda mentira resvala na inutilidade.


  Os ossos da baleia A arte permite um legado sem tragédia I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse ra...

poesia capixaba jorge elias neto
 
Os ossos da baleia
A arte permite um legado sem tragédia
I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas.

Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a preparação da edição. Minha expectat...

poesia capixaba jorge elias neto rascunhos absurdo
Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a preparação da edição. Minha expectativa era grande, todos em nosso meio sabem do soberbo editor de livros que Miguel sempre foi.

    Pólos Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande ...

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Pólos
Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande colecionador de figurinhas, trazia colada nos olhos sua fortuna de desejos.


    Dimensões As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.

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Dimensões
As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.


      Verdes Versos I O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara. Vegetariano...

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Verdes Versos I
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.


Vegetariano
O esquecimento jamais devolve seus reféns. FABRÍCIO CARPINEJAR

      A poesia começa assim Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz...

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A poesia começa assim
Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz se aperceber, desmembrada pelo estalo da palavra, jogar-se nos trilhos para salvar a flor.

      Marco Zero Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e do...

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Marco Zero
Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e dos desencantados. Recolhamos a vela — sudário santo — que há de ser lenço e manto aos que choram e perecem sobre as rochas.

      SONETO EM CRISE O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revol...

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SONETO EM CRISE
O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revolta e um perfil de semblante amargo. A fala que se esforça em verso, ofensa, um desmentir inútil do absurdo que transpassa o ser fútil e enlaça a criatura com seu silvo agudo,

      NOME O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fom...

poesia capixaba jorge elias fotografia vitor nogueira
 
 
 
NOME
O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje

      Decreto (para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignifi...

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
Decreto
(para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignificâncias. Não é permitida a inspirabilidade do óbvio. É mandatório o afogamento das circunstâncias. O status quo deverá ser limpo com papel higiênico. Será suprimido do vocabulário o beijo sem língua. No cardápio das quartas-feiras o prato principal será o ócio. Que se nomeiem os filhos conforme o cricrilar dos grilos. Cada bocejo deverá ser celebrado como profecia.

      Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e p...

poeisa capixaba jorge elias neto
 
 
 
Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e poente retorna ao berço do imenso e da quase morte. Gira flor que no sumidouro dos dias restou a vida retinta pela claridade que ensinou do silêncio na espuma das nuvens.

MONÓLOGO A DOIS Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da belez...

poesia capizaba jorge elias neto
MONÓLOGO A DOIS
Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da beleza Perto de mim há um anjo que me entende, e chutamos pedras As luzes polvilham a cegueira, e eles já não veem o bordado das asas, as tranças do anjo, a textura desalinhada de seus passos e me condenam a loucura (A praticancia desassistida de sonhos é o testemunho da morte que abomino)

      CAÍRAM AS FOLHAS Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que...

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CAÍRAM AS FOLHAS
Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que alimentaram Apenas a meia-volta da memória se despede, vez ou outra E sigo na constância, e os dias, sim, brotam

      Varal Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste var...

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Varal
Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste varal mágico, o que se vestiu, o que existiu, o que é e não simplesmente foi, o que está exposto é a materialização de minhas vivências. Penduro cheiros neste varal: O cheiro de talco de minha avó; Meu pai-cheiro. Nele estão também os cabelos longos de meu irmão Que verteram poesia e sofrimento. (Quem sabe também o seu último olhar para a morte?)