Vó Bela, esta celebração é uma tentativa insana de te eternizar no silêncio.
“Ô, Zabé, Zabé, Zabé Zabé, Zabé, dez vez' Zabé Ô, Zabé, Zabé, meu bem Eu chamo tanto, Zabé não vem.” (Luiz Gonzaga...
Memorial de Vó Bela
Vó Bela, esta celebração é uma tentativa insana de te eternizar no silêncio.
“... A carne, sem pão, encontrada no chão, é de todos nós, e que já era mais que tardia a nossa apatia e cinismo em insistir na açã...
O que reveste a santidade além do manto?
(Pastoral do Povo de Rua)
(Comissão da Promoção da Dignidade Humana)
DESPEDIDA É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, im...
Por detrás de tudo tem o homem
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos) e algo chamado silêncio ficou atado ao último pórtico onde calamos nossas vozes e partimos, mutilados de nosso amor.
Não vou falar o nome das coisas, elas se bastam em sua incompletude Nome e sobrenome do homem, este ser de farpas e paixões O enredo, o embrenhar no azul, é uma busca do eterno no desmedido No ínfimo, substituto da razão, o consolo, o suspiro de alívio Não vou falar o nome das pessoas, elas são muitas e várias em seus tons de voz, de súplicas, de verdades.
(escorrer entre os dedos é uma necessidade sagrada) O formato das mãos não se presta a guardar as lágrimas, não comportam sua rebeldia De gestos impacientes, permitem frestas e luz.
Em algum momento há de se aprender sobre o desaparecimento Os dentes assinam as raízes das coisas (algo desapercebido – o lapidar da esfinge) A vida tem sua fome de glória e guerra pela verdade e estende seu piso até a Terra que nos preenche com a derradeira surpresa.
Tudo é casual, até o sentido da vida, o zelo, o olhar. (Eu te trouxe, mas você não me serve mais.) Não cabe em minha tristeza o que não me sustenta, não me dá “likes”. Mas você insiste em estar, mesmo quando desiste da vida.
O outono colorido, as folhas de plástico, a Bíblia sob a vitrine, (receptáculo de minha esperança) As lentes do paraíso, protegidas pela Praia Forte – 3225-4170 e a minha carne, meus ossos, saltando sob os traços tribais E no reflexo da vitrine o homem com seu cigarro, seu celular e sua sensibilidade para com os excluídos.
Muitas vezes percebemos o trovão e não nos assustamos com o silêncio da destruição.
Santo, sei do relicário de ossos sem céu e sem teto.
Nestes tempos de dicotomia nas paixões
Fernando Pessoa, o assumido poeta do EU, sabia que o olhar necessita de um objeto, daquilo em que se depositam o desejo, a angustia, a dor, a febre – e, é claro, a esperança e tudo que a circunda. Inclua nesse rol, a compaixão. Eis a questão tão inequívoca quanto necessária: como, situado neste mundo, pode o poeta abster-se do real e ignorar o que lhe cerca? A dupla Vitor Nogueira – Jorge Elias Neto encara esse real e, cada um com seu olhar – complementares, diga-se -, observa que o mundo não é exatamente o que se mostra: ele é mais intenso, mais vil e mais desigual do que imagens e palavras possam expressar. Daí a necessidade de compadecer-se e agir. A ação em “O mais EU de todos em mim vive me desconhecendo”, num certo sentido, confirma o português Pessoa: a realidade faz com que nos reconheçamos de todos os modos possíveis, e a poesia e a fotografia (ambas de uma beleza crua e essencial, definitiva) podem nos levar muito além, plenas de luz e vida, impelindo-nos a reconhecer que fazemos parte de um mundo que, ao menor descuido, tende a nos abominar e a nos rejeitar.
Estamos, todavia, todos juntos. E, felizmente, para o nosso consolo, com Vitor e Jorge nos guiando.
(Francisco Grijó - escritor)
VARIAÇÕES SOBRE UMA PEDRA E o peso, essa discórdia, essa falta de disciplina, o terço desfiado a esmo na comichão dos dedos...
Convulsos, na luta inglória
E o peso, essa discórdia, essa falta de disciplina, o terço desfiado a esmo na comichão dos dedos sem paz, convulsos, na luta inglória E o limo que floresce, delicado e célere, na expectativa de nosso primeiro passo.
ARRIMO DA PEDRA BRANCA Coube em mim esta vontade moura. A seta andeja da cruel maldade não saberia ter o fecho à boca, ou sacia...
Anonimato da soberba
Coube em mim esta vontade moura. A seta andeja da cruel maldade não saberia ter o fecho à boca, ou saciar a pueril vaidade. Mas sou minguado, insignificante, não sei da ira, da força desmedida, sou ser prosaico, manso, tolerante, que ao rés do chão vou farejando a vida.
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) A PARTE METADE A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de me...
O Estalo da Palavra (XXXVIII)
(Editora COUSA – 2023)
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz.
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) SONETO PARA A INCERTEZA E se os pés trocados na subida no horizonte viv...
O Estalo da Palavra (XXXVII)
(Editora COUSA – 2023)
E se os pés trocados na subida no horizonte vivo da vertigem fosse o rumo certo dessa vida de busca e perda, sem céu, sem origem Na imagem perdida em cada foto no suporte do poste, arrebol das nuvens, em plumas, como um horto de desejos, de enfim um portal
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) MELODIA Se laço ou corda me fizeram refém de sua volta, vai melodia — e...
O Estalo da Palavra (XXXVI)
(Editora COUSA – 2023)
Se laço ou corda me fizeram refém de sua volta, vai melodia — esse estilhaço de eternidade — (nessa revolta interminável)
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) Para meus filhos Canto primeiro Habita em mim um sem número de dester...
O Estalo da Palavra (XXXV)
(Editora COUSA – 2023)
Habita em mim um sem número de desterrados, meus pares eternos, raízes que me circundam. Resmas e resmas de histórias perdidas, descartadas, um cotidiano de ossos e aboios de heróis impuros.
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) MONÓLOGO Pode ser meia a dor que te consome? Viver, apreender pala...
O Estalo da Palavra (XXXIV)
(Editora COUSA – 2023)
Pode ser meia a dor que te consome? Viver, apreender palavras, guardá-las no silêncio. O mormaço já está distante e os grãos da areia não povoam mais a mesma praia. A mãe, um vazio sem nome, os passos trocados do pai. A memória se movimenta para trás das cortinas e o esquecimento ocupa o palco dos nomes.
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) O DECLÍNIO DO ÚLTIMO DIA Arde o sol na terra posta sobre o tropel dos c...
O Estalo da Palavra (XXXIII)
(Editora COUSA – 2023)
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) A MULHER QUE ME APRESENTOU A VIDA Não sei se o veneno tinha cheiro...
O Estalo da Palavra (XXXII)
(Editora COUSA – 2023)
Não sei se o veneno tinha cheiro de um sonho e a composição da cura passava por despertar um corpo, uma consciência (o mutilado se satisfaz com uma miragem da perfeição) Mas não me vesti com seu desejo, não me coube as cores de seu futuro, vesti-me de mim, esse ser salobro que se interroga a capacidade de amar
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) O poema corre contra o sol nascente para que se espalhe a sombra...
O Estalo da Palavra (XXXI)
(Editora COUSA – 2023)
Precisamos de um novo herói, de um mago, de um mestre dos tempos, que nos corrompa e seja obsceno, que nos derrame o sangue de seu afeto e nos apresente os desígnios das nuvens.
POEMAS DO LIVRO “XXI Sombras (Editora COUSA – 2023) “Morte, tu me obrigas a mudar Nesta estufa em que meu corpo sua Todos os e...
O Estalo da Palavra (XXX)
(Editora COUSA – 2023)
Nesta estufa em que meu corpo sua
Todos os excessos do século.”
Hélinand de Froidmont
“Os Versos da Morte – Século XII"
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022) MANUAL DO SANTO AMPARO Apoio a cabeça em mão que ...
O Estalo da Palavra (XXIX)
(Editora COUSA – 2022)
Apoio a cabeça em mão que não é minha. Ela me batiza, me passa a unha, acaricia, desmancha o cabelo, me põe medo tampando os olhos, empurra o nariz
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022) MANUAL PARA LOUVAR A POESIA Abençoado o terror dos...
O Estalo da Palavra (XXVIII)
(Editora COUSA – 2022)
Abençoado o terror dos dedos entregues à poesia madrugadora. Abençoado o menestrel das insurgências absurdas, das desculpas, do torvelinho, que late solto pelas cordilheiras. Abençoado o nascido sonolento, um passo atrás das urgências. Abençoado o talo da imensidão e o machado do corte, o soletrar dos vícios na paz dos escombros.
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022) 1° de janeiro Após o pão e circo, sigo em busc...
O Estalo da Palavra (XXVII)
(Editora COUSA – 2022)
Após o pão e circo, sigo em busca da ciência de desinventar. No vazio do salão amanhecido ainda ressoam os ecos dos champanhes, os alaridos esperançosos, os sussurros de cumplicidade.
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022) MANUAL PARA FAZER BOLA DE GOMA DE MASCAR A goma...
O Estalo da Palavra (XXVI)
(Editora COUSA – 2022)
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022) MANUAL DE SE ENVEREDAR EM CAMINHOS Os campos er...
O Estalo da Palavra (XXV)
(Editora COUSA – 2022)
Os campos eram de um algo de desprezar estradas, percorrer vazios, recontar as sombras. Era um bastar-se despercebido. (Mesmo sem, era muito.) Preparar saltos, conter a fadiga.
POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero” (Editora Arribaçã – 2021) Quo Vadis Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me p...
O Estalo da Palavra (XXIV)
(Editora Arribaçã – 2021)
Sou um devoto de pernas tortas, um desequilíbrio me preenche, uma crença na embriaguez (Um tom de cor que não percebem os olhos claustrofóbicos) Conforme os cartazes, não existo, uma impossibilidade me percorre como um sangue incolor