No inverno austríaco de 1756 nasceu Wolfgang Mozart, meu milagre favorito, amor de vida inteira. Imagino isso como o sol iluminando a ...

Único, soberbo, irresistível.

mozart musica erudita inspiracao divina
No inverno austríaco de 1756 nasceu Wolfgang Mozart, meu milagre favorito, amor de vida inteira. Imagino isso como o sol iluminando a brancura da neve, dourando tudo, espalhando calor e esperança.

Foi um daqueles dias em que a natureza (ou a divindade) olhou para nós e decidiu nos oferecer alguém para apaziguar nossas horas de medo, fazer brotar estonteante alegria e nos enlaçar delicadamente quando as lágrimas inundarem os nossos olhos.

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Quero morrer ouvindo o Réquiem, mas também o Kyrie da missa em Dó Menor (K. 427), que ele fez para apresentar a esposa Constanze ao pai e a toda Salzburg. Constanze cantou a parte do soprano. Uma ária de oito minutos. Difícil.

Mozart por vezes é um enigma. Passou apenas 36 anos por aqui e deixou a sublimidade gravada em partituras, mas também em cartas desarmantes, na qual a música é um dos raros temas tratados com seriedade. O restante é feito de manifestações engraçadíssimas e alguma escatologia. Um gênio pateta, capaz de fazer brincadeiras de gosto duvidoso - o que o aproxima bastante do que foi mostrado no filme Amadeus, de Milos Forman.


Por outro lado, o filme também consagrou certas lendas em torno de Mozart, a mais grave sobre o compositor Antonio Salieri. Escrevi sobre elas (link no fim do texto).

Escrever sobre Mozart é expor-se ao perigo de mergulhar no mito. Perde-se a isenção, instala-se o reinado da pura paixão. Dois séculos depois de sua morte, sua figura dança com a nossa imaginação. Persegue-se a objetividade, mas a força de sua música vigorosa se impõe, cativa, subjuga e dá asas aos sonhos.

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E queremos que essa música de encantatório poder seja tradução da personalidade gaiata e da vida trágica do autor. Impossível escapar.

Acima de detalhes fantasiosos, interpretações ocasionais, teses médicas e cartas surpreendentes, paira a perfeição da música de Mozart. E ela é a chave para se entender a mitologia que se agrega à história do compositor. Apaixonada, pura, quase intimidadora, teoricamente ela dispensaria a curiosidade pelos detalhes da existência de seu autor. Mas é justamente ela que nos faz criar, alimentar, buscar e reproduzir a lenda mozartiana.

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Wolfgang era feito de paixões desenfreadas? Sim, mas também de filigranas e delicadezas. E tudo isso se encontra em sua música, que pulsa, inquieta, mas sabe curvar-se, serena, para deliciar ouvidos amantes.

É assim nos concertos para piano, suaves, melodiosos. Ou na majestade imponente das sinfonias, no poderoso conjunto das óperas, nos mistérios santificados de suas missas e na quase indescritível espiritualidade do Réquiem. E quem há de esquecer os divertimentos, a alegria-menina das árias de Papageno? Quem mais vestiria maldições e um canto de vingança em tão maravilhosa música como ele fez na ária da A Rainha da Noite ou na voz vingadora e aterrorizante do fantasma de Don Giovanni?


Mozart. Apenas ele. Único. Soberbo. Irresistível.

Grande Missa em Dó Menor


Requiem


Concerto para Piano #20. Camerata Salzburg e a divina Mitsuko Uchida. Este é meu concerto favorito. Na primeira apresentação, em Viena, o próprio Mozart foi solista. Gosto de imaginar que tocou e regeu exatamente do jeito que Uchida o faz.


Gran Partita / Serenade for Winds (o certo é traduzir como Serenata para Instrumentos de Sopro, mas não parece combinar com o meu amor por Mozart. Então eu gosto de chamá-la, há muitos anos, de Serenata dos Ventos, pois parece que cantam juntos brisas, furacões e alísios, boréas e zéfiros):



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