Escolhi caminhar pelo mundo sem carregar pesos desnecessários. Fiz um pacto comigo mesma e expulsei a ideia de perfeição, essa gaiola dourada. Hoje, encontro grande tranquilidade em me reconhecer imperfeita. Não celebro minhas falhas, tampouco as oculto.
As imperfeições físicas pouco me incomodam, mas ponho plena atenção nas falhas morais. Vigio-as de perto, consciente do perigo que representam, sem permitir que me devorem. São a minha bússola na luta interna que reinicio a cada manhã. Minha imperfeição é antídoto contra o impulso egóico de me sentir superior aos outros. Comparação é uma armadilha, caminho certo para se sentir diminuído ou vaidoso – duas rotas que conduzem a sofrimentos evitáveis.
SJ Objio
Talvez por isso, eu me sinto cada vez mais deslocada nas redes. Os linchamentos virtuais me chocam, tornando esse espaço quase intrafegável. Permaneço em apenas duas plataformas, onde consegui, por um quase milagre, reunir amigos cuja gentileza é a tônica.
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“Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”.
Eu, minhas grandes falhas e meu caminho pontilhado de memórias dolorosas, nos apresentamos ao poeta, com nossa bagagem na qual as boas qualidades se misturam a preguiça, cansaço, indisciplina, impaciência, tristeza e más escolhas. Minha opção preferencial é ser um humano sem retoques. Busco desesperadamente a ética, mas me reconheço falível e, muitas vezes, tola.
Neste final de verão, a árvore na minha sacada tem flores cor de rosa. Mochi e Tofu, os gatos, dormem tranquilos. Uma brisa agita os meus cabelos e harmonia é tudo em que penso.
A minha perfeição possível é a paz de espírito.
Sonia Zaghetto