novembro 06, 2017
E ste cronista que aqui escreve anda meio esquecido. Dizem que é normal depois dos setenta. E haja vitamina B. Mas, esquecer é bom ou é ruim...
Este cronista que aqui escreve anda meio esquecido. Dizem que é normal depois dos setenta. E haja vitamina B. Mas, esquecer é bom ou é ruim? Depende, dirá você. E eu digo o mesmo. Nem sempre esquecer é bom.
Afinal, o que devemos ou não esquecer? Comecemos pela gratidão. Jamais esquecer um gesto de bondade ou um ato de amor, de gentileza. Portanto, sejamos gratos. A começar pela vida que nos foi dada. Haverá maior dádiva? Por acaso, somos joguetes do acaso? Será que o homem, como sentenciou o materialista Sartre, é uma “paixão inútil”? Afinal, a quem agradecer a vida que temos? Se tudo surgiu por acaso, então o acaso é inteligente?...
Voltando ao esquecimento, quando é que ele é uma terapia? Ora, ora, quando nos faz bem. Esquecer o mal que alguém nos fez, esquecer o passado pelo que ele conte de negativo, esquecer uma dívida. Sócrates, já perto de ser envenenado pela cicuta, pediu que não deixassem de pagar uma dívida que ele havia contraído. Por que o filósofo não esqueceu aquele compromisso? Para ficar em paz com a sua consciência. A única coisa que levamos desse mundo.
Não devemos esquecer os deveres para com a vida. Do contrário seremos irresponsáveis. E a pior coisa do mundo é a irresponsabilidade. Quando você cumpre com os seus deveres, fica aliviado, satisfeito, alegre, de bom humor. Alegre consigo mesmo. Esquecer, lembrar, eis o que está ocorrendo, constantemente, em nossa existência.
Esquecer as amizades não é correto. Os amigos devem estar sempre no nosso pensamento, na nossa gratidão. Esquecer os desafetos, sim. Para que está lembrando o mal que nos fizeram? Lembrar é dar vida a uma coisa. Portanto, lembrar os males que nos fizeram é vivificá-los. Daí a estupidez da vingança, da mágoa. Não esquecer o inimigo é estar sintonizado com ele. A vingança não resolve nada.
Esquecer as coisas negativas e lembrar as positivas, eis a fórmula do bem-viver. Por que é que as crianças estão sempre alegres, sempre descobrindo as coisas boas da vida? Porque não guardam mágoas. Mágoa é uma desgraça. Mágoa é ressentimento, e ressentimento é uma espécie de azia psíquica. Criança triste é criança doente.
A má lembrança é um fardo. Livre-se dela. É belo colocar retratos na parede das pessoas que se foram desta vida. Eis aí uma lembrança que faz bem ao que se lembra e ao que é lembrado, caso você acredite na imortalidade do espírito. Caso contrário, pouco valerá a sua lembrança...
Lembrar, esquecer, eis aí dois verbos constantes em nossa vida. Mas Deus é tão grande, justo e bom que nos deu esse esquecimentozinho tardio. També, nos deu o sono, uma boa pausa em que nos tornamos inconscientes. Haverá melhor terapia do que esta? Pena que muitos tenham insônia ou pesadelos. Que, muitas vezes, também depende da vida que se levou durante o dia...
Acontece que está me chegando a fome. Eis aí uma coisa de que a gente não consegue esquecer. Esquecer de comer. Nem depois dos setenta...
novembro 06, 2017
outubro 30, 2017
N a próxima quinta, teremos o impropriamente chamado Dia dos Mortos, ou de “Finados”. Aqui para nós, muita gente ainda acredita que a pessoa...
Na próxima quinta, teremos o impropriamente chamado Dia dos Mortos, ou de “Finados”. Aqui para nós, muita gente ainda acredita que a pessoa que não respira mais vai encerrar sua vida num bonito caixão, debaixo da terra. Embora a Ciência prove que o corpo físico se decompõe, restando apenas os ossos, muitos acham que o que se decompõe se recomporá no dia em que uma trombeta tocará chamando os mortos. Para o Juízo Final.
Dependendo do julgamento, há os que vão curtir as delícias do Paraíso, outros irão para o Purgatório e, finalmente, os que serão condenados ao Inferno eterno, onde há muito fogo, e Deus fica de braços cruzados, indiferente a essas torturas. Aqui para nós, há muita gente que ainda acredita nessas alegorias.
Há os materialistas que pensam que tudo se acaba, que tudo vira cinzas... E os espiritualistas? Esses sabem que o que fica sepultado na terra é a carcaça carnal, e que o espírito sobrevive à matéria.
Dia dos Mortos. Não vou ao cemitério há muitos anos, mas lembro dos entes queridos que já se foram. Que tal pegar os seus retratos e orar? Que tal mentalizar uma prece em seu nome, enviar-lhes boas vibrações?
E os caixões mortuários, como são bonitos! Mas, seus comerciantes não têm o direito fazer propaganda de suas mercadorias... Nem no rádio, nem no jornal, nem no outdoor, nem nos supermercados anunciam os bonitos caixões. Ninguém dizendo: "Compre o seu caixão agora e pague em dez vezes.
Certa vez, vi uma coisa que muito estranhei, numa pequena cidade alemã, chamada Wiesbaden: uma requintada vitrine de caixões mortuários. Talvez destinados aos mais ricos. Tive pena que caixões tão bem confeccionados fossem lançados à terra.
No Dia de Finados, sempre me lembro da inscrição no túmulo de Allan Kardec, no cemitério Père Lachaise, em Paris: "Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei"…
outubro 30, 2017
outubro 29, 2017
J á se começou a falar nas eleições do próximo ano e eu fico pensando na campanha eleitoral que se faz nas ruas. Haja carros de som arrebent...
Já se começou a falar nas eleições do próximo ano e eu fico pensando na campanha eleitoral que se faz nas ruas. Haja carros de som arrebentando nossos ouvidos, comprometendo, estupidamente, o conceito de gente civilizada.
Já imaginaram se um carro de som entendesse de sair às ruas de Paris fazendo propaganda de candidatos? Imediatamente seria apreendido e multado. O fato seria levado para jornais e TV. Tratar-se-ia de um escândalo, um atentado grosseiro à saúde, à paz, ao silêncio!
Ah, o silêncio!... como ele é desrespeitado! E quem mais o destrói? Quais os animais mais barulhentos do mundo? Ora, é o homem, o chamado "racional". Mas ele somente? Não, o cachorro também é, vez por outra, inimigo do silêncio. Talvez seja por isso que ambos são tão amigos.
Os outros animais, em geral, são silenciosos: os pássaros que cantam e encantam, os peixes, sejam num aquário, sejam no mar, os pombos, as vacas, as ovelhas nos campos. E a Natureza? Porventura as árvores fazem barulho? É verdade que as flores explodem beleza, mas em silêncio. Até a bomba atômica explodiu sem barulho. As estrelas, as nuvens, os planetas, as montanhas, o mar, os rios, os lagos, o nosso Sol... Quanto silêncio os envolvem! E o nosso corpo, essa silenciosa usina? O coração bate em silêncio, o sangue corre sem zoada, os pulmões respiram calados, a digestão se processa em completa mudez. Deus sabe o que faz. Já imaginaram se esses órgãos fizessem barulho?
Mas o animal-homem é barulhento por natureza, menos nos países civilizados, onde a lei contra a poluição sonora é respeitada. Ah, se você visse o que eu vi na capital da Nova Zelândia... Íamos passeando, numa tarde domingueira, por um de seus elegantes e tranqüilos bairros, sem muros nem portões, quando, de uma casa surgiu um cachorro latindo, ao nos ver. Imediatamente, o seu dono veio ralhar com o animal, e nos pediu mil desculpas pelo barulho. Não obstante sermos nós os intrusos. E o animal, obediente, saiu mansinho que fazia gosto. O silêncio era absolutamente respeitado naquele sossegado bairro...
Povos bárbaros são os que fazem barulho. Tive oportunidade de assistir a uma campanha eleitoral em Berlim. Nenhum carro de som. Propaganda só se fazia através de fotos em cavaletes padronizados, muito bem confeccionados e disciplinados. Tudo na mais perfeita paz. Nada do infernal abuso que ocorre durante esta maldita e abusiva campanha eleitoral, com candidatos desrespeitando as próprias leis ambientais e de contravenção penal. Cadê o Ministério Público?...
outubro 29, 2017
outubro 23, 2017
D iz o ditado popular que a pressa é inimiga da perfeição. Eis aí uma verdade. Nada feito correndo pode prestar. E está aí a Natureza com a ...
Diz o ditado popular que a pressa é inimiga da perfeição. Eis aí uma verdade. Nada feito correndo pode prestar. E está aí a Natureza com a sua silenciosa didática, ensinando-nos que tudo tem de ser feito devagar, com disciplina, paciência e muito amor. Veja o silencioso e vagaroso trabalho da gestação.
Ainda não vi um quadro mostrando a figura de um homem apressado. Apressado e estressado, conclua-se. Sim, porque quem está fazendo as coisas depressa é porque está estressado. Será que algum artista pintou um homem com pressa? Confesso minha ignorância.
“O Pensador”, de Rodin - ah, como adoro esta escultura, que já vi de perto, mais de uma vez, em Paris – é uma obra que deveria estar em toda parte para despertar nas pessoas o hábito de pensar, de meditar, de refletir. Estamos nos tornando muito máquinas. Sem tempo para uma conversa consigo mesmo e com os outros. E tudo isso devido à pressa, que vai se tornando uma patologia. Assim dizem os psicoterapeutas. Pressa no andar, pressa no cumprimentar, pressa em se alimentar, pressa em dirigir o veículo (Quanta gente buzinando a todo instante!...) Pressa em telefonar, pressa em quase tudo, menos no ato sexual e na bebida alcoólica. Já reparou que o alcoólatra toma a sua cerveja ou o seu uísque, bem devagarinho, por mais apressado que esteja?...
Como disse o grande missionário holandês, Henri Nouwen, no mundo de hoje estar apressado é ter "status". Vez por outra estamos ouvindo uma pessoa dizer: "Não tenho tempo mais para nada" ou, senão, "Diga logo porque estou muito apressado". Não há tempo nem para o almoço. Tudo tem de ser correndo. Tudo correndo, menos quando chegam a doença ou a morte. Aí tudo é devagar. Vá a um hospital e constate esta verdade. Ninguém, ali, está sem tempo. Aliás, nunca vi um carro funerário em disparada a caminho do cemitério...
outubro 23, 2017
outubro 23, 2017
N unca tive medo de avião. Nem no meu “debut” aéreo. Para ser franco, sinto uma grande euforia quando subo aquela escadinha da aeronave. Nun...
Nunca tive medo de avião. Nem no meu “debut” aéreo. Para ser franco, sinto uma grande euforia quando subo aquela escadinha da aeronave. Nunca pensei na possibilidade de um acidente aéreo. Digo sempre com os meus botões: é tão raro um avião cair...
E fazendo uma reflexão filosófica, será que este nosso corpo de carne e osso, que nos transporta da infância à velhice, é seguro? Lembrar que ao sairmos de casa, pela manhã, muita coisa pode acontecer, desde um acidente de automóvel a uma súbita parada cardíaca. E aqui para nós, parada cardíaca é parada... E pensando bem, é melhor do que ficar numa UTI, cercado de aparelhos por todos os lados. Com a parada cardíaca, você se livra de muita coisa chata, inclusive de hospital, balão de oxigênio, injeções e outras coisas...
Por que, então, esse medo de avião, que em relação aos outros transportes, é muito mais seguro? De viagem aérea, só não gosto da estreiteza de espaço entre as poltronas, do apertadíssimo sanitário, das comidinhas sem graça trazidas pelos comissários de bordo, e só. Todavia, adoro aquele silêncio, quebrado, vez por outra, pelo choro espremido de uma criança. E o doce zunzum do ar condicionado?
Depois, que gostosura ler num avião... Como é bom saber que estamos acima das nuvens!... O chato é não poder ficar sempre caminhando entre as poltronas, como recomendam os médicos, para evitar trombose nas pernas. Daí, termos que usar aquelas meias chatas.
Mas, a verdade é que ninguém está seguro, nesta vida. Desde o momento em que deixamos a casa, manhã cedo, até à noite, quantas turbulências, quantos desastres podem acontecer... É claro qua as máquinas inventadas pelo homem, a exemplo dos aviões, estão sujeitas a quedas. E quem riem disso são os pássaros, as borboletas e os urubus, criados por Deus. Quanta segurança nos seus vôos... Nunca ninguém viu um urubu cair morto...
outubro 23, 2017
outubro 16, 2017
N a última viagem que fiz a Berlim, há poucos meses, vi os alemães tentarem transformar o rio num mar. Botaram até areia branca. Não sei se...
Na última viagem que fiz a Berlim, há poucos meses, vi os alemães tentarem transformar o rio num mar. Botaram até areia branca. Não sei se jogaram sal no rio. Só sei que muito me comoveu o espetáculo. Todos deitados na areia, tomando banho de sol, mas sem ouvir o rumor das ondas se desmanchando na areia. Aí é que eu vejo a riqueza que temos e pouco valorizamos: um mar de verdade, sem pedras, mas com muita areia macia.
Pena que essa riqueza dada pela Natureza, seja tão mal cuidada. Mar poluído, praias cheias de barracas. Duvido que os nossos irmãos estrangeiros fizessem isso... Colocassem barracas, sujassem a praia.
Mas, nem tudo está perdido. Soubemos que a nova prefeita do município do Conde, que tem as mais belas praias do Nordeste, mandou fazer, lá, uma verdadeira limpeza. Quase não quis acreditar. Tudo indica que o Conde será outro com a nova administração que já mostrou a que veio.
É preciso nos conscientizarmos que temos o que a maioria dos mares estrangeiros não têm: praias limpas, com coqueiros, areia macia, de águas mornas. E pensar que a nossa Jacumã, antes dessas barracas, possuía um vasto coqueiral. Quem sabe, a prefeita Márcia Lucena, não se sensibilize com a ideia de replantá-los?… E que dizer da praia de Coqueirinho, de Tabatinga e a Praia do Amor com suas silenciosas e misteriosas falésias? Que maravilha!
Outra coisa que a prefeita precisa fazer é acabar com aquela barulheira nas praias, que, nos feriadões, estão se transformando num verdadeiro inferno sonoro. Só os surdos suportam tanta barulheira. Carros passam nas ruas fazendo um barulho de abalar as paredes. Lembrar que turismo não combina com barulho. Turista de bom nível, educado, quer sossego.
Ora, ora, mas cadê os órgãos competentes para impedir a transgressão às normas vigentes, contra a perturbação do sossego?
O diabo é que os próprios políticos são os primeiros a transgredirem a lei, mormente durante as campanhas eleitorais. E eu fico pensando naquela campanha eleitoral na cidade de Frankfurt, onde não se ouvia o mínimo ruído. Nada de carros de propaganda, abalando os alicerces das casas e os ouvidos. Tudo na mais civilizada ordem. Disciplina até nas fotos dos candidatos, todas padronizadas.
Mas, estamos cada vez mais convencidos de que todo esse desprezo à lei é resultante da ausência de educação, pois tivemos o exemplo dos efeitos da campanha de respeito ao pedestre empreendida pela prefeitura da capital. Infelizmente nas escolas e nos lares, não se procura conscientizar os garotos da necessidade de respeitar o silêncio.
As praias do Conde estão livres da poluição das barracas. Agora precisam se livrar do barulho.
outubro 16, 2017
outubro 15, 2017
Q uando eu ouvi, pela primeira vez, a Nona Sinfonia de Beethoven, disse para mim mesmo: isto é Deus falando… E fiquei a imaginar como o admi...
Quando eu ouvi, pela primeira vez, a Nona Sinfonia de Beethoven, disse para mim mesmo: isto é Deus falando… E fiquei a imaginar como o admirável gênio de Bonn, que não tinha mestrado, doutorado, nem pós-doutorado em Música, sofrendo com sua surdez e suas frustrações amorosas, foi capaz de criar uma obra tão divina.
Mas, o que seria de Beethoven sem a música? Esta foi o que o fez se livrar das misérias do mundo. Graças à música, ele pôde transcender, sublimar-se, atingir o êxtase, a comunhão com o divino. Beethoven bem que poderia dizer como Paulo em relação ao Cristo: “Não sou eu quem vivo, é a Música que vive em mim".
Feliz daquele que se eleva e se enleva com a mensagem da boa música. Fico triste em saber que há muita gente que nunca ouviu essa sinfonia sublime, sobretudo o seu magnífico adágio, que faz a gente esquecer as trevas do mundo e se iluminar.
Eu ainda não conheço melhor terapia do que ouvir o adágio da Nona. Difícil, senão impossível, sair dele com os mesmos olhos, com a mesma visão das coisas, com os mesmos sentimentos de ódio, de inveja, de vaidade, de orgulho, de rancor. É difícil ouvi-lo e não sentir uma forte catarse. É impossível não sentir aquele amor que não vê inimigos, aquele amor que faz esquecer as mesquinhezas da vida, aquele amor que não conhece limitações.
Eu nem consigo imaginar que possam existir músicos que, numa orquestra, toquem os seus instrumentos sem se envolver com a música, completamente alheios à sua sublime mensagem, agindo mecanicamente. Não, diante da Nona.
Mas, eu estava assistindo, há pouco, à Nona Sinfonia, quando passou um carro de propaganda com o som naquelas alturas... Era o inferno querendo atrapalhar o céu, as trevas atropelando a luz, a estupidez humana se fazendo presente.
Adágio da Nona! É aconselhável ouvi-lo, mas, quando todos os fazedores de barulho estejam dormindo...
outubro 15, 2017
setembro 03, 2017
À s vezes, eu penso que as cidades sentem saudade da gente. Elas falam como a dizerem: “venham me ver novamente, temos tanta coisa nova para...
Às vezes, eu penso que as cidades sentem saudade da gente. Elas falam como a dizerem: “venham me ver novamente, temos tanta coisa nova para lhes mostrar!”... Agora mesmo, tenho certeza – e me desculpem a pretensão – Paris está me dizendo: “Vem, cronista. Deixa a tua Tambaú e vem ver o nosso Sena, que está uma beleza. Ele não tem ondas, nem espumas, mas como corre! Vale a pena revê-lo serpenteando por entre velhos monumentos. Vale a pena revê-lo fazendo o sinal da cruz, ao passar pela velha Notre Dame, rodeada de turistas com suas máquinas fotográficas e suas curiosidades. Vale a pena contemplar de novo a esguia Torre Eiffel lembrando um enorme sinal de admiração. Vale a pena visitar novamente minhas numerosas livrarias. Em nenhuma cidade do mundo, você vai encontrar tantos livros pelas calçadas. E que tal ver mais uma vez o famoso Louvre, onde a Mona Lisa, com seu sorriso indefinido, adora quando o museu se fecha. Só assim ela pode ficar séria...
Ah, já ia me esquecendo, que tal se sentar naquele banco, ali na pracinha da Sorbonne, onde está o busto de Augusto Comte, e ficar olhando as pessoas, os jovens conversando, os velhos sonhando o seu passado? E quantas livrarias sofisticadas, de Filosofia, de Direito... Não se esqueça desta vez, que não estaremos no inverno, mas pertinho do outono, que tem as suas belezas. E não se esqueça que já disseram que eu, Paris, sou uma festa. Não foi isso que disse aquele romancista chamado Hemingway, o autor de “O Velho e o Mar”?...
E Paris continua: “Venha, cronista, soube que você pretende rever a Islândia, essa grande ilha que quer beijar o círculo polar ártico, onde poderá contemplar novamente a sua exuberante natureza, suas cachoeiras e geleiras, com todo o seu mistério, sua história de vulcões e sua paisagem lunar...
Mas, depois da Islândia, você precisa vir me ver preparando-me para vestir o meu vestido de outono. Estarei linda. E sei – disto tenho certeza – que sou sua predileta. Que me perdoem Lisboa, Madrid, Barcelona, Amsterdam, Roma, Bruxelas, Londres, Queenstown, Sidney. Que me perdoe Viena, onde, decerto, você gostaria de revisitar a casa onde Freud morou. Subir aquela velha escada, onde o genial analista pisou. Que me perdoem todas essas belezas exóticas da Islândia.
Vamos cronista. Pegue logo um avião e venha me rever. Mesmo que seja apenas por alguns dias. Eu adoro quem gosta de mim, assim como você...
setembro 03, 2017
setembro 03, 2017
Y vone Cyrillo Soares deixa este mundo, precocemente, surpreendentemente, e isto muito me entristece. A imagem que tenho dela jamais se apag...
Yvone Cyrillo Soares deixa este mundo, precocemente, surpreendentemente, e isto muito me entristece. A imagem que tenho dela jamais se apagará de minha memória. Uma menina inteligente, sempre alegre, cheia de vida, entusiamo e que muito me encantou quando fui seu professor de Direito, na Universidade Federal da Paraíba.
Lembro-me que estudávamos o Instituto da Falência, uma disciplina muito difícil, mas que Yvone aprendeu com a maior facilidade. Certa vez, ao entrar na sala de aula, fui surpreendido com um estrondo de palmas. Por que isso? Foi Yvone que revelou aos colegas que era o meu aniversário. Olhei para o quadro negro e lá estava escrito em letras bem grandes: “Hoje é o aniversário do nosso querido professor!”
Inteligente, estudiosa, afetuosa, Yvone Cyrillo já havia enfrentado a perda de seu esposo, Fernando, com força e resignação. Era uma jóia de pessoa. Para ser franco, nunca a vi mal humorada. Estava sempre alegre, determinada, entusiasmada, sempre de bem com a vida. A vida que acaba de deixar, a vida, que ela tanto dignificou.
Tinha uma forte capacidade de liderança. Gostava do bom debate e sempre tinha bons e inteligentes argumentos. Bonita, bonita mesmo, Yvone Cyrillo possuía, de sobre, aquilo que se chama charme. E ela nunca soube o que era mau humor. Fazia amigos com facilidade e adorava ajudar os outros.
Eu fui professor de Yvone Cyrillo, mas, na verdade, foi ela quem me ensinou uma lição sobre uma coisa chamada ética. Uma coisa que está cada vez mais difícil de encontrar, nos dias de hoje.
Bonita, sempre irradiando o bom humor, grande senso de responsabilidade, minha amiga, que se foi deste mundo, jamais será esquecida.
Yvone Cyrillo, como eu gostava daquele seu sorriso... E como gostei de ter sido seu professor. Professor e amigo. Amigo para sempre.
setembro 03, 2017
agosto 27, 2017
E stive pensando nas suavidades da vida. São tantas. Basta elevarmos os olhos para observar o suave e distante bailado das nuvens. Como isso...
Estive pensando nas suavidades da vida. São tantas. Basta elevarmos os olhos para observar o suave e distante bailado das nuvens. Como isso nos dá tranquilidade...
Outra suavidade: uma flor caindo no chão... Jesus nos convidou a olhar os lírios do campo. Que bela terapêutica do olhar. Uma folha caindo no chão é de uma suavidade que encanta.
Uma lágrima escorrendo num rosto... Haverá coisa mais suave? E uma nuvem deslizando sob um céu azul, haverá coisa mais bela no mundo?
A contemplação das suavidades da vida nos eleva e nos enleva. Daí recebemos boas vibrações e nos mantemos no caminho do bem, livre das tentações. Jesus nos ensinou a não cair em tentação. Tentação é teste. E são tantas as tentações... Tentação da vaidade, tentação do sexo, do orgulho, do desânimo. Cuidado com as tentações!
Observar é bom. Viver é bom, conviver ainda é melhor. A vida na solidão não tem o menor sentido. Os existencialistas gritaram: os outros são o inferno. Estupidez, ninguém vive sozinho. Viver é conviver.
Mais do que isto: viver é transcender. Precisamos do outro, como precisamos do ar que respiramos. Não podemos viver sem o outro. Jesus aconselhou-nos a amar o próximo como a nós mesmos. Esta é a mais difícil de todas as lições do Mestre. Amar ao próximo como a nós mesmos...
Mas, o que eu mais observo, na maioria das pessoas, é uma espécie de indiferença. Uma total indiferença às belezas, às suavidades da vida. Alguns chegam até a fechar a cara num acentuado mau humor. A presença do outro parece incomodá-los... Talvez até concordem com o pessimista e estressado Sartre, para quem "O inferno são os outros".
Ora, ora, o homem é o seu olhar. Dize-me como olhas e eu te direi quem és. Olhar uma flor num jardim, uma nuvem deslizando no céu azul, uma lágrima escorrendo num rosto. Olhar as suavidades da vida...
agosto 27, 2017
agosto 27, 2017
D ele li dois magníficos romances: “Vingança, não” e “Rio Seco”, cuja temática é o sertão. Confesso que essas leituras me exaltaram. E eu fi...
Dele li dois magníficos romances: “Vingança, não” e “Rio Seco”, cuja temática é o sertão. Confesso que essas leituras me exaltaram. E eu fiquei doido para conhecer o seu autor, que, na época, andava pela Europa.
Falo de Francisco Perreira da Nóbrega, cronista, professor, doutor em Teologia, imortal da nossa Academia, onde ocupava a cadeira nº 33, que já deixou este mundo, e nele um grande vazio. Era membro da nossa Academia de Letras. O patrono de sua cadeira, Castro Pinto, foi um estadista paraibano e grande incentivador das Letras. Foi ele quem convidou o genial Carlos D. Fernandes para dirigir A União. O nosso aeroporto tem o seu nome. Será devido aos vôos da inteligência do homenageado?
Mas voltando a Francisco Pereira Nóbrega, não fui de sua intimidade, mas o admirava muito à distância. Até que, um dia, vim a conhecê-lo, numa livraria daqui. Pequeno de estatura, um pouco reservado, franzino, Chico Pereira, como também era chamado, me impressionou pela sua simplicidade e humildade. Depois, ele achou de ministrar um curso em nossa universidade sobre Teilhard de Chardin. Assisti às suas aulas com muito enlevo. Agora era o filósofo que também passava a admirar, o homem de pensamento, senhor de uma forte personalidade.
Daí por diante me desencontrei de Francisco Pereira da Nóbrega para depois voltar a encontrá-lo em suas crônicas diárias, no jornal “Correio da Paraíba”, numa coluna que deixou saudades a muitos leitores.
Chico Pereira não era muito de conversar. E quando conversava, era em tom menor. Jamais seria um político, de viver sorrindo e abraçando todo mundo. O homem era muito contido. Vivia se escondendo dentro de si mesmo, o que não é de estranhar num homem de pensamento. Quem fala muito, pensa pouco.
Católico convicto, mas muito independente em suas atitudes e idéias, o nosso Francisco Pereira da Nóbrega tinha como grande amigo o professor e escritor espírita Waldo Lima do Vale, autor do livro best-seller “Morrer... e depois?” O espiritismo de Waldo não afastou o católico de sua amizade. Ambos se entendiam e se respeitavam.
Na Academia de Letras, Francisco da Nóbrega nunca quis ocupar cargos. Mas sempre cumpriu os seus deveres de imortal.
Outro dia, estive visitando a Livraria do Luiz, que é um modelo de livraria, e com muita alegria revi uma edição do seu romance “Vingança, não”. E me veio um grande desejo de relê-lo. Agora não mais como um jovem verde, mas como um jovem maduro e mais experiente. E é o que vou fazer nestes dias. Reler este romance que deveria ser traduzido para vários idiomas e ganhado o mundo. Este e “Rio Seco” são leituras que exaltam.
agosto 27, 2017
agosto 20, 2017
Agosto está partindo. Dizem que é mês de muito vento. Gosto muito do vento. O vento que acaricia a minha careca. E ele, às vezes, é tão ...

Agosto está partindo. Dizem que é mês de muito vento. Gosto muito do vento. O vento que acaricia a minha careca. E ele, às vezes, é tão forte que chega a querer jogar fora o meu chapéu….
Sem o vento a vida seria uma tediosa calmaria. Sem ele, como é que Cabral descobriria o nosso país? O vento alegra, limpa, acaricia, enxuga, colabora na germinação das plantas agita o fogo. Outrora, ele era muito indiscreto e inconveniente, quando levantava as saias matando de susto as mulheres. Acontece que hoje, com as calças jeans, não há vento, mesmo em forma de brisa, que se torne inconveniente...
Mas o vento é também uma metáfora. Simboliza o entusiasmo. Com ele as árvores acenam alegres, o mar se enche de ondas, as nuvens são forçadas a descobrir o céu azul, as folhas velhas vão caindo numa triste despedida.
Ah, que tristeza quando o vento tarda ou falta! O homem, então,é forçado a construir cata-ventos, que não resolvem o problema. Outrora, graças ao artesanal abano, fazia-se vento para esquentar a nossa comida.
Ontem, o vento estava brabo. Se não me engano, ele queria anunciar alguma coisa. Ah, já sei. Ele queria dizer que setembro estava próximo a chegar. E eu adoro esse mês, pois foi nele que se realizou meu primeiro casamento e que viu minha segunda esposa, Alaurinda, abrir os olhos para o mundo. Setembro é para mim o mais simpático dos meses. E é em setembro que também se comemora a nossa independência.
E vamos às metáforas. O vento é a alma da natureza. Sem ele, tudo se imobiliza. Ele é que dá vida à vida. E tem muito de humano. Ora é suave como uma brisa, ora é violento como um furacão. Ora apaga o fogo, ora o agita. É inimigo da rotina, adora tirar as coisas do lugar. E como é belo contemplar a dança das árvores, das flores e das nuvens, graças a ele, que, como o tempo, está sempre renovando e transformando as coisas.
agosto 20, 2017
agosto 20, 2017
A palavra falada é uma dádiva, uma benção, uma beleza. Ah, os grandes discursos de antigamente! Como eles movimentavam e magnetizavam multi...
A palavra falada é uma dádiva, uma benção, uma beleza. Ah, os grandes discursos de antigamente! Como eles movimentavam e magnetizavam multidões! Digo de antigamente porque hoje a preocupação é mais com a verba do que com o verbo...
Sem me referir aos grandes oradores do passado, gostaria de evocar os daqui da Paraíba. Disse meu pai que o orador paraibano, que mais o impressionou, foi o presidente João Castro Pinto. Informou meu velho que ouviu Castro Pinto no Teatro Santa Rosa, num discurso eletrizante, que o deixou sem dormir.
Dizem que o presidente Epitácio foi outro excelente orador. No seu busto, situado na entrada da avenida que tem o seu nome, vemo-lo, numa tribuna, de dedo em riste apontando para alguma coisa. E esta coisa era justamente o nosso sertão, dominado pela seca e pela fome. Da tribuna do Senado ele chamava a atenção para aquela grande realidade. Era o orador colocando o seu verbo a serviço do nosso esquecido Nordeste.
Mas será que houve orador, pelo menos aqui na Paraíba, maior do que Alcides Carneiro? Ele foi tão grande que o próprio Carlos Lacerda, um artista do verbo, o qualificou como “O Orador do Brasil”. Comício sem a presença do tribuno de Princesa Isabel não era comício. Eu não perdi um. E me lembro quando, certa vez, no adro da Catedral, mal começou seu discurso, desabou uma grande chuva. As palmas estrugiram. Ele, todo molhado, elevou as mãos para o céu e bradou: "Palmas, benção dos homens, chuva, benção de Deus!” Aí foi que bateram palmas. E prosseguiu o discurso dizendo que porta de igreja é para mendigo. E ele estava, ali, mendigando votos aos paraibanos.
Imaginação fértil, Alcides, quando ia fazer um discurso, não ia para a biblioteca, estudar e sim para uma rede se balançar. E ali ficava botando a sua fértil imaginação para funcionar, preparando a sua oração.
Outro orador que movimentou multidões foi José Américo de Almeida. Seus discursos abalaram o país. As frases geniais ficavam ressoando aos nossos ouvidos. Eram verdadeiros “discursos-denúncias”.
Aquele em que ele dizia: “eu sei onde está o dinheiro!”, se aplica até hoje. Agora, com a Lavajato, é que todos sabem... E aquele outro: "Não há maior tragédia do que morrer de fome na Terra de Canaã!", referindo-se ao Brasil... E por fim: "Ninguém se perde na volta”...
Na verdade, aqui pra nós, eu acho que os que não sabem falar é que estão inventando que a oratória está fora de moda...
agosto 20, 2017
agosto 14, 2017
Q ual a profissão que você escolheria hoje? Eu optaria pela aviação. Lindo aquele uniforme azul do comandante, a caminho da aeronave, levand...
Qual a profissão que você escolheria hoje? Eu optaria pela aviação. Lindo aquele uniforme azul do comandante, a caminho da aeronave, levando sempre um sorriso que imprime confiança aos passageiros. E mais belo ainda quando ele, à entrada da aeronave, dá votos de boas vindas aos que vão entrando no monstro de aço, que faz muita gente temer e tremer.
Depois vem o silêncio, aquele momento meio dramático da decolagem. O avião vai subindo, subindo, até entrar na horizontal, atropelando nuvens e enfrentando o vento. Como deve ser boa a sensação do comandante!
Sim, agora, todos estão dependendo de suas mãos, de seu olhar, de sua competência. Quantas milhas a vencer? Quanta atenção exigida!...
Ninguém sabe o nome do comandante, quais os seus problemas... Quais serão os seus pensamentos quando está entre a terra o céu? Suas saudades, seus amores, suas reflexões? Que sensação o domina naquele momento? Ninguém sabe. Todos no avião só estão ocupados e preocupados com os seus problemas. Ninguém pensa no que dirige a aeronave e tem o destino dos passageiros em suas mãos.
Outra profissão que eu escolheria sem pestanejar, é a de maestro. Maestro de uma orquestra sinfônica. Maestro que, a exemplo do comandante, também é um deus. Que sensação divina a de reger uma orquestra! Todos os músicos atentos aos seus gestos, às suas mãos, que lembram borboletas levitando sobre flores num jardim...
Duvido que um maestro entre em depressão, que esteja de mau humor, quando suas mãos começam a despertar os instrumentos para a música, com sua varinha mágica.
Comandante, maestro, muito melhor do que ter sido... Não, não vou comentar profissões prosaicas, rotineiras e tristes... Só sei que a coisa mais importante da vida é a fazer o que gosta, ter prazer na profissão. Não há maior violação a si mesmo do que procurar um meio de vida que não sintonize com o seu temperamento.
agosto 14, 2017
agosto 14, 2017
A ndei assistindo, um dia desses, à Sinfonia em dó menor, a mais popular das sinfonias de Beethoven, conhecida como a Sinfonia do Destino ou...
Andei assistindo, um dia desses, à Sinfonia em dó menor, a mais popular das sinfonias de Beethoven, conhecida como a Sinfonia do Destino ou a Quinta Sinfonia. Dir-se-ia que essa partitura é uma espécie de biografia do mestre de Bonn, onde ele trava uma luta contra o Destino. Uma luta cruel que termina com a vitória do homem Beethoven, o grande surdo, cuja existência foi um exemplo de coragem e fé.
Ele nunca cruzou os braços diante dos desafios existenciais. Lutou até o fim, sem jamais perder a dignidade que o caracterizava. Disse um escritor que Bach era sereno e Beethoven sério. Disse o grande místico Amiel que Bach era Deus e Beethoven, homem. E a Sinfonia do Destino nada mais é do que a luta do homem diante das intempéries, dos sofrimentos e da dor.
Começa essa partitura com aquelas quatro notas, representando as pancadas do Destino, com o qual o genial compositor trava uma terrível luta, mas que, finalmente, sai vitorioso.
O Beethoven-homem, entretanto, não se afastou do Beethoven-místico, o Beethoven que procurava sintonizar-se com a Divindade, seja na Pastoral, essa idílica sinfonia em que o compositor procurou exaltar o Deus Natureza, a que se refere o filósofo Spinoza, seja quando entoou aquele grito de alegria na Nona Sinfonia, saindo da horizontalidade humana para a verticalidade divina, da terra para o céu, da imanência para a transcendência. A verdade é que a vida de Beethoven transitou entre esses dois pólos: o humano e o divino.
Na Natureza, ele procurava o silêncio de um templo religioso, no tempo em que o templo era um oásis de silêncio. Ali ele esquecia os seus dissabores, as suas dores. Em contato com as árvores, ele encontrava a paz que não encontra entre os homens.
Voltando à quinta Sinfonia, vale a pena ouvi-la, seja no andante heróico, seja no movimento final, verdadeiro grito triunfal de um homem que teve tudo para se suicidar, tudo para desertar da vida, mas que, com admirável heroísmo conseguiu triunfar sobre as limitações que o Destino lhe impôs.
A Sinfonia em Dó menor é a homenagem ao homem, a Sinfonia Pastoral é a homenagem à Natureza e a Nona Sinfonia é a sintonia com a consciência cósmica. É o homem mergulhando no Divino.
Beethoven ainda é a grande referência. Referência que merece toda a nossa reverência. Sua música não é apenas para ser escutada. Mais do que isso. A música do genial compositor nos induz a muitas reflexões. Reflexões sobre a nossa vida, sobre o nosso destino.
agosto 14, 2017
julho 31, 2017
C onfesso que gosto de metrô. Transporte limpo, seguro. Pena que seja tão rápido. Rápido como uma bala. Pena que não tenha paisagem. O metrô...
Confesso que gosto de metrô. Transporte limpo, seguro. Pena que seja tão rápido. Rápido como uma bala. Pena que não tenha paisagem. O metrô é um símbolo do homem moderno. Sem tempo, apressado, sem calor humano. Tudo nele é maquinal. Não há a presença humana. Cadê o rapaz ou a moça para a gente entregar o bilhete? Não existe. Na estação pega-se o bilhete e pronto. É verdade que quem dirige o metrô é uma pessoa. Vi, certa vez, uma moça guiando aquele troço. Séria como uma estátua. E em Londres, andei de metrô sem gente dirigindo. O bicho corria sozinho. E sabe que eu tive medo? ...
Diz o ditado que o trem não espera por ninguém. Este ditado se aplica ao metrô. Nunca vi tanta pressa para sair e para chegar. Muito menos de um minuto e ele já está fechando a porta. Se você não tiver cuidado... E o meu medo sempre é de ficar no vagão e me desencontrar dos meus queridos familiares...
Mas que a viagem é excelente, não tenha dúvida. Nenhuma trepidação. E é ótimo para a gente ler. E é o que vemos nesse transporte, muita gente com um livro na mão. O resto das pessoas de cara meio amarrada. Ninguém olha para ninguém e eu doido para ver um sorriso brasileiro...
O metrô é um transporte-símbolo do homem contemporâneo, apressado, estressado, robotizado, eficiente, mas sem calor humano. As pessoas quase não se olham. E se olham, tiram logo a vista.
O metrô não nos mostra a paisagem, vai por debaixo da terra. Você só vê parede. E, como exceção, agora estou me lembrando de um metrô de Lisboa, onde se liam pensamentos de Sócrates... Na estação do museu do Louvre, lá em Paris, veem-se belas réplicas e artísticos cartazes nas paredes.
O que me aborrece no metrô é a sua extrema rapidez. Que diferença de um navio, onde não falta o calor da presença humana. Mal chega numa estação, já está chiando para sair. Nada de conversa, nada de perder tempo. E a porta se fecha com uma rapidez enorme. O homem contemporâneo também é assim. Não para mais a olhar e refletir. Nada de se abrir num sorriso. Fecha-se logo. É o homem-metrô!
Cumprimentar, indagar como você vai, parar um pouquinho? Nada disso. No entanto, esquece o “homem-metrô”, sempre apressado, sempre estressado, que, quando ele fechar os olhos para este mundo, o carro mortuário, que o levará ao cemitério, é devagar e silencioso. Vai, muito lentamente, em direção à pousada onde ficarão os ossos do viajante.
julho 31, 2017