agosto 24, 2019
Há quarenta anos, quando Nathanael Aves abriu as portas de sua biblioteca ao meu acolhimento, ali conheci Gonzaga Rodrigues. Este mesmo Go...

Há quarenta anos, quando Nathanael Aves abriu as portas de sua biblioteca ao meu acolhimento, ali conheci Gonzaga Rodrigues. Este mesmo Gonzaga que não me deixou órfão quando Nathanael teve a porteira de sua vida fechada.
As quatro décadas têm sido um período de aprendizado e confidências, pessoais e literárias. Desde a aproximação aos livros, na alvorada da vida, somente escutando e aprendendo, recolhi o que o espírito permitia como iluminativo e trato afetuoso.
O lançamento do livro “Notas do meu lugar”, em 1978, foi canto mavioso que ele entoou por mim, filho do mesmo barro e habitante das paisagens onde o orvalho da aurora com dourados raios nos asperge todos os dias do ano.
Igual contentamento foi quando publicou em 2003 o “Café Alvear”, agora relançado em segunda edição, prêmio e consolo aos leitores que ainda não desfrutaram do passeio exótico pela cidade que proporciona, desde o tempo quando ainda o melão de são caetano que infestava os quintais, com a paisagem bucólica onde repousavam os olhares de antigos índios e senhores das terras.
Desde sua estreia como cronista, em maio de 1954, se constituiu no maior representante deste gênero literário na Paraíba, sendo apenas daqui porque não quis ser do Brasil.
Suas crônicas atiçam o prazer da leitura, seja na pressa do jornal ou em livro, como estas de agora, também nos comovem.
Nestes anos de leitura e aprendizado, percebi que os caminhos da crônica são muitos, que às vezes nem sabemos para onde nos levam.
A crônica brota instantânea dentro de nós. Jorra de qualquer coisa em nosso redor. Pode surgir de uma palavra que se escutou ou de algo que germina silenciosamente enquanto nos deixamos flutuar o pensamento.
Muitas vezes pode sair de uma leitura, algo observado na rua, uma flor que desabrocha no jardim de casa. A cidade e a terra sendo seu espaço simbólico para os sonhos.
A professora Ângela Bezerra de Castro, cuja amizade eu ganhei como prêmio, entende que a crônica é uma forma sublime de literatura, que poucos conseguem atingir o grau maior. “A crônica é a poesia em prosa”, disse-nos, ao que aplicamos a Gonzaga.
Gonzaga segue o rastro de Rubens Braga quando capta a sutilidade das coisas em seu derredor, nos gestos das pessoas, tudo escrito num texto primoroso que dá um enorme prazer sua leitura.
Escrever crônica é como perfurar um poço numa terra árida com água salgado. Vai se cavando até se tornar num oásis.
O artista da palavra deve expressar o sentimento da humanidade, emprestar seu conhecer para mostrar o que não conseguimos com a escrita ou com o pincel.
A expressão maior deste cronista que tomou conta da cidade vem de Machado de Assis, talvez o modelo de cronista, a quem devota admiração. Acho que Gonzaga vai mais além porque tem o olhar para o social, exprimindo com fervor posições em favor do homem e da vida, ao contrário de Machado. Posições mantidas desde os tempos quando se entendeu como gente. No “Café Alvear” este olhar está apregoado, num olhar conciso que lembra Flaubert e Graciliano Ramos, que perdiam uma noite de sono a cata de uma palavra que justificasse o pensamento.
agosto 24, 2019
agosto 24, 2019
(Milton Marques Júnior) Sempre abro os meus cursos na Pós-Graduação em Letras, para ouvintes. Dentre aqueles que os acompanham, encontra-se ...

(Milton Marques Júnior)
Sempre abro os meus cursos na Pós-Graduação em Letras, para ouvintes. Dentre aqueles que os acompanham, encontra-se o juiz Hermance Pereira, de quem recebi o livro Magistrados & Arte Musical, organização de Sandra Moura (Ideia, 2019). Em primeiro lugar direi que é uma satisfação ter Hermance como ouvinte. Ele já havia seguido o curso sobre a Ilíada e, agora, faz o da Odisseia.
Em segundo lugar fico grato de ter recebido o livro, pela oportunidade de saber que há um grupo considerável de magistrados, aqui na Paraíba, que se dedicam à música. Não que o fato em si me admire, mas é que todos sabemos a carga de trabalho que envolve os juízes, numa faina parecida com a de Sísifo, sempre recomeçando o rolar da pedra em direção ao cume da montanha. Esta metáfora se aplica, quando sabemos que julgar processos e prolatar sentenças é tarefa longe de acabar. Mas entre uma pedra e outra, a reflexão sempre ajuda a empurrá-la para mais longe...
Mais do que surpreso, afirmo que fiquei entusiasmado, sobretudo com o projeto de Hermance Pereira, para além de sua paixão pessoal, de inclusão de apenados do sistema judicial, procurando mudar vidas pela música.
Como paixão pessoal, podemos sentir na leitura do livro como este juiz respira música. Multi-instrumentista, Hermance Pereira vai das cordas ao sopro, com o sax sendo uma extensão de seu perfil, passando pelo teclado e pela percussão. Com a música entranhada, Hermance só alimenta cada vez mais a sua necessidade de conhecimento.
Chamou-me, particularmente a atenção a maneira como são feitos os relatos referentes a cada juiz – dezessete ao todo. Nada de apresentação burocrática ou de entrevistas com perguntas feitas a priori e respondidas pelo entrevistado. Trata-se de narrativa viva, em muitos momentos com estilo literário; crônica, cuja leitura torna-se saborosa ao leitor, ofertando-lhe uma espécie de biografia pela música, sem esquecer por trás do amante da arte de Apolo, o juiz. Li toda a parte de Hermance, cujo perfil é muito bem traçado por Marcella Machado, folheei as demais, mas a constatação é a mesma.
A maior surpresa para mim, foi encontrar no livro o juiz Marcos William, companheiro de aulas no antigo Colégio 2001, e ex-alunos meus como os juízes Onaldo Queiroga e Gustavo Urquiza. Quanto a Hermance, não tive a satisfação de tê-lo como aluno, mas tenho-o como um ouvinte para lá de qualificado, o que é, a um só tempo, um prazer e um desafio.
Grato pelo presente, ouso parafrasear a música famosa da Jovem Guarda, enviando ao meu querido Hermance Pereira a seguinte mensagem: – Senhor Juiz, não pare agora!
agosto 24, 2019
agosto 21, 2019
(Chico Viana) Esse é o título do livro em que James Geary (foto), editor na Europa da revista Time, faz um estudo sobre os aforismos ao long...

(Chico Viana)
Esse é o título do livro em que James Geary (foto), editor na Europa da revista Time, faz um estudo sobre os aforismos ao longo do tempo. Ele mostra a evolução desse gênero desde quando era praticado por sábios e profetas até os dias de hoje.
Seu interesse é estabelecer a trilha de uma jornada do espírito em que se revela algo de comum a todos os homens. Segundo ele, “os aforismos nos reafirmam que alguém passou por ali antes”. Como animais filosóficos que somos, de um modo ou de outro sempre participamos dessa viagem – alguns com refinamento, lendo os grandes autores; outros com o que é possível aproveitar na literatura miúda que atualmente recheia as estantes das livrarias.
Aforismos, como lembra Geary, não se confundem com provérbios. Enquanto estes são genéricos, “batidos”, os aforismos preservam a nota pessoal. Neles se deposita não apenas um saber, mas também um estilo, que traz as marcas de um temperamento e de um caráter. Para mostrar isso, o autor acrescenta à abordagem sobre cada autor um breve comentário biográfico. E procura mostrar o quanto as características físicas, a condição social, o sucesso ou sobretudo o fracasso na vida determinam a visão de cada um.
O livro é erudito e ao mesmo tempo leve, graças ao bom humor com que os tópicos são apresentados. A leveza também se deve ao que há nele de autobiográfico, pois de tão “viciado” em aforismos o autor começou, ainda jovem, a produzir os seus. Foi em encontros improvisados na universidade, quando então escrevia frases do tipo: “Não confie em um animal – não importa quantas pernas ele tenha.” Ou: “Há certos erros que apreciamos tanto que estamos sempre desejando repeti-los.” Graças a uma dessas frases ele conheceu aquela que seria sua esposa.
Em alguns aforistas o forte é o estilo; noutros o que conta é mesmo a engenhosidade dos conceitos. O exagero de uma ou outra tendência, como observa o autor, pode ter efeitos negativos. Joubert, por exemplo, se esmera em “produzir, da grande de verbosidade no mundo, algumas sentenças simples e cintilantes” e talvez por isso nunca tenha publicado um livro; obcecado pela forma ideal, jamais se dava por satisfeito. Já Nietzsche “pula de pensamento em pensamento, mas cai e pega fogo sempre que chega ao outro lado”.
Apreciações breves e certeiras como essas não nos deixam largar o livro. Nele aprendemos muito sobre esse gênero de “todas as épocas” e sobre alguns dos autores que nas mais variadas circunstâncias o cultivaram. Se o homem se define pelo saber que produz ao longo do tempo, os aforismos são trilhas privilegiadas para entender esse percurso. São instrumentos pelos quais o ser humano procura, com o farol da razão, desfazer as brumas da ilusão e da ignorância.
agosto 21, 2019
agosto 19, 2019
(Renata Simões) Ele se definia como um missionário, defensor da educação e da cultura. Mas esse paraibano de Itaporanga, nascido em 13 de ag...

(Renata Simões)
Ele se definia como um missionário, defensor da educação e da cultura. Mas esse paraibano de Itaporanga, nascido em 13 de agosto de 1962 e que se tornou o primeiro Doutor em trombone do Brasil, ia muito mais além: defendia a construção do ser humano, a capacidade de superação que cada um de nós pode ter; exemplificava a disciplina, o respeito por sua profissão, a responsabilidade de tornar importante cada música que tocava, fosse nos grandes palcos internacionais ou na simplicidade das festividades pelo nosso sertão afora.
Radegundis Feitosa era assim: um virtuose na arte e na vida, um artista cuja precisão técnica se unia à ternura da sonoridade e à extrema sensibilidade do fraseado musical; um homem trabalhador, de alegria e energia contagiantes, cuja generosidade revelava um olhar profundo sobre as dificuldades da vida; um professor cuja dedicação ultrapassava a sala de aula, defendendo que sua vitória era fruto de esforço e disciplina e que, portanto, qualquer pessoa poderia alcançar os mesmos patamares atingidos por ele.
Tendo iniciado sua vida musical em uma banda de música em sua cidade natal, Radegundis rodou o mundo, mas escolheu a Paraíba para viver e fazer sua música. Aqui, defendeu e divulgou a música brasileira, lutou pelo ensino de música nas escolas de formação básica e pelo desenvolvimento da própria universidade, defendendo a ampliação do universo acadêmico com a criação de novos cursos de graduação em música e também de pós-graduação.
O doutorado em Washington não lhe tirou a simplicidade, o reconhecimento mundial não lhe tirou o amor pela sua pátria e por sua origem, e ele nos deixou seu exemplo de grande alegria na possibilidade diária de realização e crescimento. O som de seu trombone e de sua risada ecoarão para sempre na mente daqueles que o conheceram.
(excerto do projeto "Memórias Concertantes", acervo do Mestrado em Música da violinista paraibana Renata Simões, ora em curso: https://www.facebook.com/memoriasconcertantes/)
agosto 19, 2019
agosto 18, 2019
O centenário é da morte de Augusto dos Anjos, mas o tema é a vida. O tema é "o Futuro em diferentes / florestas, vales, selvas, glebas,...

O centenário é da morte de Augusto dos Anjos, mas o tema é a vida. O tema é "o Futuro em diferentes / florestas, vales, selvas, glebas, trilhos, / Na multiplicidade" da poesia, semente da árvore arrancada, antes que sua primeira safra pudesse ser colhida. Poesia-semente em que se cumpre a antevisão do eu, na certeza com que se irmana ao Tamarindo: "Depois da morte, inda teremos filhos!".
Fugindo à tradição editorial, que se fixou no Eu e outras poesias, a Biblioteca Mário de Andrade e a Edições Narval preferiram o Eu original, seleção e edição do autor, lançado no Rio de Janeiro em 1912. Essa escolha confere um significado bem particular à publicação e à homenagem que representa. Fixando-se na primeira e única edição contemporânea do poeta, traz Augusto por ele mesmo. Redivivo.
Numa apropriação e livre tradução dos versos de Walt Whitman, pode-se repetir que "este não é apenas um livro. Quem toca nele, toca no homem". Pois a configuração do Eu condensa o sentido maior da existência de Augusto, sendo de toda propriedade afirmar que o poeta se impôs o sacrifício extremo para salvar do estreito horizonte provinciano sua criação original e antecipadora de concepções modernas. Tinha a exata consciência de que, sem chegar ao eixo onde se concentrava o prestígio da visibilidade cultural do país, seus poemas dificilmente conquistariam a repercussão a que estavam predestinados.
Sem condições financeiras favoráveis, sem renda certa que lhe garantisse a subsistência, lançou-se ao desconhecido para uma luta obstinada. Deixou a Paraíba e foi morar no Rio de Janeiro, determinado a sobreviver com a precária remuneração obtida pelas aulas particulares que ministrava. Em "Notas biográficas" para a trigésima edição do Eu, Francisco de Assis Barbosa registra que o poeta "residiu em dez casas de diferentes bairros, quase sempre em quartos de pensão", durante os anos de permanência no Rio, entre outubro de 1910 e julho de 1914.
O escritor José Oiticica, vindo de Minas, compartilhou com Augusto dos Anjos essa fase que classificou de "horrível", de "penúria". E revela: "o que mais o amargurava era a injustiça social em premiar os ruins, dourar as falcatruas, entronar os endinheirados, iludir os honestos, os sonhadores, os retos de entendimento e de coração. Essa revolta íntima o levava a descrer do mundo, a ver em tudo podridão física e moral".
Parece natural a presunção de que o organismo frágil se debilitou nesse processo de desgaste físico e emocional. De tal forma que Augusto, já instalado em Leopoldina como diretor do grupo escolar Ribeiro Junqueira, não resistiu a uma pneumonia, deixando a vida com apenas trinta anos, em 12 de novembro de 1914.
Nunca mais voltou à Paraíba. Nem mesmo os seus restos mortais. E um documento firmado em cartório pelos filhos Guilherme e Glória "Proíbe que isso possa acontecer". Os filhos ratificam a decisão altiva do poeta ante a mediocridade burocrática que negou ao erudito professor Augusto dos Anjos, uma licença para viajar ao Rio, onde trataria da publicação do Eu.
A morte do poeta paraibano teve pouca repercussão na imprensa. Destaque para o artigo de José Américo de Almeida, no trigésimo dia, e para o ensaio de Antônio Torres, no qual se insere o tocante perfil que define Augusto como um idealista "na mais nobre, na mais vibrante e, digamos, na mais dramática acepção do vocábulo".
A crítica, desorientada pelo choque, pelo desconhecido que a poesia do Eu representava, oscilou inicialmente entre a aceitação e a recusa dos recursos de expressão que caracterizavam a criação lírica sem precedentes. De modo que o livro pelo qual o poeta sacrificou a própria vida permaneceu algum tempo numa espécie de limbo, incompreendido.
Nem os modernistas ensimesmados alcançaram a poesia predeterminada "Para cantar de preferência o horrível". Do observatório em que estavam situados, não perceberam que, em 1912, comparada a "um paralelepípedo quebrado":
a lua de augusto
é uma lua nova
uma lua cheia
de modernidade
a lua de augusto
é uma pedrada
em olavo brás martins dos guimarães bilac
Em 1920, o jornalista paraibano Órris Soares, contemporâneo e amigo de Augusto, toma a iniciativa de organizar e prefaciar a segunda edição do Eu. Acrescentou novos poemas, selecionados, sobretudo, entre os escritos após a primeira edição, e colocou o subtítulo (poesias completas). Sem dúvida, o mais marcante de Órris Soares em relação à poesia de Augusto foi o gesto. A iniciativa do publicá-la, quando o poeta já não existia e parecia tão esquecido quanto seu livro único. Implícita, nesse gesto, a capacidade de compreender, antecipadamente, que, sem se filiar a nenhuma escola, o Eu, em "seu individualíssimo sentir", representava a "riqueza e glória das letras brasileiras". É o que se lê no prefácio histórico, entre outras assertivas acolhidas pela crítica contemporânea.
A ética da "obrigação intelectual da verdade" motivou essa publição póstuma, "como uma sagrada dívida" que Órris se impôs. Ele era motivado por valores dessa ordem, segundo o testemunho de Carlos Drummond de Andrade que considerava o amigo Órris um dos homens mais livres, mais conscientes e mais fiéis à inteligência. Numa perspectiva semelhante, o grande Houaiss também reconheceu a suma importância da segunda edição feita por amor e devoção, como um instante decisivo na história do Eu.
Essa publicação paraibana despertou o interesse da Livraria Castilho, responsável pela terceira edição, em 1928, com o titulo Eu e outras poesias, que se tornou definitivo. Foi tal o fenômeno da recepção que os jornais da época chegaram a registrar três mil volumes escoados cm quinze dias e 5.500 vendidos em menos de dois meses. A partir de então o sucesso de público não abandonaria jamais a poesia de Augusto dos Anjos. Equiparando-se o poeta aos mais populares do Brasil, recitado de cor pelos admiradores dos mais diferentes níveis culturais. Assim, as edições se sucederam através de selos consagrados: Livraria Castilho, Bedeschi, Livraria São José, Companhia Editora Nacional, José Olympio, Ática, Paz e Terra, Civilização Brasileira, Nova Aguilar, Bertrand Brasil, Martins Fontes, etc.
O grande número de publicações e a pluralidade de editoras que as representam corresponderam no crescente interesse do público pela poesia de Augusto dos Anjos. Mas esse fenômeno, que tem na recepção um dado positivo, também deu margem a que muitas gralhas ou alterações gráficas passassem a interferir nos originais do poeta. Somente a partir da 29ª edição, comemorativa do cinquentenário de lançamento, o texto do Eu começa a receber a atenção especializada. O filósofo Antonio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa foram os pioneiros que se dedicaram à correção dos erros acumulados em meio século de publicações. No entanto, foi a trigésima edição, com a nota editorial de Houaiss, que atingiu a confiabilidade reclamada para o texto poético de Augusto dos Anjos.
Em 1977, Zeni Campos Reis acrescenta, com absoluta segurança, novo cuidado ao estabelecimento do texto. Publica Augusto dos Anjos: poesia e prosa, ampliando, com sua pesquisa exaustiva e competente, informações sobre a obra do poeta do Eu, tornando-se fonte de consulta indispensável para os estudiosos.
Enfim, em 1994, com a publicação da Obra completa de Augusto dos Anjos, pela Nova Aguilar, temos a mais ampliada edição, depurada dos antigos e persistentes erros. Organização, fixação do texto e notas, sob o critério de Alexei Bueno, impõem às próximas iniciativas uma responsabilidade maior em relação à fidedignidade do texto de Augusto e à coerência das leituras críticas.
Diante do Eu ,a morte se desfigura, perde sua força dominante. Resume-se a um episódio, um traço biográfico, uma data. Nada mais. E já não sabemos dizer se é homem ou mito este singularíssimo poeta que, tendo testemunhado menos de duas décadas do século XX, foi por ele consagrado como criador de uma linguagem, de um ritmo, de uma concepção poética que surpreendeu a Literatura Brasileira e a ela se acrescentou como renovação e sinalização de outras formas de sentir, compreender e dizer.
Se, do ponto de vista do processo mimético, é verdade, como entende Eduardo Portella, que o poeta "só é poeta quando converte imaginariamente o horizonte, quanto morre na vida da obra'', também não é menos verdadeiro que, do ponto de vista da continuidade histórica, o poeta se perpetua na obra, como o criador na criatura, como o homem particular no universal. O poeta continua na obra, não no equivocado entendimento de que esta seja a sua biografia em versos, ou a mera confissão de particularidades sentimentais. Continua porque na obra está a sua compreensão do mundo, a sua forma escolhida de participação no projeto humano, a complexidade do seu tempo transubstanciada na linguagem que corporifica o gesto inaugural da expressão lírica.
A presente edição ergue um monumento ao poeta, tornando acessível o livro de Augusto no formato que se fez uma preciosidade bibliográfica. Um monumento vivo, o Eu, na plenitude do reconhecimento. Constituindo um fenômeno editorial sem termos de comparação. Mantendo uma popularidade que levou o autor a ser eleito o paraibano do século XX, por uma diversidade de admiradores que é "transcendentalíssimo mistério". Acumulando em sua trajetória uma elevada compreensão crítica que destaca a obra de Augusto dos Anjos "como a mais patética indagação já feita, na poesia brasileira, acerca da existência do mundo e do sentido da vida humana". Com a ressalva de que "jamais, antes dele, essa indagação se fizera em tal nível de urgência existencial e de expressão estética''. É a conclusão do poeta Ferreira Gullar, em sua leitura plena de descobertas e elucidações.
"Salvo pelo povo" e consagrado pela crítica, há muito o lugar do poeta do Eu está definido com propriedade no quadro da Literatura Brasileira. O mestre Eduardo Portella explicita que:
"[Augusto] se localiza numa peculiar encruzilhada do pós e do pré, entre elaborações retardatariamente românticas, parnasianas, simbolistas, a essa altura debilitadas, e esboços ou manifestações discursivos, prenúncios do modernismo. O Eu se projeta como avatar de radicalização da modernidade. Ele desidealizou o conceito do gosto para dessacralizar a linguagem e, com isto, verbalizar despreconceituosamente a experiência humana. A precoce, e não raro prematura, desestetização corresponde ao programa de descarte do sublime".
O ensaio do professor João Adolfo Hansen, escrito especialmente para esta edição do Eu, integra-se à tradição da crítica que ilumina o texto do poeta. Retoma importantes aspectos sobre os quais fixa precisos fundamentos. Chega a elencar as múltiplos razões dos estudiosos que o antecederam e reconheceram a poesia ou "a boa poesia", no realismo mágico da linguagem criada por Augusto.
Um estudo erudito e atual que valoriza de modo superlativo da homenagem ao poeta do Eu. A Leitura do "Monólogo de uma sombra", como "a profissão de fé poético-científica do autor", é original e prepara o leitor para absorver a tradução da teoria do conhecimento implícita na obra de Augusto dos Anjos, integrada poeticamente pela representação metafórica.
A marca de conciliar o gosto popular e o erudito não se apagará da poesia de Augusto. Ela continuará encantando o povo e desafiando os críticos. O poeta já é febre entre os internautas, com milhares de vídeos e páginas de acesso. Enquanto a crítica universitária, à luz de diversos postulados teóricos, projeta cada vez mais a sombra incandescente do Eu. Vale registrar a tese O evangelho da podridão, em que o professor Chico Viana analisa a tematização da culpa como elemento estruturante da poesia de Augusto. E mais uma hipótese se acrescenta como justificativa para a popularidade do Eu. Além do estranhamento e da estrepitosa musicalidade da linguagem, a possibilidade da catarse para a civilização da culpa.
A construção fantástica de palavras misteriosas, estranhas ou íntimas demais, que transita sem limite entre a realidade, a fantasia, o sonho, a loucura e os tempos imemoriais, expandindo-se em ásperos sons, agônicos e dissonantes fascina e haverá de atrair sempre um público de características culturais extremamente diversificadas.
É o homem universal vencendo o homem particular, cumprindo-se o credo existencial do poeta.(O Blog Carlos Cronista tem a honra de publicar o texto, inédito na Paraíba: "Augusto para todos os séculos", que prefaciou a homenagem da Biblioteca Mário de Andrade (foto da ilustração) no Centenário da morte do poeta Augusto dos Anjos, de autoria da Professora Ângela Bezerra de Castro)
agosto 18, 2019
agosto 17, 2019
(Milton Marques) Ao pegar uma cueca com a braguilha costurada, me pergunto de quem foi essa ideia tresloucada. Que razão é que existe pra fe...

(Milton Marques)
Ao pegar uma cueca com a braguilha costurada,
me pergunto de quem foi essa ideia tresloucada.
Que razão é que existe pra fechar o bom caminho,
pra deixar aprisionado nosso amigo passarinho?
Eu não sei o que ocorre com quem o tecido fia,
será contra a natureza? Desconhece anatomia?

Eu pensava que Lutero acabara, sem temor,
com a ideia de o Papa ser meu Dono e Senhor.
Dono do meu pensamento, ser Senhor de minha Fé,
com palavra infalível do alto da Santa Sé.
Mas agora, preocupado, vejo que qualquer asneira
dita pela santidade e os acólitos de algibeira,
se ela for bem repetida por um frade ou cardeal,
por um bispo ou monsenhor, seja oblato ou clerical,
é um dogma inquebrantável que o estulto vai comprando,
pois um asno sempre está outro asno emulando.

Por que gosto do epigrama? Pela sua concisão,
Se o poema é muito longo, perde a sátira a razão.
Incisivo, o epigrama, tendo ironia fina,
É o raio fulminante que o baobá fulmina.
Duas vezes três por sete, com o ritmo da fala,
Quando o epigrama diz, o silêncio se propala.
O epigrama, já se afirma, é igual Roma locuta:
Tudo é causa finita, a ninguém não mais se escuta.
agosto 17, 2019
agosto 15, 2019
(Germano Romero) Os pedaços de melão desmanchavam-se na boca. Doce néctar a inundar todo o nicho de papilas. Que prazer. Logo pus-me a imagi...

(Germano Romero)
Os pedaços de melão desmanchavam-se na boca. Doce néctar a inundar todo o nicho de papilas. Que prazer. Logo pus-me a imaginar as mandíbulas da caveira triturando aquela polpa, deglutida pouco a pouco pela goela agradecida.
Salivares atuavam no preparo que descia ao estômago ansioso, próxima etapa digestiva. Que perfeição. E as fatias engolidas se faziam cachoeiras em suco deleitoso escorrendo pelo esôfago.
Ó melão que veio da terra arada, adubada, trabalhada e tão sofrida! Colhido e acolhido no gradil do caminhão rumo à feira a se vender. Três por dois, quem manda é o freguês. Ou nos tais supermercados, ordeiros e seguros, carimbados e lavados, prontos para ser levados.
Agora já me são e em mim se formarão pele, unha e cabelo que não param de crescer. Da divina combustão a energia gera vida. Movimento e pensamento fluem em plena evolução. Do pó nos refazemos e no pó reviveremos. Não quero ser cremado. Cinza morta não aduba. Que meu corpo um dia sirva de alimento ao que veio nas delícias do melão. E às minhocas a fartura fermentada deste corpo que vestiu durante anos uma alma bem vivida.
Já no último bocado prossigo ensimesmado com a mesma sensação. Por certo a doce fruta já se misturou no bolo que percorre seu trajeto. Assim nada se perde, não se cria e se transforma. Da terra vem a vida. Pouco mais recebe a morte. Como são bem parecidas, antagônicas se completam. A do fim, que é recomeço, nunca foi compreendida. Refutada, desprezada, temida, injuriada, razão de muita angústia, apavora até Augusto que aqui é bem lembrado. Chegada seja a hora de aceitá-la como parte de tudo o que acontece na espiral do firmamento! C'est la vie et non fini!
O melão que virou pele, em pó se tornará. A caveira que mastiga será idem devorada pela mãe que nos acolhe. Os ossos durarão quase uma eternidade. Não serão agraciados com a festa lá do céu, onde a roupa é bem mais leve. De bordados mais sutis, os sorrisos são de alma. Não há mais hipocrisia nesta nova sintonia em que o amor se torna música.
Vejam só que maravilha. De uma fruta bem comida voejou a inspiração nos mistérios que transcendem a rotina pueril. Das lições que há em tudo, disponíveis no prazer de quem olha e também vê.
Lua cheia vem e volta. Maré mansa ou na ressaca. Chuva e vento de agosto, tudo grita em devoção. E naquilo que é mais simples, muitas vezes num melão ou no vôo da borboleta, no aroma de um café que escapa da janela na paz do entardecer, pode haver felicidade. Regozijo bem descrito na poesia de Orlando que conclui estas bobagens. Mil perdões!
"Felicidade é
uma canoa no rio
uma sardinha na brasa
um cobertor para o frio
e um amor em casa".
agosto 15, 2019
agosto 13, 2019
(Milton Marques) O Oitavo Círculo do Inferno é dividido em 10 valas ou covas concêntricas, chamadas por Dante Alighieri de “Malebolge” (Can...
(Milton Marques)
O Oitavo Círculo do Inferno é dividido em 10 valas ou covas concêntricas, chamadas por Dante Alighieri de “Malebolge” (Canto XVIII, verso1), onde se encontram os fraudulentos. Em cada vala, são punidos os que cometeram crimes específicos – rufiões e sedutores ( Canto XVIII, vala 1), os aduladores, que enganam com falsas promessas (Canto XVIII, vala 2) ; os simoníacos (Canto XIX, vala 3), os magos e adivinhos (Canto XX, vala 4), os interceptadores, traficantes de influência que se aproveitam dos cargos públicos (Canto XXI e XXII, vala 5)...
No Canto XXI, onde se encontram os “barattieri”, os interceptadores de objetos, traficantes de influência, que tiram proveito dos cargos públicos que ocupam, Dante se refere à mudança de opinião em favor próprio, quando, em vida, o agora condenado, era movido pelo dinheiro:
“del no, per li denar, vi si fa ita”
“do não, por dinheiro, ali se faz sim” (verso 40)
O acompanhamento de Dante e Virgílio, ao longo da 5ª vala, por dez diabos, já nomeados no Canto XXI – Alichino, Calcabrina, Cagnazzo, Barbariccia, Libicocco, Draghinazzo, Cirïatto, Graffiacante, Farfarello e Rubicante (versos 118-123) – dá azo ao poeta florentino a fazer uma referência irônica a essa companhia, trazendo à tona um dito popular de muita verdade:
“Ahi fiera compagnia! ma ne la chiesa
coi santi, e in taverna coi ghiottoni.
Ai, fera companhia! mas na igreja
com os santos, na taberna com os glutões (Canto XXII, versos 14-15).
Todo esse Oitavo Círculo, onde se encontram os fraudulentos, nos mostra a atualidade do texto de Dante, a quinta vala, sobretudo, aplicando-se como uma luva ao Brasil. Veja-se, por exemplo, que os “barattieri” são os que se aproveita dos cargos públicos para a autolocupletação e que é impossível alguém se acompanhar frequentemente das mesmas pessoas e não adquirir os seus hábitos. Ou melhor, as pessoas buscam, frequentemente, as companhias daqueles com quem se afinam.
Do ponto de vista do ritmo, foi ótimo perceber que, com um decassílabo e meio, dá para formar, sem perda na tradução, um belo e harmonioso heptassílabo duplo, meio caminho andado para um epigrama:
Na igreja com os santos, na taverna com os glutões,
Sob a luz, honestidade; já nas trevas, uns ladrões.
Ah, estes condenados estão imersos em pez fervente. Dante dando ideia...
agosto 13, 2019
agosto 13, 2019
(Clóvis Roberto) “Não me iludo/Tudo permanecerá do jeito que tem sido/ Transcorrendo/ Transformando/ Tempo e espaço navegando todos os senti...
(Clóvis Roberto)
“Não me iludo/Tudo permanecerá do jeito que tem sido/ Transcorrendo/ Transformando/ Tempo e espaço navegando todos os sentidos”. É o que diz o mestre Gilberto Gil em “Tempo Rei”. É que se há uma coisa que não muda é a transmutação do tempo. Revolucionário, ele tem poderes diversos. É vida, morte, saudade, renovação, decepção, fúria, bálsamo, cura.
Implacável, o tempo não é certo ou errado. Ele apenas avança para cravar no passado arquivos que vagam pelas nossas memórias (ou somem no labirinto da nossa existência), lembrados ou não. Pode ser um segundo com sensação de horas, dias semelhantes aos minutos, anos com sabor de séculos. Mas aí não é o tempo e sim a essência do ser atuando e alterando o relógio interno, o nosso próprio tempo, mas jamais o tempo que rege a todos.
Eis que surge outra música. Era o Legião Urbana tocando já nos idos de 1985 pela voz de Renato Russo sobre o “Tempo Perdido”: “Todos os dias quando acordo/ Não tenho mais/ O tempo que passou/ Mas tenho muito tempo/ Temos todo o tempo do mundo... Temos nosso próprio tempo”.
Com a canção vem a reflexão. O espaço temporal é variável também. E parecem seguir uma regra. As voltas dos ponteiros parecem que para cada indivíduo têm rotação diversa. Ora é célere para um, ora lenta para outra. Para os mais jovens, o relógio geralmente é mais veloz; para o os mais velhos, tudo é mais vagaroso, ao menos nesse nível de existência, e ele pondera mais ao usar seu tempo. Às vezes, os mais velhos simplesmente ignoram o tempo, meio que afirmando que superaram a necessidade de provar ao relógio que a vida independe dos ponteiros. Ele conquistou o seu próprio tempo.
E outra música entoa. “O tempo passa em meio a momentos que fazem um dia monótono/ Você perde tempo gastando as horas de modo descuidado... Cada ano que passa fica mais curto/ Parece nunca arranjar tempo/ Planos que tampouco deram em nada/ Ou meia página de linhas rabiscadas”, alerta “Time”, escrita por Roger Waters, no clássico álbum “The Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd.
E a vida segue, pois “saiba que ainda estão rolando os dados/ porque o tempo, o tempo não para”, lembra a canção de Cazuza. E mesmo que você pare, o tempo está ali para afirmar que ele seguirá, provocando suas transformações no seu ser. Pois o seu tempo deve seguir, não deve ser encerrado por decisão sua.
Que sejamos o gerente do nosso tempo, seja ele qual for. Que o nosso “Tempo Rei” seja para servir ao nosso reinado.
agosto 13, 2019
agosto 12, 2019
Quando nasci, ganhei seu nome: Carlos Romero. Não sei se foi uma escolha dele ou de mamãe. Só sei que sempre tive orgulho desse nome. Quan...
Quando nasci, ganhei seu nome: Carlos Romero. Não sei se foi uma escolha dele ou de mamãe. Só sei que sempre tive orgulho desse nome. Quando eu era menino só queria ser como ele. Achava-o bonito,inteligente. Sempre foi meu ídolo, meu herói. Quando mamãe partiu, muito precocemente, eu e Germano, meu irmão caçula, sofremos muito. Ficamos os três sem ela. Papai dizia que éramos uma “tristíssima trindade”. Sem ela, mas lá estava ele no centro, para nos orientar, nos guiar. Era nosso sol. E assim seguimos nosso caminho com ele. Os primeiros anos muito difíceis, mas de grande aprendizado. Nessa época, escreveu um livro: A Dança do Tempo. Um livro que para ele, representou uma verdadeira catarse, transformando sofrimento em arte. Um livro que conta uma parte da história dele, da nossa história também. Um livro escrito com o coração.
agosto 12, 2019
agosto 11, 2019
(Ângela Bezerra de Castro) Escrito em 1914, é um dos mais destacados sonetos de Augusto dos Anjos, incluído entre os que Órris Soares acresc...

(Ângela Bezerra de Castro)
Escrito em 1914, é um dos mais destacados sonetos de Augusto dos Anjos, incluído entre os que Órris Soares acrescentou à primeira edição do EU. Pela temática atemporal, pelo enfoque único, pela estrutura perfeita, é um poema eterno que os séculos hão de repetir, como repetem os sempre atuais camonianos, em suas sínteses "de ouro" sobre as mudanças da Fortuna e os enganos do Amor.
Em O Lamento das Coisas, desenvolve-se o tema do desperdício das potencialidades, expondo-se a dor do que pode ser e não é, permanecendo em estado rudimentar. Daí a tristeza do eu lírico, na constatação do tempo que passa inutilmente, enquanto as coisas não atingem a dimensão própria, a dimensão de sua natureza.
O poema é elaborado a partir da percepção auditiva. De início, há um personagem "Triste, o escutar, pancada por pancada, / A sucessividade dos segundos". Essa passagem do tempo é perceptível não apenas pela revelação confessional, mas também no ritmo criado pela repetição intencional de sons oclusivos e sibilantes, como uma marcação a reproduzir cada fragmento do tempo que se esvai.
Tal acuidade auditiva permite que esse personagem também possa ouvir os "sons subterrâneos do orbe oriundos". Através da expressão sonora do sofrimento, identifica-se cada coisa selecionada para a composição do poema: "O choro da Energia"; "a dor da força"; "o cantochão dos dínamos"; "o soluço da forma, da transcendência e da luz"; tudo sintetizado pelo "subconsciente ai formidando da Natureza, chorando."
Atribuindo a todas as coisas qualidades humanas, o poeta, pelo mesmo processo retórico, considera o "ai formidando" como "subconsciente", equiparando, assim, pela forma e pelas extraordinárias e inexploradas potencialidades, o orbe e o cérebro humano.
Percebe-se um maior esforço construtivo na caracterização do estado de letargia das coisas que não atingem a concretização de sua essência: "a Energia abandonada"; "a Força desaproveitada"; "os dínamos jazem na estática do Nada"; "a forma, ainda imprecisa"; "a transcendência que se não realiza"; "a luz que não chegou a ser lampejo"; "em suma, a Natureza que parou no rudimentarisrno do Desejo."
A síntese do conteúdo desenvolvido ao longo do poema é programaticamente anunciada pela expressão adverbial "em suma", no último terceto. Todas as coisas se resumem na Natureza e todos os lamentos se condensam no "subconsciente ai formidando", ou seja, no gemido triste, doloroso e amedrontador vindo das entranhas da terra e imaginariamente captado pelo eu-lírico (O que hoje pode ser ouvido por qualquer visitante no museu INHOTIM, em Minas Gerais, graças a potentes amplificadores de sons).
É tão perfeita a estrutura do soneto que pode ser reorganizada para efeito de análise, a partir dessa tríade: coisas, lamento, estado de desperdício. A sequência vertical dos elementos oferece uma leitura didática, de absoluta objetividade e mais acessível compreensão, pelo acompanhamento do processo reiterativo de vocábulos do mesmo campo semântico.
Em sua constituição original, O Lamento das Coisas é uma configuração metafórica do subdesenvolvimento, ferida eternamente aberta, realidade onde a natureza, especialmente a humana, se consome na fatalidade de não ser. Tragédia que "as sopas populares não remedeiam", conforme ensina a insofismável reflexão de Exupéry ante “uma bela promessa de vida" condenada "à estranha máquina de entortar homens".
Este soneto magnífico tem sofrido historicamente com a persistência de um erro gráfico ou de interpretação, que transforma o substantivo ai no advérbio aí e altera substancialmente o último terceto, a conclusão do poema. Felizmente, as mais confiáveis edições já o corrigiram, há muito tempo: a de Houaiss, a de Zeni Campos Reis e a de Alexei Bueno.
(excerto dos anais de um congresso)

O LAMENTO DAS COISAS
(Augusto dos Anjos)
Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da energia abandonada!
É a dor da Força desaproveitada,
- O cantochão dos dínamos proofundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
Jazem ainda na estática do Nada!
É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que não se realiza...
Da luz que não chegou a ser lampejo...
E é em suma, o subconsciente ai formidando
Da natureza que parou, chorando,
No rudementarismo do Desejo!
agosto 11, 2019
agosto 11, 2019
"Meu pai não foi um santo, um indivíduo perfeito, imaculado. Mas por ter sido um pecador como qualquer mortal, acabei aprendendo com os...

"Meu pai não foi um santo, um indivíduo perfeito, imaculado. Mas por ter sido um pecador como qualquer mortal, acabei aprendendo com os seus erros. Saudades, pai".
(Petrônio Souto)

"Meu pai nos amava e nos dizia isto em suas ações mais do que por suas palavras. Deu-se completamente à família, assim como a minha mãe, em estafantes duplas jornadas de trabalho. Não só criou os nove filhos que teve, mas tomou para si o encargo de criar os netos, quando as adversidades imperiosamente o convocaram para essa ação. A nenhum discriminou, a nenhum sonegou oportunidades, de todos exigiu retidão e decência; a todos abriu os devidos caminhos para a aprendizagem. Homem de pouca escola formal, fez da vida a sua grande escola e nunca abandonou o gosto pela leitura e pelo conhecimento. Mais de uma vez, eu o vi responder a algum incrédulo, com relação ao que falava – “Eu leio!”
(Milton Marques Júnior)

Meus dois amores!!! (pai e avô). A lua e o sol, o sonho e a realidade, a água e a terra: amores que se unem para firmar minha vida, minha personalidade, meu destino. Me ensinaram coisas diferentes e, ao mesmo tempo, tão parecidas... diferentes formas de lutar e de aprender, mas sempre com ética, respeito, paciência e abnegação. Hoje entendo melhor e consigo chegar mais perto... gratidão!! Que Deus os abençoe onde estiverem! E até breve!!
(Renata Simões)

"Costumo refletir que sou uma pessoa agraciada com as bênçãos divinas.
Tive um pai que me deu muito orgulho. Com ele, aprendi um legado de ética, de idealismo, de coragem para enfrentar a vida, de amor à família e de busca pela paz e conciliação.
Tempos depois de aprender esse legado, virei pai. E procuro passar para meu Vini tudo que herdei de meu querido pai. Sobretudo de ser plena devoção ao meu filho.
Não sei se consigo ser um grande pai, mas faço o que minha capacidade de discernimento dos deveres e amores de um pai permite.
Meu pai hoje está no Céu, tenho certeza. Esperando Lili chegar em definitivo ao seu descanso merecido.
E Vini é um anjo aqui na terra. Hoje vou permitir-me a alegria de ser pai de um anjo.
(Linaldo Guedes)

"Carlos é só vida e alegria.
Fico tão feliz em ter percebido que ele soube amar e ser amado!
Foi a razão de ser um homem feliz"
(Ângela Bezerra de Castro)

"Germano,
Você sempre foi um grande filho e no crepúsculo da vida de Dr. Carlos, você foi um grande pai."
(José William Montenegro Leal)

RINCÃO DAS FLORES
Meu pai sempre foi um rastro
nos prados da minha infância.
Rosto farrapo cercando
alambrados e ventanias.
Tordilho do galope ao trote.
Raio, relho e espora.
No mapa da cavalgada era
um príncipe de bombachas.
Laço e lenço no capricho.
Pala voando na
geografia ondulada.
Meu pai foi um riso que secou.
Bandeira rota nas trincheiras.
Foi bravio. Teve medo.
A vida sempre por um fio.
Chegava
antes e partia...
sem deixar rastros.
(Lau Siqueira - Rincão das Flores é o distrito de São Lourenço do Sul-RS, onde nasceu meu pai)

"A beleza desse amor entre Germano e seu pai ecoará por muitos anos mais e será eloquente exemplo para próxima geração! Parabéns!"
(Daniel Seixas)

"Não me lembro se fui pai
nem dos filhos que já tive
fora bicho, livro e planta
Mas na última jornada
de pão e de pai nosso
me veio uma fornada
Bom filho sei que fui
e com ele sou feliz
na vida que ainda flui"
(Germano Romero)
agosto 11, 2019
agosto 10, 2019
Numa matinê de sábado, depois de uma semana com rinite alérgica e sinusite, e de perder pessoas queridas da cidade, queria me distrair. E ...

Numa matinê de sábado, depois de uma semana com rinite alérgica e sinusite, e de perder pessoas queridas da cidade, queria me distrair. E fui assistir o filme Mamma Mia 2. Já tinha visto o primeiro (e adorei!) e assisti também o musical na Broadway, em 2015. O que me levou a sair do teatro com a lombar doída de tanto cantar e dançar na cadeira a trilha do grupo Abba. Realmente uma catarse !
Pois sábado fui ver a continuação do musical da menina e seus três pais. E passeando pelas Ilhas Gregas, e ouvindo aquelas músicas, me peguei choramingando. Um filme sobre a saudade. Saudade de uma filha pela mãe (a personagem de Meryl Streep no Mamma Mia 1). A história dessa vez, é sobre a vida de Donna (Meryl Streep), antes de chegar à Grécia, agora vivida pela linda Lilly James, atriz que tinha acabado de assistir no dia anterior, em outra ilha idílica, no filme – Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batatas.
E nessa saudade, viaje nas minhas lembranças pela Grécia, numa viagem esplendorosa que fiz em 1987; pelas mussakas que comi; pelos caminhos imbricados das ruelas brancas e azuis de Mikonos, e o meu êxtase particular de me ver perambulando também em Santorini a comer Octopus grelhado e me perder no azul anil do Mar Egeu.
Tive amigos gregos no meu ano de Mestrado na University of Warwick, na Inglaterra 1986/7. Chorei de saudades deles também. E de saudade em saudade, foi me dando um sentimento esquisito. Um misto de alegria e nostalgia. E quando dei por mim, estava aos prantos em Mamma Mia!
No meio do filme, me veio á tona a paixão pelos atores Colin Firth, meu eterno Darcy, e que, dançando desengonçadamente, fica ainda mais sedutor, e de Stellan Skarsgard (meu estranho querido de Melancolia, Dançando no Escuro, Dogville), e no filme, um dos dançarinos alegres e fanfarrões na festa pra Donna! Ah! Minhas paixões cinematográficas!
Cinema é diversão sim. E como foi reconfortante estar esparramada naquela Sala Vip, sessão da tarde, com os olhos rasos d´água cantando Mamma Mia, e passeando nas lembranças de um inverno em NYC com minha irmã Claude; ou re-lembrando minhas andanças, quando jovem, pelas Ilhas Gregas, com minha saia de chita, comprando brincos de alpaca , e identificada com aquelas figuras dançantes daquela ilha com portas azuis (pintei as da minha casa uma vez, só para ter o gostinho dessa lembrança; como também pintei a casa de terracota para me sentir no filme de Bertolucci – Beleza Roubada!). O cheiro de azeite fino e pepinos nos iogurtes, pude sim fazer uma viagem nas memórias afetivas de uma vida passada a limpo na diversão e arte. Como diz um amigo filósofo: “o esquecimento como lembrança!”
Saí do cinema de olhos gordos e empapados de lágrimas. Um choro pelos mortos da semana (Juvenal e Jorge – que nem conhecia, mas que fazia parte do meu grupo de Caminhantes). Um choro também pelos meus mortos. Minhas saudades tantas. Mas nem por isso triste. O sentimento de efusão da celebração ao amor da filha pela mãe; dos brindes à amizade e ao amor, me deram mais ânimo e alegria para seguir direto à UFPb, Sala de Concertos Radegundis Feitosa, e assistir o Recital do menino Vitor Diniz, filho da minha amiga da infância, Dodora Diniz e Luismar , e que , desde a barriga acompanho os passos e os sopros da sua Flauta Mágica.
Quando lá cheguei, vi, pela primeira vez, o belíssimo mural- A Bagaceira – do artista Flavio Tavares. E por entre engenhos, cabritos, carros de boi, e senhoras com o olhares perdidos no horizonte, também me deixei perder no interior paraibano, no cheiro enjoativo do melado do açúcar, da minha infância pelos engenhos e usinas das primas queridas.
E do Brejo às Ilhas Gregas, a distância se fez pequena. Minhas lágrimas enxugaram. E o meu sábado terminou em pizza. Literalmente. Brindando à vida com as amigas, Margarida Assad e Fátima Duques. Na esquina de casa.
agosto 10, 2019
agosto 08, 2019
(Sérgio de Castro Pinto) A boa leitura sempre consistiu, para mim, numa espécie de revolução silenciosa. Dela,...
(Sérgio de Castro Pinto)
A boa leitura sempre consistiu, para mim, numa espécie de revolução silenciosa. Dela, sempre saí diferente de quando entrei. Ou seja, mal concluo a última frase de um romance ou o último verso de um poema, sinto-me com uma nova percepção da vida e do mundo. Pena que nem todos pensem assim e tratem o escritor, sobretudo o poeta, com certo ar de mofa e de desdém. Isso sem falar que os editores e os livreiros discriminam a poesia, gênero literário que, dificilmente, é exposto nas vitrines das livrarias, mas, quase sempre, escondido nas últimas prateleiras, nos locais mais longínquos e ermos. Tanto que, quando encontro numa livraria alguém de joelhos, numa posição contrita e genuflexa, não tenho dúvida: esse alguém esta à cata de um livro de poesia. É um leitor de poesia. E dos bons!
Sobre o livro, escreve João Cabral de Melo Neto: “(...) modesto: só se abre se alguém o abre”. Pois bem. Nestes meus sessenta e dois anos de vida, outra coisa não fiz senão abrir livros, devassá-los e gozar de sua intimidade. Não somente livros, mas tudo o que, feito de papel e tinta, me caia às mãos: jornais, revistas, gibis, almanaques, e até mesmo um vetusto tomo de um médico alemão, de cuja leitura o meu pai – jornalista, hipocondríaco e completamente leigo em medicina – extraía conclusões estapafúrdias para “diagnosticar” os achaques e as mazelas do filho único que eu sou e continuo sendo. O livro, que povoou a minha infância e parte da minha adolescência, denominava-se salvo engano, O conselheiro médico do lar.
Li, e ainda hoje leio, bulas de remédio, receitas culinárias e “fórmulas de preparados para pele”, como o fez – no caso dessas últimas – o poeta Manuel Bandeira para encontrar os caminhos tortuosos e íngremes do verso livre, segundo ele uma conquista difícil, pois, situando-se na confluência do Parnasianismo com o Simbolismo, habituara-se naturalmente, quase sem esforço, ao ritmo metrificado e às formas fixas dessas duas correntes líricas.
A minha primeira leitura foi um livro de crônicas do meu pai, cujo narrador – um menino da década de 30 – discorria a propósito do conflito entre liberais e perrepistas. Eram crônicas lidas ao sabor de uma profunda nostalgia, sentimento estranho para uma criança que, ainda sem passado, sentia uma saudade atávica do menino antigo que fora o seu pai. Daí, para também escrever as minhas “memórias”, foi um passo, apenas com uma diferença: impossibilitado de explorar o tempo pretérito, de convertê-lo em matéria bruta do meu texto, não me restou alternativa senão inventá-lo. O que fiz, inconscientemente, na esteira do verso de Manuel Bandeira: “A vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
Aprendi, a partir de então, que uns mais, outros menos, os livros quase sempre encerram uma espécie de “invenção da verdade”. E que essa, mesmo de forma velada, sub-reptícia, denota o inconformismo do escritor diante do mundo, o conflito que se estabelece entre “a vida vivida e a vida pensada”, pois já não disse Oscar Wilde que, “Para a maioria de nós, a vida real é a vida que não vivemos”? Cumpre-nos vivê-la, então, através da leitura. Mas principalmente, disseminar a leitura, pois o leitor “sozinho não tece uma manhã”.
(excerto de “O leitor que eu sou”)
agosto 08, 2019
agosto 07, 2019
(Ângela Bezerra de Castro) “Estética e Trabalho. Respondo ao chamamento dessa divisa que vem a ser o mesmo da primeira descoberta em relação...

(Ângela Bezerra de Castro)
“Estética e Trabalho. Respondo ao chamamento dessa divisa que vem a ser o mesmo da primeira descoberta em relação à palavra. Do primeiro arrebatamento diante de uma forma imprevisível de dizer ou de um ritmo inesperado, descortinando o reino onde “estão os poemas que esperam ase escritos”. O reino das palavras. Cedo me encantou o poder libertário de seus estatutos. Concretizado, na memória mais antiga, por aquele Pássaro Cativo de fala doutoral, mas que me fez enxergar a escravidão e a dor, onde antes eu pudera alcançar somente a beleza e o canto. A eloquência pedagógica de Bilac estabelecendo para os meus oito anos o impacto de uma nova ordem de sentimentos e valores.”
“A vida reinventada através da palavra arrebatou-me sempre mais que qualquer outro entusiasmo. Decidiu minha escolha profissional. Destinou-me amizades verdadeiramente inestimáveis. Assegurou-me as mais compensadoras alegrias. Fez-se parâmetro de minhas grandes admirações. Conduziu-me até aqui, reservando-me a eternidade deste instante. Instante-síntese, que parece acumular todos os tempos e todas as emoções.”
“Na leitura de um texto, não existe verdade sustentável, alheia às estruturas de linguagem que lhe emprestam forma e substância. Minhas convicções hermenêuticas se apoiam neste princípio, que se articula à distinção essencial entre a atividade crítica e a opinião descomprometida com a informação teórica e com a realidade histórica."
(excertos de discurso)
agosto 07, 2019
agosto 05, 2019
Devíamos agradecer ao ouvidor-geral Martim Leitão pela escolha do lugar onde mandou erguer o forte e, subindo a colina, a cidade do edito ...

Devíamos agradecer ao ouvidor-geral Martim Leitão pela escolha do lugar onde mandou erguer o forte e, subindo a colina, a cidade do edito real. Não houvesse ele chegado em novembro, pleno verão, poderíamos supor que tivesse atravessado o ribeirão do Jaguaribe e alcançado o Cabo Branco em dia de forte chuva. Encharcado, sem poder trotear no areal pedregoso das restingas, o lendário fundador só poderia ter se fixado na “planície de mais de meia légua, muito chã, de todas as partes cercada d’água”.
Mas água que não afoga, que encontra logo o caminho do mar ou do rio. Planície muito chã - assim descrita pelo frade que abriu caminho para a nossa História - livra-se em meia hora de uma noite inteira de chuva, ao contrário do Recife, fundado entre rio e maré por alguém que não a escolhera como morada para toda a vida.
Nisso os portugueses eram insuperáveis, manjados na experiência de ilhas e continentes como plantadores centenários de cidades.
Aqui, podiam ter começado pela península de Cabedelo, ao lado do forte. Mas nada garantia que a cidade não ficasse vulnerável aos surtos do índio e do corsário. Penetraram rio acima e só quando a colina se pronunciou alta e sobranceira, muito acima das águas e das armas, resolveram ordenar a fundação do casario, a começar pela capela matriz, no mesmo lugar da basílica de hoje.
Ficamos, pois, a salvo da enchente. Pelo menos até os limites urbanos traçados pelo ouvidor, seguidos e pela primeira vez planejados, trezentos anos depois, pelo administrador ainda hoje frequentando a memória histórica, Henrique de Beaurepaire Rohan.
O ponto fraco, que era a Lagoa, bacia das águas de inverno dos bairros que a rodeavam, foi urbanizado e convertido, numa quadra próspera de lavouras de exportação, no cartão postal da cidade modernizada. E como tivemos sorte, nisto! Já que se iria cavar um escoadouro para as do entorno, que se transformasse a grande bacia numa praça especial, num parque já visto como dos mais belos do mundo. Saturnino de Brito, a quem devemos o primeiro sistema de galerias e de esgotos, faz referências, na justificação do seu projeto, à “incolumidade da Capital da Paraíba aos flagelos da chuva e da maré.” Diz isso, dando uma de modesto, quando lhe elogiam a eficiência do sistema que implantara. “A topografia da cidade ajuda muito” – alegava.
É bom lembrar, entretanto, que a cidade inicial se limitava às bordas da colina, tendo Jaguaribe e Cruz das Armas como estrada. Nos anos 20, a balaustrada de Trincheiras era um ornamento urbano abrindo vista para o vale verde onde hoje escorrega a favela que, por absurdo, ganhou o nome de Saturnino de Brito, símbolo ou marco da modernização.
Vale verde, dizia Coriolano; anfiteatro, batiza José Américo. Anfiteatro e vale verde que são hoje, dali da balaustrada, um atentado aos foros cultos de um Camilo de Holanda, que tanto fez por uma João Pessoa bonita, ornada de lavores, moderna. Como paga, haviam surrupiado o pincenê da estátua e, para fechar, levaram agora o bronze inteiro. Resta só o pedestal em meio à ruína.
agosto 05, 2019