(Milton Marques Júnior) Sempre abro os meus cursos na Pós-Graduação em Letras, para ouvintes. Dentre aqueles que os acompanham, encontra-se ...

Senhor Juiz, não pare agora!


(Milton Marques Júnior)

Sempre abro os meus cursos na Pós-Graduação em Letras, para ouvintes. Dentre aqueles que os acompanham, encontra-se o juiz Hermance Pereira, de quem recebi o livro Magistrados & Arte Musical, organização de Sandra Moura (Ideia, 2019). Em primeiro lugar direi que é uma satisfação ter Hermance como ouvinte. Ele já havia seguido o curso sobre a Ilíada e, agora, faz o da Odisseia.

Em segundo lugar fico grato de ter recebido o livro, pela oportunidade de saber que há um grupo considerável de magistrados, aqui na Paraíba, que se dedicam à música. Não que o fato em si me admire, mas é que todos sabemos a carga de trabalho que envolve os juízes, numa faina parecida com a de Sísifo, sempre recomeçando o rolar da pedra em direção ao cume da montanha. Esta metáfora se aplica, quando sabemos que julgar processos e prolatar sentenças é tarefa longe de acabar. Mas entre uma pedra e outra, a reflexão sempre ajuda a empurrá-la para mais longe...

Mais do que surpreso, afirmo que fiquei entusiasmado, sobretudo com o projeto de Hermance Pereira, para além de sua paixão pessoal, de inclusão de apenados do sistema judicial, procurando mudar vidas pela música.

Como paixão pessoal, podemos sentir na leitura do livro como este juiz respira música. Multi-instrumentista, Hermance Pereira vai das cordas ao sopro, com o sax sendo uma extensão de seu perfil, passando pelo teclado e pela percussão. Com a música entranhada, Hermance só alimenta cada vez mais a sua necessidade de conhecimento.

Chamou-me, particularmente a atenção a maneira como são feitos os relatos referentes a cada juiz – dezessete ao todo. Nada de apresentação burocrática ou de entrevistas com perguntas feitas a priori e respondidas pelo entrevistado. Trata-se de narrativa viva, em muitos momentos com estilo literário; crônica, cuja leitura torna-se saborosa ao leitor, ofertando-lhe uma espécie de biografia pela música, sem esquecer por trás do amante da arte de Apolo, o juiz. Li toda a parte de Hermance, cujo perfil é muito bem traçado por Marcella Machado, folheei as demais, mas a constatação é a mesma.

A maior surpresa para mim, foi encontrar no livro o juiz Marcos William, companheiro de aulas no antigo Colégio 2001, e ex-alunos meus como os juízes Onaldo Queiroga e Gustavo Urquiza. Quanto a Hermance, não tive a satisfação de tê-lo como aluno, mas tenho-o como um ouvinte para lá de qualificado, o que é, a um só tempo, um prazer e um desafio.

Grato pelo presente, ouso parafrasear a música famosa da Jovem Guarda, enviando ao meu querido Hermance Pereira a seguinte mensagem: – Senhor Juiz, não pare agora!



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