Como repórter do cotidiano conheci Pinto do Acordeon , na passada década de 70, numa campanha política, quando ele ainda não era famoso. De...
Sertão emudecido
Como repórter do cotidiano conheci Pinto do Acordeon, na passada década de 70, numa campanha política, quando ele ainda não era famoso. Detectei, de imediato, um artista completo: cantor com extraordinário timbre de voz, um “vozeirão”, compositor e contador de causos. Foi o último representante dos cantores de “gogó”, feito Luiz Gonzaga e Lindú, este da formação originária do Trio Nordestino.
Houve um tempo na A União em que só se falava em Costeira . Poucos sabiam quem era o diretor ou gerente que, com raras exceções, se entroni...
O incansável Manoel Costeira
Houve um tempo na A União em que só se falava em Costeira. Poucos sabiam quem era o diretor ou gerente que, com raras exceções, se entronizavam em seus gabinetes. Costeira era o nome que o povo sabia, o nome a pronto e a hora para os gráficos, os revisores, redatores e mais funcionários; o nome a quem as mães de Jaguaribe e da Torre pediam para os filhos, a quem o governador ou os secretários chamavam nas urgências, a quem a torcida do antigo Esporte Clube União gritava por gol ou por bons jogadores.
Era uma lançadeira de atendimentos. Atendia o telefone para ir buscar o decreto de última hora, suspendia o almoço no birô de trabalho para mandar parar o Diário Oficial que trocara os nomeados, corria a Recife para trazer o papel ou o chumbo que faltavam, subia e descia a escadinha inglesa desde a zero hora da segunda até zero hora do domingo, quando dormia e só acordava para o jogo do "União".

Sentava nas mesas de bar, chegava mesmo a pagar a conta, e não bebia. Era capaz de descer à rua, correr ao fiteiro, levar a carteira de cigarro que faltava para desempenar a redação, e nunca pôs um cigarro no bico. A família era quem ia vê-lo na A União, ele não tinha tempo.
Quando entrei no jornal ele era revisor, um dos Chefes da Revisão. Coordenou o teste de três ou quatro meses a que fomos submetidos, trabalhando todas as noites, eu, José Barbosa de Souza Lima, Oswaldo Duda Ferreira, Carlos Augusto de Carvalho, Marcílio Coutinho, Juarez Morais e alguns outros. Falava direto com o diretor, o Dr. Juarez Batista, o que era um grande privilégio. Começamos a conhecê-lo nessas madrugadas de leitura alta movida a goles de leite e pão seco, aprendendo que trabalho não mata e, se for feito com amor, também não cansa.
Nunca o Estado pôde tirar tanto de uma pessoa. Tirou-lhe as noites, as horas da família, as ambições pelo patrimônio particular, pela boa casa, o bom automóvel o duplo financiamento do Ipep, essas coisas tão comuns hoje aos altos e bons funcionários. Não teve tempo, sequer, de arranjar um bom ordenado, uma vaga de agente fiscal, um salário que pudesse abrir os olhos austeros e honestos do governo do PMDB, um partido que, desde as suas nascentes (o velho PSD) tem se caracterizado pela ojeriza ao empreguismo, ao apadrinhamento, às sinecuras... A comissão de acumulação não vai encontrar dupla matrícula de Manoel Costeira; o Dr. Nuto não teve a menor dificuldade em pagar-lhe a aposentadoria e menos ainda em pagar, a partir deste mês de maio triste, a pensão da viúva.
Há mais de vinte anos, na mudança de Pedro Gondim para João Agripino, Costeira já tinha recebido o prêmio pela sua dedicação, pela alma que ele emprestou ao velho edifício de A UNIÃO. Tiraram-lhe das funções a pretexto de não ser técnico, de não ter curso, e de se meter com tudo, desde a produção do jornal, do boletim, do decreto, do livro, à produção do bom nome do Estado, que exportava seus livros, seu "Correio das Artes", impressos no rojão de Costeira, a todas as praças culturais da Região. O nome era do governo, de Pedro, da Paraíba, mas a força era de Costeira, que esta semana subiu ao céu, ou melhor, ao edifício centenário que Ernani Sátyro derrubou mas que ficou como morada fantástica dos que merecem ser lembrados para sempre.


Existem vários tipos de leitura. Todo leitor é capaz de identificar – e experimentar – a diversidade de leituras. Normalmente, é o livro qu...
Ler para viver (e não o contrário)
Existem vários tipos de leitura. Todo leitor é capaz de identificar – e experimentar – a diversidade de leituras. Normalmente, é o livro que determina o tipo de leitura. Assim, uma obra de entretenimento geralmente não conduz o leitor a reflexões maiores, da mesma forma que um livro de fundo filosófico, posto que exigente, não propicia uma leitura de relaxamento.
O tempo é um dos maiores enigmas humanos. Muitos já tentaram decifrá-lo, mas, ou não tiveram suficientemente tempo para isso, ou desistiram...
Divagando sobre o tempo
O tempo é um dos maiores enigmas humanos. Muitos já tentaram decifrá-lo, mas, ou não tiveram suficientemente tempo para isso, ou desistiram pela complexidade do tema. A hipótese mais viável é a segunda, pois quem se dispõe a meditar sobre a passagem do tempo não está ocupado com outras coisas e pode se dedicar com muita calma a isso (alguém já disse que, sem ócio, não haveria filosofia nem chá dançante).
Em um mundo animal... encontros animais. A minha relação com cães e gatos sempre foi ótima e se estende em harmonia e afeto até os dias at...
Encontros animais
Em um mundo animal... encontros animais. A minha relação com cães e gatos sempre foi ótima e se estende em harmonia e afeto até os dias atuais. Com coelhos, cavalos, jumentos, vacas, pássaros, sapos, entre outros, se não é uma amizade próxima, fraterna, é muito respeitosa e de admiração. Já com exemplares de outras espécies, os encontros foram um misto de surpresa, susto e dor, em algumas ocasiões. Tanto que passei a adotar o isolamento social com esses "bichinhos" bem antes de ser forçado a aplicá-lo também aos humanos por força da pandemia (alguns humanos bem que merecem um distanciamento social eterno).
Voltemos aos animais. Como já falei, cachorros e gatos, sobretudo os primeiros, são amigos de longa data. Porém, o objetivo do texto é abordar os encontros não tão legais.
Quase ninguém reparou no coletor de resíduos. Ia à frente do carro, puxando-o, cansado, aspirando o parco ar da manhã tórrida. Súbito parou...
Achado divino
Quase ninguém reparou no coletor de resíduos. Ia à frente do carro, puxando-o, cansado, aspirando o parco ar da manhã tórrida. Súbito parou, vi bem. O carro encostado à sombra de uma árvore. À beira do meio-fio percebeu um embrulho. O que conseguira coletar, desde torneiras, aparelhos sanitários, papelão, até um boneco inflável, iria ser levado a postos de dilapidados objetos. Era de que ele vivia. Nesta fase de desemprego, pessoas sem saída têm, como única vertente, vender restos de utilidades. Questão de sobrevivência.
Prefaciado pelo professor e crítico de Literatura, José Mário Branco, os contos de Hélder Moura ( Inventário das pequenas coisas ) já vêm ...
As nove novenas de Hélder
Prefaciado pelo professor e crítico de Literatura, José Mário Branco, os contos de Hélder Moura (Inventário das pequenas coisas) já vêm iluminados pela leitura que indica os traços fundadores da nova espécie narrativa a que se dedica o autor de “O incrível testamento de Dom Agápito”.
Sempre questionei o porque da palavra “saudade” não ter equivalente em nenhum outro idioma. Será que esse é um sentimento único dos brasile...
A saudade é um sentimento teimoso
Sempre questionei o porque da palavra “saudade” não ter equivalente em nenhum outro idioma. Será que esse é um sentimento único dos brasileiros? Claro que não! Todo ser humano, seja qual for a nacionalidade, sente saudade.
Dentre os vários frutos do espírito, que Paulo elenca em Gálatas (5, 22-23), o primeiro é o Amor Ágape. Não há, nas epístolas de Paulo pala...
Busquemos o amor
Dentre os vários frutos do espírito, que Paulo elenca em Gálatas (5, 22-23), o primeiro é o Amor Ágape. Não há, nas epístolas de Paulo palavra que lhe seja mais cara. Ágape é o amor incondicional, o amor da escolha, cujo sentido se estende para designar a refeição dos primeiros Cristãos, juntos no compartilhamento da comida e do Amor a Deus.
Quando menos esperávamos, de repente a nossa vida estava cheia de netos. Logo cinco em apenas oito anos! E quase que por decreto fomos pr...
O prazer de sermos avós
Quando menos esperávamos, de repente a nossa vida estava cheia de netos. Logo cinco em apenas oito anos!
E quase que por decreto fomos promovidos a uma classe maravilhosa e respeitável: a de Avós. Pois não estávamos preparados para essa promoção. Ou quase. O fato é que Ilma e eu passamos a desfilar com esse novo “crachá” entre os amigos e parentes.
Você não precisa casar nem ter filhos, se nunca desejou. Nem fazer compras em Miami. Não precisa ter aquela bolsa marrom, não precisa ter...
Você não é obrigado
Você não precisa casar nem ter filhos, se nunca desejou. Nem fazer compras em Miami.
Não precisa ter aquela bolsa marrom, não precisa ter carro, nem amar bicicletas, não precisa meditar. Só precisa ter cachorro se quiser. Entender de vinho: não precisa.
Por volta de 50 a.C. um poeta e filósofo chamado Tito Lucrécio Caro escreveu um famoso texto intitulado De rerum natura – “Da natureza da...
O caçador de livros
Por volta de 50 a.C. um poeta e filósofo chamado Tito Lucrécio Caro escreveu um famoso texto intitulado De rerum natura – “Da natureza das coisas” em tradução livre. Eram versos latinos belíssimos. Cícero (106 - 43 a.C.) ficou impressionado com a poesia de Lucrécio, realmente algo incomum, um texto perigosamente radical, um poema que reunia um gênio iluminado em filosofia e ciência a uma força poética extraordinária.
poema eis a fórmula ou a forma: a água fura a rocha e assim faço o meu poema. um poema-lâmina (contundente) que esmigalhe e esf...
Faces partidas ao meio
eis a fórmula
ou a forma:
a água
fura a rocha
e assim faço
o meu poema.

(contundente)
que esmigalhe
e esfarele
como se fora
um dente.
não um poema
com o azul
da blue-blade,
mas um poema
que sangre
as maçãs da face.
um poema-lâmina
que prove e triture
as maçãs do rosto
com a mesma fome
e com o mesmo gosto
com que o primeiro homem
provou da maçã do paraíso.
este será o seu ofício:
ser lâmina e penetrar
e ferir e dissecar
e ir sempre além
do que se pode ir.

de outras lâminas
diante do rosto
e do espelho
o meu poema
é uma lâmina
escura e cega
que abre sulcos
e impõe o medo
da descoberta
frente ao espelho.
da descoberta
que cada berlinense
só tem uma face
e que a outra lhe falta
quando de manhã
ao barbear-se.
da descoberta
que mesmo de frente
o berlinense
é de perfil
e que há entre
o oriental e o ocidental
um limite, uma divisão
de cimento, areia e cal.
O meu poema
poderia ser azul
como outras lâminas
mas isto cansa-me
e esqueço o lirismo
de poder dizer
que do azul da lâmina
saíram gaivotas,
verão e istmos.

pois nada une
apenas faz ver
de tudo a distância
e por isto é gume
e por isto é lâmina
e se quiserem
esterco, estrume,
que aduba a memória
frente ao espelho
e impõe a descoberta
de outras faces
partidas ao meio.
meu poema não é istmo,
isto nem aquilo,
meu poema é sabre e sabe
onde corre o rio
e onde incorre o risco
da descoberta de cada um
e por isto provoca
e rasga cortes
na superfície lisa
de cada um.

Como professor de Cálculo Estrutural, tive oportunidade de lecionar a disciplina de Estruturas de Aço. Este material apresenta diversas car...
Adaptar-nos, e nunca desistir!
Como professor de Cálculo Estrutural, tive oportunidade de lecionar a disciplina de Estruturas de Aço. Este material apresenta diversas características, dentre as quais podemos destacar e trazer para nossa vida.O aço é uma liga metálica composta, em sua maior parte, por ferro e carbono.
O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para p...
Como é bom ser avô
O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para paparicar.
Língua Nem prestamos atenção. Verbos difíceis de conjugar... Decidir é um deles, Amar, nem me fale! Facilmente nos perdemos nos tempos...
Coração ansioso



Nem prestamos atenção.
Verbos difíceis de conjugar...
Decidir é um deles, Amar, nem me fale!
Facilmente nos perdemos nos tempos,
Nos modos, nas pessoas.