Em um mundo animal... encontros animais. A minha relação com cães e gatos sempre foi ótima e se estende em harmonia e afeto até os dias at...

Encontros animais

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Em um mundo animal... encontros animais. A minha relação com cães e gatos sempre foi ótima e se estende em harmonia e afeto até os dias atuais. Com coelhos, cavalos, jumentos, vacas, pássaros, sapos, entre outros, se não é uma amizade próxima, fraterna, é muito respeitosa e de admiração. Já com exemplares de outras espécies, os encontros foram um misto de surpresa, susto e dor, em algumas ocasiões. Tanto que passei a adotar o isolamento social com esses "bichinhos" bem antes de ser forçado a aplicá-lo também aos humanos por força da pandemia (alguns humanos bem que merecem um distanciamento social eterno).

Voltemos aos animais. Como já falei, cachorros e gatos, sobretudo os primeiros, são amigos de longa data. Porém, o objetivo do texto é abordar os encontros não tão legais.

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Comecemos pelas formigas. Seres interessantíssimos pela forma de vida em sociedade que mantêm. Elas são maravilhosas, inteligentes, organizadas, exemplos para os bípedes humanos. Várias vezes salvei do afagamento em xícaras de café aquelas que curtem o açúcar, fossem elas de tamanho considerável ou as miudinhas. Eu até demorava mais para adoçar o café para evitar assassiná-las. Contudo, existem uns tipos que não me foram muito agradáveis. Desde as saúvas, aquelas vermelhas e cujas dentadas são bem violentas, até umas de corpo mais alongado e uma ferroada de fazer o cristão "subir" e parar no inferno. Quanto às primeiras, fui vitimado pelo fato de apenas observá-las, já no segundo caso nem isso: fui atacado deliberadamente, sem aviso prévio, qualquer ato hostil sequer ou declaração de guerra.

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A parte mais marcante, de fato, foi o encontro com uma grandona, enorme, jurássica que costuma circular pelas matas, de vulgo Tocandira. Eu procurava caju no meio do mato, ainda meninote. Ou seja, estava preocupado mais em olhar as copas dos cajueiros do que o caminho à frente. Foi inesquecível, pois, sem querer, pisei com o dedão do pé esquerdo uma dessas Tocandiras da vida. Ela não gostou nada de ter se deparado comigo. E, juro, a dentada foi de raspão, mas me causou muita dor e até febre. A danada chega a 3,5 centímetros, uma das maiores formigas do mundo, segundo o amigo Google. É comum vê-la percorrendo solitária as picadas abertas no meio do mato. Sugiro evitar encontros com essa pequena gigante. Recomendo dar-lhe sempre passagem.

Susto maior tive por volta das oito anos. Eis que seguia de retorno da praia de Manaíra pelo que hoje é o popular Retão, mas que pelos idos de 1970 era uma estrada asfaltada com alguns casebres e uma venda no meio, além do Aeroclube da Paraíba, solitário e ilhado pelos cajueiros. Paramos para tomar um refrigerante no caminho nessa espécie de quitanda improvisada de taipa que tinha uma área aberta coberta com um pouco de grama e matinhos no terreiro.

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Vi algo aproximar-se sorrateiramente (e rapidamente) em minha direção. O susto foi grande. O bichinho era uma cobra coral que tinha más intenções contra a minha pessoa. A proprietária do local agiu rapidamente, exterminando o aninal. Sei que é um crime ambiental, mas, à época, não havia consciência ecológica e, até hoje, ainda considero aquela senhora desconhecida como uma heroína.

A vida segue e já entrando pela adolescência passei dos combates terrestres para batalhas aéreas. Nunca esquecerei de dois duelos com maribondos na adolescência. Eram daqueles vermelhos grandes, que atuavam em verdadeiras esquadrilhas e costumam viver em moradias dependuradas nos beirais dos telhados. A primeira má experiência eu tinha uns 12 anos e estudava na Escola Estadual Olivina Olívia Carneiro da Cunha, ali vizinho do Liceu Paraibano.

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O fato é que eu era só uma testemunha ocular do ataque dos meninos que acontecia na área por trás da escola antes da aula de Educação Física. Eles jogavam bolas de papel recheadas de areia com o intuito de destruir as casas dos marimbondos. Em um contra-ataque um maribondo desceu visando um atirador de bolotas de papel. O menino foi rápido e desviou. O marimbondo seguiu reto na ação ofensiva e acertou o canto do meu olho direito, na junção com o nariz. Em meio a dor, matei-o espremido na mão enquanto sentia o ferrão penetrar a carne e a alma. O desfecho foi um olho inchado e a liberação da aula.

No segundo combate eu já havia passado de espectador para inimigo declarado dos marimbondos vermelhos. Eu tinha uns 15 anos e a ação se passou na lateral da casa onde morava. Fui impedir o bicho (aliás, os bichos, pois eram vários) de montar uma moradia no teto. Enquanto eu lutava de vassoura em punho com um deles, outro atacou pela lateral num voo kamikaze, chocou-se com a ponta do meu nariz e encontrou a morte esmagado na minha mão. Imediatamente, como um caça alvejado, interrompi o confronto e corri para dentro em busca de alívio em alguma forma de álcool (o formato em gel ainda não era tão famoso).

Enquanto o nariz piscava estrelinhas e ia ficando vermelho como a dita rena de Papai Noel, eu vasculhava a cozinha. Até que achei na geladeira um "remédio" que me saiu milagroso, uma cachaça que meu pai havia comprado para fazer batida. Por ironia, ela era da marca Marimbondo, uma que tinha a tampa branca e rótulo de igual cor, com um desenho do bicho estampado. Não contei conversa. Derramei um pouco na mão e embriaguei o nariz. E não é que funcionou: ficou dolorido, mas o inchaço foi pequeno.

Se os primeiros encontros animais foram acidentais, nos dois últimos ficou a lição de nunca mexer com quem está quieto. Tratei de pô-la em prática pelo restante da vida.


Clóvis Roberto é jornalista e cronista

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