A memória guarda o ruído ensurdecedor, o cheiro da tinta emanada das entranhas de chapas de ferro, do monstro mecânico com uma estei...

A memória guarda o ruído ensurdecedor, o cheiro da tinta emanada das entranhas de chapas de ferro, do monstro mecânico com uma esteira lateral com os exemplares de papel jornal meio que vomitados de maneira organizada pela rotativa. Estacionada em um espaço grande, a estrutura lembrava a máquina cheia de engrenagens que engoliu Carlitos no clássico “Tempo Modernos” do genial e sempre atual Charles Chaplin.

Duas avós num mesmo trecho de calçada. Quantos meninos tiveram essa boa sorte? Quantos desfrutaram do carinho simultâneo daquelas que e...

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Duas avós num mesmo trecho de calçada. Quantos meninos tiveram essa boa sorte? Quantos desfrutaram do carinho simultâneo daquelas que embalaram com o mesmo desvelo as próprias crias e os rebentos que estas trouxeram ao mundo?

Tive tal ventura ao alcance de poucos passos. Cinco casas interpunham-se entre a da Vó Amélia, mãe da minha mãe, e a da Vó Sole, como resumíamos a doce Soledade, de quem meu pai nasceu. De uma, os melhores suspiros da minha vida, crocantes, com cheiro e gosto de limão. E com um mel que escorria do miolo ao derreterem na boca. Da outra, os pirulitos de maracujá tão deliciosos

24 de agosto de 2022. 2 horas da tarde de uma quarta-feira ainda tão próxima. O pomar da Casa de Zé alimenta e rege as belas cores d...

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24 de agosto de 2022. 2 horas da tarde de uma quarta-feira ainda tão próxima. O pomar da Casa de Zé alimenta e rege as belas cores da paisagem para receber especiais convidados, que se dirigiram até à esplendorosa praia do Cabo Branco, com o objetivo comum de acompanhar, debater e conviver com expressivos gestos e acenos desenhados por nossa singela e singular cultura popular.

escrever/não escrever escrever é um suicídio branco. um consumir-se no fogo brando das palavras. não escrever, um sui...


escrever/não escrever
escrever é um suicídio branco. um consumir-se no fogo brando das palavras. não escrever, um suicídio em branco. um consumar-se sem metáforas.
relações humanas
naquela época ainda não existia garrafa térmica tanto que acordava a preta velha noite adentro para fazer-lhe café café café café e então a preta velha passou a ser uma garrafa térmica

Por que haverias tu de esquecer o amor? É o que te pergunto enquanto, mergulhada no silêncio ameno da tarde, penso em ti após ler a t...

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Por que haverias tu de esquecer o amor?

É o que te pergunto enquanto, mergulhada no silêncio ameno da tarde, penso em ti após ler a tua mensagem.

Dizes que abres as tuas gavetas de alma e não gostas do que encontras. Talvez por isso eu perceba a tua tristeza.

Falas que tuas atitudes, palavras e ações mostram orgulho, autoritarismo, prepotência, intolerante juízo e, em alguns momentos, até uma certa maldade. Lamentas as mágoas, culpas, raivas e rancores

"Pai nosso que estás no céu”… Quantas vezes esta frase se repete, em tantos idiomas, em tantas ocasiões, por este mundo afora. Mun...

"Pai nosso que estás no céu”… Quantas vezes esta frase se repete, em tantos idiomas, em tantas ocasiões, por este mundo afora. Mundo tão pequeno e insignificante, um pontinho de nada, solto na vastidão cósmica de tantas galáxias. Pai nosso, Criador e Criatura, mundo nosso, de tudo o que existe, de onde viemos e voltamos, há tantos milhões de anos. Pai nosso que estás no céu… Em todos os céus, na terra, em cima, em baixo; tudo é céu nos espaços do Universo! Céu que se vê e que não se vê, microscópico e macroscópico, material e imaterial.

Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas ...

Uma das minhas antigas quizilas com a crítica literária sempre foi a de não encontrar o cronista Genolino Amado entre os elencados nas antologias brasileiras do gênero. O cronista que chegava a nossas páginas para adoçar as noites compridas do revisor em A União, mesmo já iniciado nas “Sombras que Sofrem” de Humberto de Campos, da biblioteca de Alagoa Nova (ia dizendo bibliotequinha de A. Nova - que injustiça, que grossa ingratidão!).

Três escritores da Paraíba nascidos em engenho construíram espaço na história da literatura brasileira. Augusto dos Anjos...

Três escritores da Paraíba nascidos em engenho construíram espaço na história da literatura brasileira. Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida e José Lins do Rego, cada um a seu tempo, com modos poéticos, abordam em suas obras o que observaram e sentiram no mundo dos canaviais.

Os três meninos de engenho carregavam a sina de terem vivido ao florescer da idade à sombra dos canaviais, foram alimentados pelo cheiro do mel cozido no tacho, inalaram o azedo da garapa e beberam da água que escorria pelos regos do Brejo de Areia e das várzeas do Rio Paraíba. Ao seu modo, o trio descreveu a vida no meio rural como a sentiram e conheceram.

      Por todas as mulheres O grito agora transformou-se em mantra Contra os ruídos na comunicação E os hieróglifos de uma ...

 
 
 
Por todas as mulheres
O grito agora transformou-se em mantra Contra os ruídos na comunicação E os hieróglifos de uma bizarra língua. Por que aviltar a sua própria espécie? A verdade está acima da arrogância E o novo tempo, mal começou. Ser mulher é a ousadia mais libertária! Mesmo passando pela mesa de pedra Em um mundo de deuses opressores. Eis que surge das cinzas nova Eva Que dispensa maçãs oferecidas Sem esconder-se da sua própria nudez.

Em verdade, somos sempre enfermeiros e médicos uns dos outros. Ao ler o que o outro escreve, ao prestar atenção em seus posicionamento...

Em verdade, somos sempre enfermeiros e médicos uns dos outros. Ao ler o que o outro escreve, ao prestar atenção em seus posicionamentos, muitas vezes equivocados, segundo nossa perspectiva, ao agirmos com cautela e educação, quando em alguns momentos sentimos um impulso de mandar tudo às favas, já estamos cuidando do coração um do outro... Tentando não melindrá-lo, não feri-lo em sua integridade psicológica, eis que estamos sempre aprendendo uns com os outros...

Ele chegou para a mulher e disse: ⏤ Luísa, não dá mais. ⏤ O quê!? Como assim? ⏤ Desculpe... Eu me esforcei, mas sinto que chegue...

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Ele chegou para a mulher e disse:
⏤ Luísa, não dá mais.
⏤ O quê!? Como assim?
⏤ Desculpe... Eu me esforcei, mas sinto que cheguei ao limite da minha resistência.
⏤ Tem certeza? Na nossa última conversa você disse que ia continuar insistindo... por nós dois.
⏤ Eu falei isso mais pra te consolar. Não queria que você se decepcionasse nem perdesse a esperança. Muito menos lhe causar constrangimento.

As pedras baleias presentes na natureza da Tailândia, são formações rochosas de 75 milhões de anos e hoje servem de escultura a céu abe...

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As pedras baleias presentes na natureza da Tailândia, são formações rochosas de 75 milhões de anos e hoje servem de escultura a céu aberto para que turistas aventureiros sintam a presença familiar desses mamíferos gigantes, modelo de união entre os seus e beleza descomunal. Trazem reflexão a quem, com pés firmes, pode sentir a segurança e solidez daquele espetáculo, esculpidos pelo tempo e pelas coisas que brotam da esfera azul a que pertencemos. Nos lembram um cemitério a céu aberto, pois não se movem, e petrificadas simbolizam algo que esteve vivo um dia.

“ Eu, filho do carbono e do amoníaco ” (Augusto dos Anjos) Sou leitora do cronista maior/amor, Gonzaga Rodrigues , e acompanho os s...

Eu, filho do carbono e do amoníaco
(Augusto dos Anjos)

Sou leitora do cronista maior/amor, Gonzaga Rodrigues, e acompanho os seus escritos sobre as suas perdas: dos amigos, das ruas, da cidade, e do tempo. Já vivo tudo isso e ainda há uma margem de poucos anos menos que ele. Nessa pandemia então, perdi amigos, conhecidos, contemporâneos e com eles, lá se foi um pouco de mim também. E a cidade? Estou igual à minha mãe que, por onde passava, apontava os moradores de cada casa. Eu hoje faço o mesmo. Aqui morava fulana; ali, beltrana. Aquela casa era aonde eu ia estudar com Maria, aquela outra onde eu namorava com João; lá mais adiante conversava com as amigas. E quando passo pelos bairros centrais, mesmo aqui pela praia, já não re-conheço minha cidade. Prédios e prédios tomaram os lugares das casas da minha cidade. João Pessoa cresceu e transfigurou-se. O tempo!

Cronista inspira cronista. Acontece muito. A gente lê uma crônica de outro autor e se sente tentado a abordar tema semelhante ou pareci...

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Cronista inspira cronista. Acontece muito. A gente lê uma crônica de outro autor e se sente tentado a abordar tema semelhante ou parecido sob ótica diferente – a nossa. E desse processo, diga-se, têm resultado, não raro, bons textos; às vezes, até melhores que os originais. Isso vai muito na linha de que em literatura nada se cria de verdadeiramente novo desde os gregos e Shakespeare, o que é verdade, penso eu. Não se trata de plágio, claro, mas apenas de dar um outro enfoque ao assunto. Muitas vezes, toma-se apenas um pequeno detalhe, uma rápida passagem, uma mera citação do texto original, e, partir dali, cria-se um cenário novo, um olhar distinto, uma escritura que nada – ou muito pouco – tem com o ponto de partida.

Paraíba, 28 de agosto de 2022

Paraíba, 28 de agosto de 2022

Escutei o soar do triângulo e corri a ver. Carregando ao lado do ombro um tambor, avisando a passagem pela rua dominical de uma saudad...

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Escutei o soar do triângulo e corri a ver. Carregando ao lado do ombro um tambor, avisando a passagem pela rua dominical de uma saudade da infância. Aquela sonoridade que acabou, pensava eu, volta resistente pelo corredor despido de pessoas, naquela tarde fagueira sem laranjais.