Três escritores da Paraíba nascidos em engenho construíram espaço na história da literatura brasileira. Augusto dos Anjos, José Américo de Almeida e José Lins do Rego, cada um a seu tempo, com modos poéticos, abordam em suas obras o que observaram e sentiram no mundo dos canaviais.
Os três meninos de engenho carregavam a sina de terem vivido ao florescer da idade à sombra dos canaviais, foram alimentados pelo cheiro do mel cozido no tacho, inalaram o azedo da garapa e beberam da água que escorria pelos regos do Brejo de Areia e das várzeas do Rio Paraíba. Ao seu modo, o trio descreveu a vida no meio rural como a sentiram e conheceram.
Os três meninos de engenho carregavam a sina de terem vivido ao florescer da idade à sombra dos canaviais, foram alimentados pelo cheiro do mel cozido no tacho, inalaram o azedo da garapa e beberam da água que escorria pelos regos do Brejo de Areia e das várzeas do Rio Paraíba. Ao seu modo, o trio descreveu a vida no meio rural como a sentiram e conheceram.
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Estes filhos da nobreza dos engenhos nascidos no final do século XIX e início do seguinte, cada um com seu estilo, descreveram a paisagem telúrica do mundo que carregavam.
Augusto, em muitos dos seus versos, que estão entre os mais sublimes da poesia universal, revelou a tristeza do menino criado aos afagos da ama de leite. Seu pai, um homem de avantajada cultura, quando a Monarquia ainda respirava, indo morar nas terras do engenho Pau-d’arco, em Cruz do Espírito Santo, em cujas terras hoje pertencem ao município de Sapé, presenciou a economia canavieira definhar. Depois libertação dos escravos, a família viveu no que restava da nobreza rural após o apogeu da atividade canavieira nas várzeas do Paraíba.
Rodeado de livros, com refulgente reputação nos centros de saberes jurídicos, filosóficos e literários do Recife aristocrático, sentava à sombra do tamarindo para falar ao filho sobre os latinos, os clássicos, de matemática, de física e de filósofos com intimidade. Assim, silencioso, o menino passeava por outras culturas e conhecia outros povos.
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Portanto, são três meninos de engenhos criados em mundos com costumes diferentes. Mesmo em paisagens assemelhadas, o trio, ao seu tempo, presenciou a queda do patrimônio financeiro que há décadas mantinha a família na opulência.
O pai de Augusto dos Anjos vivia derreado pelo saber, habitava o mundo dos pensadores, buscava respostas para as inquietações da alma. A família de José Lins, sobretudo o avô, olhava para o que produzia os engenhos e se preocupava com o acesso ao poder político. O que não diferenciava de José Américo, que escutava falar dos dois engenhos do pai, enquanto olhava para a paisagem humana do lugar.
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Poeta alimentado pela dor que o rodeava, Augusto disse num dos seus poemas que o engenho era o mais triste de todos.
José Lins foi um menino solto, que andava descalço pela bagaceira, tomava banho de rio, se misturava com os moleques do eito. Era alegre, por isso escreveu com alegria, ao contrário do conterrâneo poeta.
José Américo sempre recordava as poucas imagens que guardou dos engenhos, porque parte de sua infância viveu na casa do tio padre, mesmo sendo Areia uma cidade com aspecto rural. Talvez porque conviveu com os modos seletivos de boas maneiras na casa do parente, se tornou um menino calado, e, adulto, econômico em palavras. Refletivo ao expor suas ideias e tomada de atitudes. Modos que fizeram dele uma referência na política e na literatura.
Todos os três escritores nascidos em engenhos falaram do sentimento do povo, porque buscaram na alma o que existe de mais grandioso como expressão da emoção, e fizeram suas as dores dos outros. As dores que souberam apregoar com arte nos versos e nos romances que escreveram.